domingo, 27 de fevereiro de 2022

Seu Ed

domingo, fevereiro 27, 2022 4
Foto por Yu Jinyang, via Unsplash.


Ali estava ele: cadeira em frente à porta, pernas cruzadas, coluna ereta, revista de cruzadinha no colo e uma Bic preta nas mãos. De dentro do quarto saía o som da TV, com a voz do Datena, invadindo o corredor contando sobre o caos que as tempestades de verão sempre causam na cidade de São Paulo.

Todos os dias, a rotina era a mesma: no fim da tarde, eu ia até o hospital visitar a minha irmã que estava internada e, entre uma caminhadinha e outra, passei a acenar para (e depois cumprimentar) o simpático senhor do corredor.

A cada ida e vinda, reparava em um detalhe diferente: a corrente no pescoço, a camisa de pijama semiaberta, a falta de quatro dedos na mão direita, sendo o único inteiro justo o do meio. História. Aquele homem tinha muita história para contar.

A quebra do gelo surgiu um dia, quando meu pai brincou, chamando-o de segurança do andar:

— Já assumiu o posto?

— Opa! Claro!

Foi assim que soubemos que aquele era o senhor Edson, que eu, automaticamente, passei a chamar de Seu Ed. Não sabia o que o tinha levado à internação, mas isso foi irrelevante para que a gente estabelecesse um pequeno laço de amizade. Entre um “boa tarde” e outro, descobrimos que temos um ponto em comum: o amor profundo pela comilança sem fim.

Minha irmã estava no hospital preocupada com os quatro quilos adquiridos em sua internação. Enquanto ela negociava com a nutricionista, tentando diminuir a quantidade diária de calorias ingeridas e negando dois dos três pães que lhe eram servidos, lá estava o seu Ed, defensor eterno do “quanto mais rango melhor”.

Foto por Charles Chen, via Unsplash.


Certo dia, no vai e vem do corredor com a minha irmã, vi três marmitas, quatro pães e três copos de café com leite na bancada do quarto do seu Edson. Ele riu ao ler a expressão assustada no meu rosto:

— Seu Ed, mas o senhor dá conta de comer tudo isso?

— Opa! Levanto meia-noite, três da manhã, e rapo tudo.

— Mas a comida esfria, não?

— E eu lá ligo?

O sorriso era desdentado, mas genuinamente feliz.

***

Tudo mudou numa quarta-feira, quando entrei no hospital e me deparei com o corredor vazio. Fui recebida pela minha irmã — um tanto cabisbaixa — me informando que o Seu Ed tinha se dado alta.

— E pode isso?

— Ah, os médicos queriam ele aqui, mas ele preferiu ir embora, disse que ia atrás da comida de uma moça que ele chamou de Baiana.


Sábio é o seu Ed que busca experimentar todos os sabores da vida.

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Retrô mensal #14: fevereiro/2022

quinta-feira, fevereiro 24, 2022 6
Fevereiro e seu piscar de olhos! (Foto por STIL, via Unsplash)


Meu Deus! Parece que foi ontem que eu fiz a retrô de janeiro e já estamos aqui reunidos falando de como foi o mês de fevereiro. Que loucura! Tudo passou voando por aí também ou foi só aqui?

#Retrô de boa

Mila e eu :)


  • Volta às aulas: minhas férias acabaram e foi ótimo poder retornar às atividades com os meus alunos e alunas. Além do Grupo de Estudos de Escrita e Crítica Literária, os escritores Diego Alves e Nathália Barreto começaram as mentorias deles comigo, então, em breve, teremos textos incríveis sendo publicados por aí.
  • Minha aluna publicada: por falar nisso, Marina Maiante, que fez a mentoria comigo e que entrou no Grupo de Estudos, teve o livro dela aceito pela Editora Penalux e vai ser publicada! Estou muito feliz com essa notícia. Para quem quiser saber mais sobre a obra e os eventos de lançamento, basta seguir a Mari no Instagram.
Cookies delícias da Mama Comparini :) 

