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sábado, 18 de julho de 2020

Uma carta para você

sábado, julho 18, 2020 9
Imagem ilustrativa do post "Uma carta para você", do blog Algumas Observações. Nela, o livro "A Intermitência das Coisas" e um caderno aberto sobre a mesa.
(Imagem e texto por Fernanda Rodrigues)

Querido você,

gostaria de dizer que sinto muito. Sinto a ausência das caminhadas nas ruas, a falta do planejamento da viagem dos sonhos, o vazio da certeza de uma rotina sólida. Eu sinto por ter que te ver na luta pela sobrevivência e sinto mais ainda pelas perdas de seus entes queridos. Queria, caro você, poder te abraçar e dizer que tudo vai ficar bem. 

Sei que é difícil acreditar nisso. As notícias chegam cada vez mais assustadoras como seus números estarrecedores ganhando mais e mais nessa escalada. Como lidar com um vírus letal, sendo que parte da população finge que ele não existe? Como lidar com a mulher do político negligenciando a criança que morre abandonada? Como lidar com um governo que não sabe nem nomear os próprios ministros? Como respirar enquanto um policial faz questão de pisar no pescoço de uma mulher indefesa? São muitos pratos para equilibrar e faltam mãos, eu sei. 

Máquina de escrever com cactos.
Foto por Florencia Viadana, via Unsplash.

É difícil compreender o que se passa, quando o cenário real é inverossímil. Nós não estamos preparados para lidar com a irrealidade sem controle que chega transformando tudo em alta velocidade. Se ela tivesse o mínimo de coerência seria diferente. Então, a única coisa que é fácil aqui é pirar. Simples assim. 

Olho para todas essas circunstâncias e me sinto repetitiva. Além da rotina, das notícias, da casa, eu sou a mesma todos os dias. Ouço as mesmas músicas, leio os mesmos livros, trabalho nos mesmos projetos, escrevo sobre os mesmos temas gauches na vida. Sou cachorro correndo atrás do próprio rabo, ao passo que a vida vem com este rolo que me comprime a passos lentos. 

Sabe, querido você, eu fico me perguntando — dia após dia — o que vai sobrar de tudo isso. Será que vai sobrar algo? A vida é sempre tão a mesma, mas sempre tão cheia de incertezas. 

Hoje não consegui ver o céu mudando de cor. Está frio e eu estou triste. Entretanto, gostaria que você soubesse que mesmo infeliz e confinada, sigo ao seu lado. Seguimos juntos. 

Com amor, 

Meu Eu 

Selo de participação da blogagem coletiva do Projeto Escrita Criativa.
O tema da blogagem coletiva de junho de 2020 foi: ninguém solta a mão de ninguém.
Para saber mais sobre o Projeto Escrita Criativa, clique aqui.

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terça-feira, 6 de agosto de 2019

Aquele das expectativas que as pessoas criam sobre você | BEDA agosto/2019 #6

terça-feira, agosto 06, 2019 6
*Nota: achei esse texto perdido nos rascunhos do blog há um bom tempo. 
Resolvi publicá-lo; porque ainda que boa parte da minha opinião tenha mudado, 
continuo achando que cada um deve cuidar da sua vida.

Would you call me a saint or a sinner?
Would you love me a loser or a winner?
Voltei para casa meio de bode, depois de me encontrar com alguns amigos que não via há algum tempo. É engraçado como as pessoas criam expectativas sobre as outras, como elas transformam a nossa vida em um roteiro incrível e esperam que a gente cumpra o papel a que elas nos designou.

A primeira vez que isso aconteceu comigo de forma marcante foi no fim da adolescência. Sempre que penso em quando a minha amizade com a minha melhor amiga da época ruiu, me vem à mente aquela tarde em que ela tentou - em vão - em convencer a prestar FUVEST. Eu não queria fazer USP, ela achava que eu tinha tudo para dar certo lá. No fim das contas, encerramos o assunto com ela frustrada por eu não tentar, e comigo frustrada por ela não me entender. O meu curso de Letras na USP era um sonho dela, não meu (e o mais irônico nessa história toda é que ela mesma não cursou a graduação em universidade pública).