  • Reencontrei a Mila: depois de tanto tempo pandêmico foi ótimo rever uma amiga-irmã tão querida e passar uma tarde inteira comendo e conversando como se não houvesse amanhã. É muito gostoso saber que tenho uma amizade de mais de duas décadas que é cheia de amor, que não tem cobrança, que pode passar o tempo que for e os encontros vão me deixar com aquela sensação de "parece que a gente se viu ontem". Além disso, a mãe dela me mandou cookies de presente. Ela tem uma loja incrível, a Mama Comparini, que vocês podem conferir aqui
  • O Algumas Observações renovou a parceria com o Grupo Editorial Pensamento: como contei para vocês neste post, será o terceiro ano de parceria e eu estou feliz demais! yay!
  • Voltei a editar o livro novo: estou com o livro novo escrito desde meados de agosto do ano passado. Ele havia passado por uma primeira revisão e eu não tinha parado para ver o que a revisora tinha apontado de sugestões e mudanças. Aproveitei o meu tempo de férias justamente para tentar compreender o motivo de tanta enrolação da minha parte. Não foi um processo fácil, mas valeu a pena, pois voltei ao que interessa: o meu trabalho.

#Retrô para melhorar

  • Emocional: fevereiro foi um mês bem desafiador nesse sentido. Eu sempre tenho que me lembrar de que eu não sou responsável por resolver os problemas dos outros, principalmente quando os outros escolheram embarcar nesses problemas.

No Algumas Observações

Posso dizer que estou muito orgulhosa de mim por ter conseguido cumprir o calendário editorial que me propus fazer? Porque, olha, eu estou bem orgulhosa MESMO!

Reunião de parceria do Grupo Editorial Pensamento.


Em março nos despedimos do verão. Quais são os seus planos para a chegada do outono? :)
Me conte nos comentários! 

Nos vemos por aí. Beijos e queijos :*


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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

{Resenha} Mostre seu trabalho!, de Austin Kleon

terça-feira, fevereiro 22, 2022 8
Venha conhecer o Mostre seu trabalho :)


"O medo é muitas vezes apenas a imaginação fazendo uma curva errada". 
(Austin Kleon, em: Mostre seu trabalho! — Página 151)

Você é um artista. Produz literatura, fotografia, ilustrações, vende docinhos e pães caseiros, faz artesanato. Você também sempre quis viver disso. Mas você tem medo de se expor, de que roubem a sua ideia. Ou você é tímido e detesta as redes sociais. Ou apenas não sabe muito bem por onde começar. Em Mostre seu trabalho! 10 maneiras de compartilhar sua criatividade e ser descoberto, Austin Kleon apresenta reflexões e alternativas para vencer estas barreiras e espalhar o trabalho para o mundo.

Assim como em Roube como um artista, o Mostre seu trabalho! está estruturado em 10 capítulos que têm como objetivo a construção e a divulgação de uma carreira profissional a longo prazo. Para Kleon, "o trabalho não fala por si" (página 90), sendo assim, é importante que as pessoas se tornem boas no que fazem. Entretanto, só isso não basta.

Aproveitando, você sabia que eu tenho textos em todos os livros da foto?
Você pode ler a apresentação de cada um deles clicando aqui.
O caderno em branco está pronto para mais!


O ato de compartilhar enquanto faz deve ser parte da rotina de qualquer artista. Isso é defendido seja no capítulo sobre não se um gênio, passando por pensar em processo, no focado em compartilhar um pouco todos os dias, no sobre contar boas histórias e no que Kleon fala sobre ensinar o que se sabe  coisa que ele faz ao longo do livro como um todo. Além disso, o autor é muito sábio ao trazer o outro lado da moeda: nem tudo são flores e não se pode entrar nesta arena sendo um spam humano ou sem aprender a apanhar das críticas.

O livro inteiro tem citações de artistas importantes e exemplos de como colocar tudo o que é dito em prática. Ler a obra é como se estivéssemos conversando com o autor. Saímos da leitura cheios de ideias de como divulgar o nosso próprio trabalho e querendo colocá-las em prática.


A capa do livro também foi idealizada pelo Kleon.