Agora, por certo, o roteiro era outro, mais parecido com aqueles versinhos que as crianças cantam em inglês: *"...First comes love. / Then comes marriage. / Then comes baby in the baby carriage...". Por isso, a decepção veio quando eu disse que, neste momento, não me vejo em um relacionamento. Depois de todas as interjeições possíveis, um dos amigos me solta um "mas o amor tão é bonito" - que insinuou que eu estou amarga por não sair para procurar alguém. O que ele não entende é que eu concordo com ele: o amor é, sim, lindo; mas há várias formas de amar que não seja estar em um relacionamento amoroso. E que não, não acho que eu preciso estar com alguém para ser feliz.

Ando meio de saco cheio das pessoas me dizendo que eu sou "para casar", de ter que convencê-las de que as frustrações delas são porque elas roteirizaram a minha vida, não eu. Que me desculpem os desinformados, eu não sou para casar, eu sou para ser aquilo que eu quiser. Então, acho melhor todo mundo começar a criar expectativas e planejar a própria vida, em vez de querer fazer isso com a minha. 

Pelo bem de todos e felicidade geral da nossa amizade, digo ao povo que eu já sei cuidar do meu nariz. 


*A tradução literal da música é "...Primeiro vem o amor. / Depois o casamento. / Então vem o bebê no carrinho de bebê...".

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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

BEDA agosto/2018 #27 — Sobre o que está na nossa cabeça

segunda-feira, agosto 27, 2018 4

Sente aí, pegue a pipoca e vamos conversar.

Muitas vezes, a cena é a mesma: a gente quer fazer algo que morre de vontade ou que considera importante e pá! Surge uma voz na nossa cabeça que diz: "você nunca vai conseguir. Você não é capaz". Primeiro, essa mensagem aparece em um sussurro; depois, ela cresce até que vira um grito que nos deixa loucas.

Normalmente, isso acontece por conta de medo. Medo de dar errado. Medo de passar vergonha. Medo de sentir dor (seja ela física ou mental). Medo de relembrar um sentimento ruim. Aí vem o primeiro ponto que queria abordar neste post e que vem martelando na minha cabeça há algum tempo: não subestime o medo do outro. Nunca. Never. Jamais.

Sabe aquele seu amigo que tem medo de lugares fechados e evita o elevador? Aquela que não suporta ver um inseto e grita ao ver uma borboleta? O primo que não vai na sacada do seu apartamento por conta do medo de altura? Sim, eles realmente pensam que vão morrer e tudo o que eles menos precisam é a sua "cara de isso não é nada".

Eu tenho um pavor grande de agulhas. Por isso, eu deixo de fazer muitas coisas que as envolvem — desde tatuagens e um segundo furo na orelha à exames de sangue, por exemplo. Em geral, evito falar sobre esse assunto com alguém que não seja a minha psicóloga, porque na maior parte das vezes a reação das pessoas é:
1. "Nossa, mas você tem medo disso? Agulhas não doem" — para ela, isso é confortável;
2. "Mas isso é uma ignorância da sua parte" — como se eu não soubesse o quanto o cuidado com a saúde é importante.
3. Elas simplesmente riem — e isso me deixa profundamente chateada, porque eu estou ali me abrindo e a pessoa está rindo da minha cara.

O que falta, nesses casos? Empatia. Se colocar no lugar do outro e pensar no seu próprio medo. Ouvir, acolher, dizer que as coisas darão certo, indicar a terapia para quem não a faz. Ser minimamente simpático. Não sabe o que dizer? Então, seja sincero e mude de assunto. Simples assim.

O segundo ponto que também vem dançando no trapézio das ideias da minha cabeça é a insegurança. Ontem estava passeando pelo meu feed no Instagram, vi uma mensagem motivacional e um comentário de uma amiga toda tristonha, sendo que ela É MARAVILHOSA! Trabalhar para se enxergar do mesmo modo que os outros nos veem é um processo diário e muito necessário

Às vezes esse é o tema das minhas sessões de terapia, porque nem sempre a minha autoestima está elevada. Bate aquela desconfiança — olha a voz gritando na minha cabeça — de que eu não seja a filha/irmã/professora/blogueira/escritora/revisora que todo mundo diz que eu sou. Aí, até para aceitar um elogio singelo fica difícil.

Sabe o que é o mais impressionante em tudo isso? É que todas essas questões — sejam as minhas ou as suas — estão na nossa cabeça. Muitas vezes é o compartilhar com o outro que nos faz perceber que sim, há uma forma de resolver e de se sentir confortável com a vida. Há um modo de diminuir o volume dessa voz que nos atormenta por tanto tempo.

Sendo assim, o meu conselho é: façam terapia. Busquem indicações de profissionais com amigos que já fazem (às vezes, você pode conseguir um desconto por ser indicação), o CAPS da sua cidade, universidades que tenha curso de Psicologia ou grupos do Facebook (já vi psicólogos oferecendo o serviço a preços populares por lá). E lembre-se que não importa o motivo: você é capaz, você é incrível!

Não sei se consegui dizer exatamente o que queria e se o post ficou compreensível, mas seguimos conversando aí nos comentários.

Beijos, queijos e até amanhã!

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terça-feira, 7 de agosto de 2018

BEDA agosto/2018 #7 — Grandes lembranças, pequena dúvida

terça-feira, agosto 07, 2018 0
Imagem: Free-Photos.
Ainda penso nos dias em que vivemos,
nas palavras trocadas
nos desejos compartilhados.

Ainda penso na esperança que tive
nos sonhos elaborados
nos beijos roubados.

Não quero desistir
Estou cansada de tentar
Será que é impossível
Ver o amor se realizar?

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Ausência

segunda-feira, janeiro 15, 2018 24
Quando a ausência é uma constante...

Ouço o meu próprio eco.
Não é madrugada,
é dia barulhento
ainda que sem sol.
Ouço o meu eco particular,
minha voz transitando por meus ouvidos
carregando sua mensagem vazia de palavras,
plena em significado.
Ignoro numa tentativa de não sentir.
Quanto mais o faço
mais ressoo.
Força altiva em sua presença,
meu eco me enlaça, nele me perco
e assim morro em meio ao desespero.
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sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ruído

sexta-feira, novembro 10, 2017 16


o ruído da chuva evoca
o ruído da sua voz
em meu ouvido

as gotas que se chocam
transbordam o ar comprimido
que habita meus pulmões

o ruído torna-se gatilho
para o que é perdido

configura-se obsceno
em seu gozo sem gosto

o ruído abre caminhos
o ruído lava memória

carnificina

(o amor deixa seu rastro)

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sábado, 7 de outubro de 2017

Desculpe, mas eu não entendi

sábado, outubro 07, 2017 24
Há momentos em que a vida nos dá pequenos tapas para que a gente volte a pensar sobre aquilo que quer esquecer.
Queria dizer que, depois de todos estes anos, eu entendi. Mas a verdade é que eu sou idiota a ponto de me perder nas infinitas desculpas, conjunturas sobre a sua partida. Eu sei que muitas vezes o sentimento não se explica, entretanto eu também sei que preciso de uma explicação. Talvez ter te guardado no limbo da memória não tenha sido a melhor estratégia para lidar com tudo o que ainda hoje me sufoca.

Quando o poeta me perguntou por que tudo havia terminado, fui evasiva. A verdade — que eu não quero admitir — é que eu não sei se devo acreditar na versão que me chegou. É duro pensar que, da noite para o dia, você estava escovando os dentes e percebeu que não gostava mais de mim.

A rejeição dói. A rejeição maltrata. A rejeição faz com que a minha cabeça pire pensando no que eu fiz de errado ao tentar ser eu mesma. Eu me despi, fui sincera, complicada e imperfeita. Isso é motivo para se deixar alguém? Para mim é motivo para amar em profundidade — e aqui me vejo errada mais uma vez, depositando em você a expectativa de agir como eu agiria.

O poeta diz que a gente tem que errar no começo, então tento não me culpar (amar aos 20 e poucos é amar no começo?). Tento focar no melhor de mim, mesmo sabendo que fui generosa sem ser egoísta e que por isso me esvaí enquanto nadava. Não cheguei ao mar. Dei tanto do que sentia que nada me sobrou. Faltou amor próprio. Nosso relacionamento acabou. Paciência.