Livro: Mostre seu trabalho! 10 maneiras de compartilhar sua criatividade e ser descoberto
Título original: Show your work! 10 ways to share your creativity and get discovered
Autor: Austin Kleon
Tradução: Isabel W. De Nonno
Editora: Rocco
Páginas: 244
Sinopse: O MUNDO ESTÁ ESPERANDO. No best-seller Roube como um artista, Austin Kleon deu aos leitores a chave para o desbloqueio da criatividade, ensinando a saber “roubar” as ideias mais interessantes e produtivas de seus influenciadores. Agora, o autor mostra o próximo passo crucial desta jornada criativa: como tornar seu trabalho conhecido. Mostre seu trabalho! explica porque por que a generosidade supera a genialidade. Por que nossa capacidade de estar acessível e de saber usar nossas próprias redes pode ser mais importante do que um simples “networking”. Apostando mais na autodescoberta do que na autopromoção, o livro é um manifesto inspirador para o sucesso como artista ou empreendedor na era digital. Repleto de ilustrações, citações, histórias e ótimos exemplos, Mostre seu trabalho! oferece dez regras transformadoras para que sejamos mais abertos, corajosos e produtivos. Em capítulos dinâmicos e objetivos, Kleon propõe um fim definitivo ao já desgastado (e contraproducente) mito do gênio solitário, ao propor uma maior participação externa em seu processo criativo e artístico – para que, em outras palavras, todos possam “roubar” de você também.

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domingo, 20 de fevereiro de 2022

Notas sobre aquela árvore

domingo, fevereiro 20, 2022 9
Foto por Jeremy Bishop, via Unsplash.


Ninguém falava sobre aquela árvore. Antiga, quase centenária, já fazia parte da paisagem urbana há tanto tempo, que as pessoas quase não a viam mais, e eu, que passei praticamente trinta anos admirando-a, também faço mea-culpa por não saber a sua espécie, o seu nome. O que posso dizer é que ela era velha e alta, mais alta do que a caixa d’água da SABESP — aquela, que ficou famosa nos anos 90, porque dois meninos resolveram nadar nela e morreram sugados pelo cano de distribuição de água no bairro.

Aquela árvore ganhava da caixa d’água em altura, em largura, em frondosidade. No outono, suas folhas caíam amareladas, forrando o chão do terreno da SABESP e a calçada fora dele. Na primavera, os passarinhos nela faziam seus lares, abrigando os filhotes recém-nascidos. Era comum ouvir os sabiás e os bem-te-vis cantando. Era bonito revê-los, ano após ano, voando para lá e para cá. Foi justamente numa dessas idas e vindas — minhas, não dos pássaros — que entrei em estado de choque.

A árvore, aquela árvore, não estava mais ali. No chão, o resquício de que ela havia sido cortada rente ao solo, restando apenas o vazio, dando vista à caixa d’água de reboco desgastado pelo tempo. Depois de anos de altivez, a árvore se foi.

Talvez, tenha soltado um grito ou feito uma careta, porque a mulher que estava no ponto de ônibus me olhou assustada. Mas como aceitar que alguém foi capaz de derrubar uma árvore que, no mínimo, era mais velha que os meus pais?

No pequeno resquício no chão, a madeira estava esfarelada, como se fosse morada para cupins. Talvez tenha sido a generosidade de aceitar todas as espécies de criaturas que a tenha posto ao chão. Foi o amor que a derrubou, enfim.

Nada será como antes.

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Parceria renovada: Grupo Editorial Pensamento

quarta-feira, fevereiro 16, 2022 11
A Editora Pensamento é parceira do Algumas Observações.


Desde 2020 o Algumas Observações é parceiro do Grupo Editorial Pensamento. No início de fevereiro, recebi a feliz notícia de que continuaremos juntos por mais um ano! YAY! Sempre que uma parceria é renovada, dá um quentinho no coração de saber que o meu trabalho está indo no caminho certo. É muito bacana para mim poder compartilhar desta jornada com vocês! 😊


Selo de parceria

Você já conhece o Grupo Editorial Pensamento?

Acho que uma das coisas que me chama a atenção é que o Grupo Editorial Pensamento tem mais de cem anos, acredita? A editora foi fundada em 1907, por Antônio Olivio Rodrigues. Desde então, o catálogo tem mais de mil títulos ativos.



O Grupo se divide em quatro selos: Pensamento, Cultrix, Seoman e Jangada e conta com autores renomados nacional e internacionalmente. Dentre eles: Helena Blavatsky, Fritjof Capra, Gregg Braden, Bert Hellinger Lourenço Prado, Yogananda, Osho, Barbara Brennan, Éliphas Levi, Jorge Adoum, Augusto Curry, Alfredo Bosi, Massaus Moisés, Mirella Faur, André Mantovanni, Lúcia Helena Galvão e Patricia Gebrim.