Ou não? Não sei bem onde isso vai chegar e se fará algum sentido. Aliás, sentimentos têm sentido? Sempre que me pergunto isso, ouço como resposta a minha própria voz ecoando cada vez mais distante. Qual é o sentido na crescente falta de esperança?

Queria amar de novo. Sabe aquela coisa de ter aconchego, de dividir as angústias, de compartilhar as felicidades? Queria sonhar de novo. Seguir em frente em busca das pequenas grandes conquistas. Tropeço no pretérito imperfeito de um relacionamento desfeito, porque ainda não entendo o que é essa pedra no meio do meu passado (e ainda tenho dúvidas se você estaria disposto a me ajudar a compreender tudo isso).

Como eu lido? Procuro não pensar. Foi essa a resposta que dei sobre o nosso fim. O poeta diz que eu tenho que escavar as minhas chagas. Foi assim que ele te nomeou — Chagas — e não vejo palavra mais pertinente. Você segue impregnado, não como algo bonito, mas como uma marca feia e dolorosa. Resolvo seguir o conselho. Tento olhar de frente para a minha dor.

Talvez seja por isso que digito essas palavras, pode ser por isso que eu escancaro essa ferida — com uma pequena fé de que um dia nosso relacionamento tenha fim (para ambas as partes).

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sábado, 24 de junho de 2017

Aquele dos 11 anos

sábado, junho 24, 2017 6
Segura que lá vem textão!
(Imagem por Pexels, sob licença creative commons)

24 de junho de 2017. Hoje o Algumas Observações completa 11 anos de existência, e aqui estou eu nessa tarefa de fazer um post decente para comemorar. O fato é que eu não sei nem por onde começar (como toda mãe babona, meus olhos já estão cheios de lágrimas aqui).

Passei esta semana toda pensando em como seria encarar esta tela em branco, com seu cursor piscando feliz, querendo que eu a preenchesse. 11 anos; uma vida. E das bem dinâmicas, eu diria.

Desde que eu fiz 30 anos, venho pensando em tudo o que conquistei - ou deixei de conquistar, porque os dois movimentos são verdadeiros. Às vezes, me bate um desânimo, uma sensação de que nada andou, de que nada deu certo... E aí eu olho para o Algumas Observações e ele me lembra que a minha vida não está tão desastrosa assim.

Por causa do blog eu fiz amigos. Aqui eu também registrei as minhas paixões (e o coração partido milhões de vezes), minhas frustrações, meus sonhos, minhas angústias em relação ao mundo, minha jornada acadêmica, meus momentos de fã louca... Foi aqui que eu me descobri escritora e me assumi como tal. O Algumas Observações se tornou - de alguma forma - o meu divã, o meu ponto de encontro, o meu diário de viagem e o meu laboratório prático de escrita.

Isso é tão gratificante! Primeiro porque é muito difícil ter um blog por tanto tempo (quantos eu já vi começar e terminar, meu Deus?!), segundo porque eu tenho o registro da pessoa que eu me tornei. É muito interessante ver aquela adolescente insegura que queria escrever se tornar esta mulher que hoje leva a escrita como profissão. Que deixei de ser aquela adolescente que romantizava tudo (e, consequentemente aceitava tudo em nome do amor), para ter consciência de que os meus sentimentos valem sim, que não preciso engolir sapo. Que viu sonhos se tornarem realidade (desde os menores, até os mais grandiosos), que conquistou uma carreira. O blog é, sem dúvida alguma, parte deste processo de tomada de consciência. Sou grata por isso.

Sou grata por cada um de vocês que chega aqui, que comenta, que me dá forças nos momentos mais complicados. Sou grata por cada gesto de carinho, cada palavra, cada sentimento que você compartilha aqui. Muito obrigada por esses 11 anos, e que venha o 12º!

Beijos e queijos,
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quarta-feira, 31 de maio de 2017

Tudo aquilo que sinto, mas não digo

quarta-feira, maio 31, 2017 8
Imagem por Unsplash.

Às vezes fico pensando em tudo o que poderia ter sido e, por alguma razão não foi. Sabe aquele passeio de mãos dadas que acabou em lágrimas, ou aquela conversa truncada via internet? Elas poderiam ter acabado diferentes. Não que eu quisesse que o nosso rumo fosse diferente, isso não. Mas algumas dores poderiam ter sido poupadas tanto para mim, quanto (acho) para você.

Não sei se você sofreu de algum modo com tudo o que aconteceu e se você pensou na minha dor em algum momento. Também não sei se você pensa no passado ou se foge dele. Todavia, vez ou outra sinto uma vontade súbita de te mandar à merda - algo que deveria ter feito há, pelo menos, meia década.

Sei que ninguém sabe o que se passa dentro de outra pessoa, contudo, seu egoismo fingido me sufoca. Me sufoca a ideia de que em um dia você é um bom moço e no outro arruma qualquer desculpa para se dizer melhor ou maior ou - o que é pior - mais amado. É foda quer perdoar quando a outra pessoa só gera mais e mais sentimentos ruins.

Minhas amigas me dizem que sou louca por tentar ter compaixão depois de ter me entregado por inteiro a um babaca. Eu tento, porque cresci. Tento por que quero ser alguém melhor hoje e sempre. Tento, porque rancor faz mal para quem o guarda. Mas, em alguns momentos é quase impossível. 

Não me mande encontrar alguém que já morreu. Não tente dar indícios de que você é melhor, só porque está em relacionamento. O mundo é muito maior do que isso, e ninguém é melhor que ninguém só por causa de um status nas redes sociais (ou fora delas). 

Desejo toda a felicidade para você. Quanto a mim, seguirei o meu caminho.



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sexta-feira, 31 de março de 2017

Uma tarde na biblioteca

sexta-feira, março 31, 2017 3
Foto por: Carol Vayda

Desde que me mudei para esta escola enorme, tudo se tornou diferente. Minhas amigas - o quem eu achava que era minha amiga - ficaram muito mais preocupadas em parecerem bonitas para os meninos, do que em serem pessoas com quem outras podem contar. Me vi aqui, encostada na parede de uma imensidão de pátio, sem saber exatamente como agir, mas tendo a certeza de que o que menos quero é atrair um cara babaca como os que andam por aqui.

Ok, ok, eu sei que me apaixonei por um cara que escreve as suas iniciais em todos os lugares - da borracha ao teto do ônibus (sério, não acreditei quando vi aquelas duas letras no teto do ônibus que pego para chegar à escola) - então, talvez tenha sido tão idiota quanto elas. Mas o fato é que eu jamais abandonaria minhas amigas e jamais mudaria algo em mim por causa de homem. Eu, hem? Prefiro ficar só a ter que fazer isso.

O que importa aqui, agora, é que eu acho que a professora de português sacou que eu ando muito largada por aí. Ela tem aquele jeitão de mãe que sabe tudo e deve ter notado que não me adaptei. Tenho 99% de certeza disso, porque ela passou o recado dos horários de funcionamento da biblioteca do colégio praticamente olhando para mim. Foi uma encarada dessas certeiras, que fazem gelar a espinha - ainda que, desta vez, ela tenha feito isso mais por preocupação do que como uma bronca ou algo do gênero. Fora que ela sabe que um dos meus planos é cursar Letras quando sair daqui. Rola aquela identificação de quem respira livros.

Como não tenho nada a perder e ando sem paciência para o "você viu fulano comemorando gol sem camisa na aula de Educação Física?", resolvi que não tinha nada a perder se seguisse o conselho da professora. Por isso, lá fui eu, três lances de escada à cima, em busca da tal biblioteca.

Levei um pequeno susto ao passar por aquela porta minúscula. Aquele lugar era bem diferente do que conhecia, principalmente no que se referia à biblioteca pública municipal que frequentava. Logo ao lado da porta, havia cerca de três mesas redondas. Ao lado delas, um balcão de ponta a ponta. Atrás do balcão as estantes. Fiquei em choque quando soube que não poderia andar em meio às estantes. Nada de contato com os livros.

Quem me explicou tudo isso, de uma maneira muito mais calma do que o estado em que eu recebia as informações, foi uma bibliotecária muito gentil, que estava atrás do balcão. O sistema era simples: pegava uma das pastas disponíveis, olhava no índice o livro que queria, dizia a ela o nome e ela pegava pra mim. Este era o único jeito que a escola havia encontrado para manter o pequeno espaço organizado em meio à tanta gente.