No vídeo abaixo, há mais informações sobre a editora: 


Livraria Grupo Editorial Pensamento

Quem quiser conhecer o Grupo Editorial Pensamento mais de perto, pode dar um pulo na livraria da editora. Ela está localizada no seguinte endereço:

R. Dr. Mario Vicente, 374 
Vila São José (Ipiranga)
São Paulo - SP. 
CEP: 04270-000

 

Grupo Editorial Pensamento e o Algumas Observações


Se você chegou por aqui há pouco tempo, talvez não tenha visto algumas das resenhas que publiquei ao longo destes anos de parceria, então deixo os livros resenhados listados/linkados abaixo: 
Desde já, deixo o meu agradecimento a todos da editora, que sempre acolheu o meu trabalho com tanto carinho! 💙💛

Quer saber o que virá desta parceria em 2022?
Continue acompanhando as postagens aqui do blog.

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A Intermitência das Coisas nas bibliotecas públicas de São Paulo

terça-feira, fevereiro 15, 2022 6


Em junho de 2019, publiquei o meu primeiro livro A Intermitência das Coisas: sobre o que há entre o vazio e o caos, pela Editora Penalux. Desde então, tive exemplares que foram para leitores de várias partes do Brasil e do mundo algo que me deixa muito honrada! :)

Como escritora, quero ver o meu livro ganhando cada vez mais leitores e uma forma honesta de ver isso acontecendo é tendo os meus exemplares em bibliotecas. Sendo assim, escrever este post tem sido muito bacana porque é legal saber que há livros meus em quatro grandes bibliotecas da minha cidade! 

Meu livro na estante de entrada da Biblioteca Paulo Duarte. 💙

O que é preciso para pegar um livro emprestado no sistema municipal de bibliotecas de São Paulo?

Qualquer pessoa pode se cadastrar para realizar um empréstimo e o sistema municipal é integrado (com a mesma carteirinha, o leitor pode pegar livros em todas as bibliotecas municipais). Não há limite de idade ou de escolaridade para fazer o cadastro. 

Para realizar o cadastro é preciso levar um documento de identificação (Certidão de Nascimento, Carteira de Identidade - RG, Carteira de Trabalho, Carteira de Conselho Profissional, Carteira de Motorista, Certificado de Reservista ou Passaporte) e um comprovante de residência emitido nos últimos três meses (com o nome do leitor, dos pais ou do cônjuge). Pessoas albergadas devem apresentar uma declaração emitida por Assistente Social do albergue.

A carteirinha é válida por um ano a partir da data de emissão.

Para saber mais de todas as regras dos empréstimos, basta clicar aqui

Onde fazer o empréstimo do A Intermitência das Coisas?

Se você mora em São Paulo e quiser pegar um exemplar do A Intermitência das Coisas emprestado, pode ir até as bibliotecas listadas abaixo. Para saber se o exemplar está disponível, basta clicar aqui para realizar a consulta.

Alceu Amoroso Lima (Temática em Poesias)

Rua Henrique Schaumann, 777 
Pinheiros, São Paulo - SP
CEP: 05413-021


Centro Cultural São Paulo - Biblioteca Sérgio Milliet

Rua Vergueiro, 1000 
Liberdade, São Paulo - SP
CEP: 01504-000

A biblioteca fica dentro do CCSP. A estação de metrô mais próxima (literalmente ao lado do Centro Cultural) é a Vergueiro, da Linha 1-Azul.


Biblioteca Mário de Andrade

Rua da Consolação, 94 
República, São Paulo - SP
CEP: 01302-000

As estações de metrô mais próximas são a Anhangabaú (Linha 3-Vermelha) ou a República (Linha 3-Vermelha e Linha 4-Amarela). Há muitas linhas de ônibus que passam por lá.


Biblioteca Paulo Duarte (Temática em Estudos afro-brasileiros)

Rua Arsênio Tavolieri, 45 
Jardim Oriental, São Paulo - SP
CEP: 04321-030

A biblioteca é bem próxima à estação Jabaquara (Linha 1-Azul do metrô), ao lado do Hospital Saboya.


E se eu quiser comprar o livro?

Meu livro passeando por Paraty. 💙


Se você quiser ter um exemplar para sempre, há várias formas de comprar o livro. Você pode adquiri-lo pelo site da Editora Penalux, na Amazon, na Americanas, no Submarino. Esses envios são feitos direto pela editora e não passam por mim.