Assim como aconteceu com a professora, Cecília, a bibliotecária, tinha um olhar que era firme e, ao mesmo tempo acolhedor. Ao prever minha dúvida se este era o melhor método de se escolher um livro, abriu a pasta catálogo e foi comentando os títulos que mais gosta, quais eram os que os alunos mais pediam emprestado, quais haviam acabado de chegar. 

Aquele foi o ano em que mais li e, aquele lugar tão exótica acabou sendo o que me salvou de eu me perder. Tudo por causa daquela primeira tarde que passei na biblioteca.

Este texto faz parte do Projeto Escrita Criativa, que reúne escritores e blogueiros para colocarem no “papel” suas ideias. Quem quiser conhecer mais, acesse a página ou o grupo do projeto. Lá há a lista de todos os blogs participantes. O tema da blogagem coletiva de março é "Uma tarde na biblioteca".
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sexta-feira, 17 de março de 2017

Não é possível ser poeta

sexta-feira, março 17, 2017 0
Jardim da Casa das Rosas.

Queria escrever um poema sobre a gratidão. No fundo, queria falar sobre a beleza, sobre a felicidade, sobre o afago de dormir em conchinha, sobre o acolhimento que a gente sente diante das coisas simples. Mas hoje, agora, não consigo. Só posso falar sobre a solidão.

É engraçado. Há tempos não me sentia solitária. Melhor dizendo, há tempos não sentia a solidão do modo doloroso. A de antes era aquela dos sonhos e das esperanças, da que nos leva ao topo do mundo. A de agora, contudo, é daquela dolorida, que nos faz ficar embaixo do cobertor, em posição fetal, ouvindo a chuva que cai sobre o telhado.

Fiquei me perguntando o que mudou — se é que mudou algo. A estranheza da vez está no fato de que agora me vejo sob outra ótica, por um ângulo de quem se afasta e se vê de fora. A dor não é mais pela perda, muito menos do tipo desesperada e sem consolo. Ela é triste pelo o que não deu certo e, sobretudo, conformada pelos caminhos que me trouxeram até aqui. 

Isso acontece em parte por saber que não dá para mudar o passado, em parte por ter certeza do enfrentamento do futuro. Não se pode fugir das situações mais incômodas. Sempre fui de enfrentar o medo. Espero mesmo que isso me liberte...

Há dias bons, dias ruins e dias tristes. Nestes, não é possível ser poeta.

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quarta-feira, 8 de junho de 2016

Às vezes, simplesmente não dá

quarta-feira, junho 08, 2016 14
Imagem do meu instagram.

Acordei com vontade profunda de desistir. Sim, era madrugada, quase inverno, frio de rachar, tudo propício a um sono profundo e aconchegante, mas eu tinha que acordar com aquela vontade louca de simplesmente desistir. Ou, como consta no Houaiss de “não prosseguir em um intento, abrir mão voluntariamente de (algo); abster-se, abdicar, renunciar”. Não conseguia pensar em mais nada. Este o meu desejo mais íntimo às 4h40 da manhã de quarta-feira, 08 de junho.

2016 tem sido um ano difícil. Não que a minha vida tenha sido sempre um mar de rosas, mas estes últimos seis meses têm pesado nas costas. Não sou de deixar meus sonhos para trás, mas meu lado perfeccionista – seja culpa da criação ou da astrologia – tem feito com que eu me sinta a pior das espécies que a raça humana poderia ter. Vejamos com mais atenção:

Lá em janeiro, havia prometido a mim mesma que cuidaria mais do blog, afinal, este é o ano em que ele completa uma década de existência. Prometi a mim mesma que cuidaria das pessoas ao meu redor, que me dedicaria mais aos amigos, que estaria mais sociável com algo que não fosse minha cama, meus travesseiros, edredons e livros. Jurei que seria uma professora empenhada, dessas que têm fôlego para criar ações inovadoras dentro do colégio. Disse que cuidaria mais de mim e voltaria à minha rotina de exercícios. Além disso, seria uma aluna exemplar. Junho chegou e o que aconteceu?