Caso você queira o livro autografado e com marcadores, pode comprar diretamente comigo. Essas encomendas podem ser feitas pela loja do Algumas Observações, pela DM do meu Instagram ou via e-mail: contato@algumasobservacoes.com. 

Espero que vocês leiam, gostem, recomendem! Saber que vocês me leem em livro é sempre muito feliz.
(E aguardem novidades, porque logo teremos mais lançamentos! 😉)
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domingo, 13 de fevereiro de 2022

Minicrônica sobre o amor

domingo, fevereiro 13, 2022 11
Foto por Priscilla Du Preez, via Unsplash.



Os livros de psicologia, a polícia investigativa, os testes de Internet, as palavras dos horóscopos, nenhum deles consegue mensurar o sentimento crescente. Eles não dão conta de traduzir em palavras tanto amor.

O sorriso tenta externar o coração que pulsa e a expectativa dos nossos olhares se cruzarem novamente pelas ruas da cidade. Se a felicidade virá, só Deus sabe, mas como eu te quero. Ah, como te quero!

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

{Vamos falar sobre escrita?} 7 dicas de como escrever mais em 2022

quinta-feira, fevereiro 10, 2022 9

Quem está pronto para escrever mais um livro, levante a mão! 🙋🏽‍♀️
Foto por Aman Upadhyay, via Unsplash.


Os dois últimos anos foram bem desafiadores para muitos escritores. Primeiro, porque ficamos confinados por muito temo em casa, em frente às telas, o que nos deixou mais exaustos do que de costume. Segundo, porque a escrita depende da vida e esses tempos suspensos deram a sensação justamente de que tudo estava em pausa. Como buscar novas histórias, novos versos quando até a concentração para tudo ficou um tanto comprometida?

Dica #1: Leia mais livros

O tempo da leitura é um tempo roubado. | Meu exemplar do Como um romance.


Pode parecer que essa dica é mais do mesmo, mas o foco anda escasso e a criatividade também. É nessas horas que a leitura pode nos ajudar a treinar passar mais tempo em longas tarefas e a nos servir de referências para novos textos. Enquanto a pandemia anda se espalhando e transitar pelo mundo continua cheio de complicações, a leitura também é um meio seguro e eficiente de buscar novas inspirações.

Daniel Pennac diz, no livro Como um romance (resenha aqui), que o tempo da leitura é um tempo roubado. Sendo assim, é fundamental ampliar esse tempo de “roubo” para ler aquele livro que nos inspira (seja ele do gênero textual que escrevemos ou não).

Dica #2: Busque outras fontes de boas histórias

Foto por Maico Pereira, via Unsplash.


Galerias de arte (virtuais e gratuitas no Google Arts & Culture ou presenciais), fotografias, vídeos musicais, documentários, filmes, videogames são todas grandes fontes de narrativas. Então, além de livros, é importante consumir mais narrativas, preferencialmente produzidas por pessoas de diferentes gêneros, culturas e recortes sociais.

Somado a isso, converse com as pessoas com o objetivo de ouvi-las (não de ter uma resposta para tudo o que elas disserem). Pergunte a um idoso como foi o seu primeiro amor, sua primeira frustração ou qualquer outra coisa que possa suscitar boas histórias. Ouça e aprenda com elas.

Dica #3: Crie uma rotina

Foto por Content Pixie, via Unsplash.


Se for possível para a sua realidade, crie uma rotina de escrita. Pode ser escrever todos os dias, escrever no fim de semana, escrever um número X de páginas. Isso ajuda a mensurar se o trabalho está andando ou não se se você precisa readaptar o seu modo de trabalho como escritor. Considere nessa rotina não só a escrita em si, mas tempo de leitura, de escrita, de revisão, de planejamento editorial, de divulgação do livro e tudo mais que estiver relacionado ao trabalho.

Dica #4: Não martirize se sair da rotina criada

Foto por Annie Spratt, via Unsplash.


Às vezes nós criamos um plano na nossa cabeça: “vou acordar no dia tal, horário tal, vou sentar e escrever tantas páginas por dia”. Nesse plano, somos o escritor exemplar, sem defeitos. Então, o tal dia chega, e não conseguimos sentar no tal horário. Quando finalmente separamos um tempinho para escrever, não conseguimos produzir as tantas páginas. Isso traz um desânimo que leva a desistência, afinal, o escritor perfeito falhou miseravelmente.

Ter planos e constância é importante. Vencer a resistência que nos leva à procrastinação, também (por isso a dica anterior). Mas é fundamental ter em mente o velho mantra de quem trabalha com produtividade: “feito é melhor que perfeito”. O momento ideal, muitas vezes vai precisar de alguns muitos ajustes para existir. Então, assim como nós devemos roubar o tempo da leitura, também será necessário que roubemos o da escrita.

Se não deu para seguir o plano perfeito, então como podemos ter um plano B, que nos leve a uma escrita que seja, de fato, feita?

Dica #5: Escreva sobre o que te move

Foto por Siora Photography, via Unsplash.


Não. Não adianta olhar qual é o tipo de livro que aparece nas listas dos mais vendidos e focar em algo parecido, se você detesta esse algo parecido. A escrita de um livro é como a de um TCC — ou você mergulha de cabeça num tema que você ama, ou a probabilidade de não dar certo é gigantesca.

Escreva sobre o te move (e essa força motriz pode ser a do amor, a do ódio, a da repulsa, a da empatia ou qualquer outra — desde que ela te mova!) e você não só escreverá um livro, mas falará dele com tanta paixão que as pessoas ficarão curiosas para lê-lo!

Dica #6: E a autoconfiança, como anda?

Foto por Kelly Sikkema, via Unsplash.


Muitas vezes o que nos trava na hora de sentar e escrever não é falta de ideias, de tempo e de recursos. Muitas vezes, é o medo. Medo de se expor, medo de não ser lido, medo das críticas, medo de não dar conta da tarefa de colocar um livro no mundo. Medo se ser julgados por sermos escritores. Então, dizemos que não escrevemos porque estamos sem tempo/cansados/sem ideias/ou qualquer outra desculpa.

Acontece também de as pessoas ao nosso redor não compreendem bem a nossa profissão de escritor. De um lado, elas podem nos enxergar como seres iluminados sem defeitos, que escreve num piscar de olhos e que cria tudo o que quiser e que por isso vai chegar muito longe (e ser muito rico). Por outro lado, elas também podem achar que a nossa escrita não vai levar a lugar algum.

Tanto em um caso, quanto em outro, é possível que essas pessoas nos digam coisas que não condiz com a realidade real da nossa profissão. É preciso filtrar, para que nossa saúde mental não fique prejudicada. Filtrar o que ouvimos, trabalhar o senso de valor próprio, a autoconfiança, a autocompaixão, a forma de ver os erros como aprendizados e tudo aquilo que nos fortalece psicologicamente é fundamental para que possamos escrever. Se nossa mente estiver equilibrada, desempenhar tarefas — seja a escrita ou qualquer outra — ficará muito mais fácil.

Dica #7: E o corpo, como anda?

Foto por Chris Hardy, via Unsplash.


Dormiu bem? Comeu? Está bem hidratado? Tem alguma dor? Não adianta sentar para escrever se você estiver cansado, com sede ou com fome. Se o seu corpo não estiver bem, isso vai influenciar na sua escrita. Então, na medida do possível, se organize para estar bem alimentado, deixe água por perto, tire uma soneca (caso não tenha tido uma noite de sono). De tempos em tempos, pare um pouco e se alongue (levante, mude de posição, veja algum vídeo de ginástica laboral e faça os exercícios). Muito tempo digitando pode causar lesões a longo prazo, então essa pausa é importante.

E agora?
Todo mundo pronto para colocar as ideias no papel?

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

{Vou por aí} Constelação Clarice — a exposição de Clarice Lispector no IMS

terça-feira, fevereiro 08, 2022 4
Vem visitar a Clarice Lispector comigo!


No final do ano passado, aproveitei que tinha acabado de me vacinar com a segunda dose (agora já tomei a terceira) para ir à exposição Constelação Clarice, instalada no Instituto Moreira Salles de São Paulo até 27 de fevereiro deste ano.

Mergulhar no universo artístico sempre é ganhar asas.


Esta mostra tem curadoria de Eucanaã Ferraz e Veronica Stigger (dois estudiosos de literatura) e apresenta ao público as múltiplas facetas de Clarice Lispector. Ali, é possível ver desde documentos pessoais, a manuscritos, pinturas e objetos pessoais da autora. Além disso, também são apresentadas obras de outras mulheres, também artistas visuais, contemporâneas de Clarice (que atuaram principalmente entre as décadas de 1940 e 1970).

As máquinas de escrever de Clarice Lispector e eu. :)


As músicas nos livros de Clarice.

Objetos da casa de Clarice Lispector.

Curriculum Vitae da Clarice Lispector
(sim, até ela teve que fazer um CV na vida!)


A exposição é muito bonita e muito interessante. Por conter cerca de 300 itens da vida da autora, ao visitá-la nos sentimos como se estivéssemos visitando a própria Clarice em sua completude: a escritora, a jornalista, a apreciadora de música, a pintora, a viajante, a mãe, a mulher. Nesse sentido, os dois andares em que a mostra está instalada nos serve de aconchego ao universo da autora e aproxima todos os tipos de leitores, desde os apaixonados aos que sempre disseram ter medo de ler Clarice e aos que ainda não mergulharam na obra dela.

Clarice Lispector na praia.



Algumas cadernetas de anotações.

Documentos da Clarice.

Cartas do Carlos Drummond de Andrade para a Clarice Lispector.

Quadros sem títulos — pintados por Clarice Lispector.

Quadros Pássaro da Liberdade e Ao amanhecer — pintados por Clarice Lispector.


Eu, particularmente, fiquei muito emocionada, porque sempre que dou aulas sobre processos criativos ou sobre literatura, mostro aos meus alunos fotos dos manuscritos da autora (como acontece na videoaula abaixo que elaborei com a Aline Caixeta). Vê-los ali, de verdade, me trouxe lágrimas (sou dessas) e me inspirou demais!

Aula sobre a crônica "A morte de uma baleia", lecionada por mim e pela Aline Caixeta.


Manuscrito de A hora da Estrela.

Manuscrito de A hora da Estrela.

Manuscrito de A hora da Estrela.


Antes que alguém venha aqui dizer "ai, mas que letra feia", vale dizer que o livro A hora da Estrela foi o último escrito por Clarice Lispector. Antes disso, ela sobreviveu a um incêndio em que teve a mão queimada. Esse acidente prejudicou muito os movimentos da mão da autora.

Eu embaixo de umas das muitas citações que permeiam as paredes da exposição.
Esta, retirada do livro Água viva.




As três imagens acima mostram documentos e fotos de quando a Clarice foi convidada a participar de um congresso de bruxaria, na Colômbia. Ela foi e apresentou um conto chamado "O ovo e a galinha".


Algo que muito me impressionou foi a parede com boa parte dos manuscritos do livro Um sopro de vida. Dá vontade (e eu fiz isso!) de ficar ali lendo palavra por palavra, de levar a versão final e comparar com cada trecho que está ali (isso não fiz, mas fotografei tudo para, quem sabe, fazê-lo um dia).

Manuscritos de Um sopro de vida.


"(Autor) Será que Angela sente que é um personagem? Porque, quanto a mim, sinto de vez em quando que sou o personagem de alguém. É incômodo ser os dois: eu para mim e eu para os outros." Manuscritos de Um sopro de vida.


"Solidão. Dessas solidões em que se quer inventar Deus e não se consegue"
Manuscritos de Um sopro de vida.


Neste post eu trouxe uma pequena mostra das mais de 200 fotos que eu tirei da exposição (se você quiser ver mais, diga nos comentários). O post é só para deixar aquela vontadezinha de conferir tudo com os próprios olhos. Se você estiver em São Paulo, visite e me conte o que achou!

Retrato de Clarice Lispector (por Claudia Andujar) e eu superfeliz por estar ali.

Já se você não estiver em São Paulo, ou quiser um spoiler desta lindeza, pode assistir ao vídeo do Instituto Moreira Salles com uma visita guiada pelo curador, Eucanaã Ferraz, pela exposição:


Constelação Clarice

De: 23/10/2021 a 27/2/2022
Quando: Terça a domingo e feriados (exceto segunda) das 10h às 20h. (Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.)

Galerias 1 e 2 — 6º e 7º andares
Avenida Paulista, 2424
São Paulo/SP 

Bem próximo às estações Consolação (linha 2 — verde) e Paulista (linha 4 — amarela) do metrô.
Entrada gratuita (mediante apresentação de certificado de vacinação, documento oficial com foto e uso correto de máscara).

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