Estamos na metade do ano e eu não consegui pensar em absolutamente nada para comemorar o aniversário do blog (as postagens até que aumentaram na frequência, mas o blogger planner só funciona quando estou de férias :/). Conseguir um espaço para os meus amigos anda complicado, porque eu ando esgotada mental e fisicamente. E claro, isso é reflexo da minha vida sedentária. Aluna exemplar? Então, com a rotina insana que ando levando, não tenho conseguido ler tudo na velocidade que preciso. Falta tempo, falta energia, falta coragem. Quanto ao trabalho, professora empenhada até tento ser (vale colocar na conta fazer os alunos falarem com os gringos?), mas se tudo estivesse dando certo, o 4º ano não seria a razão da minha primeira noite insone nestes quase 30 anos de vida.

Queria ser positiva, queria dizer que tudo está dando certo, que estou empolgada. Queria dizer que amo tudo o que estou fazendo, que me sinto cada vez mais envolvida. Queria muito falar que consigo mudar a chave, que é só questão de ficar atenta ao que vem de negativo na cabeça (eu juro que estou me esforçando quanto a isso!). Entretanto, há momentos em que simplesmente não dá, que a única coisa que quero fazer é dormir ou chorar ou desistir (ou um combinado dos três). Começo a pensar que seja qual for o motivo – estresse, depressão, agenda lotada, TPM – às vezes, não dá para carregar o mundo nas costas.

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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Precisamos falar sobre a violência contra a mulher

sexta-feira, maio 27, 2016 17
Imagem por skitterphoto, sob licença creative commons.

2016. Enquanto balas cortam o céu e o Ministro da Educação se reúne com um machista declarado, homens se juntam para violar o corpo de uma adolescente, no Rio de Janeiro. Como não ficar com esta dor na cabeça? O corpo não foi meu. Mas precisaria ser? Óbvio que não. As mulheres, todas as que conheço, estão na luta se manifestando contra esta barbaridade. E por que s sociedade demora tanto para falar sobre a violência contra a mulher? Por que faz isso de forma tão tímida? Por que a mídia não fala e quando o faz, joga a culpa na vítima - que sempre "supostamente foi estuprada", que "estava drogada", que "vestia roupas curtas, provocantes", que "estava andando sozinha à noite ou em um lugar deserto"?

Imagem da página Dilemas de Ivana.

Ninguém, repito NINGUÉM, tem o direito de forçar o outro a nada. Ninguém tem o direito sobre o corpo do outro. Não precisa ser muito gênio para entender que respeito é fundamental e primordial. O tal do direito de ir e vir não deveria ser um elefante branco. Eu, como ser humano do sexo feminino, tenho o direito de ir a onde quiser, vestindo o que quiser, a hora que quiser, acompanhada ou não. E, sim, mulheres, ao contrário do que a nossa cultura faz muita gente pensar, são humanas. E sim, você, caro colega, tem que entender isso de uma vez por todas. Eu, como mulher, escolho com quem quero me relacionar, se quero me relacionar. Não é um homem que vai determinar isso por mim.

Imagem da página Moça, você é mais poesia que mulher.

Eu fico pensando em todas as mulheres que eu conheço que já sofreram algum tipo de agressão (seja ela física ou psicológica) por causa da cultura do estupro que faz de nós objetos e inimigas umas das outras. O número, infelizmente, é alto e me inclui. Fico pensando nesta menina, que além de ter sido violentada, foi exposta na internet e teve sua vida mudada negativamente para sempre. Hoje, reflito sobre a postura de todos os homens que conheço, do silêncio deles em relação a toda luta que nós, mulheres, temos todos os dias. E penso - mais uma vez - no meu papel como professora e na importância que o meu trabalho (de formiguinha) tem na mudança deste quadro.

Nunca exponham uma vítima de violência.
(Imagem da página Empodere Duas Mulheres.)

A luta é grande. A luta é imensa. A luta é épica. Ver tudo isso acontecendo nos faz (querer) perder a fé na humanidade, mas não podemos desistir. Por mais que seja doloroso, temos que trazer cada vez mais este assunto para a roda de discussão. Não dá para ignorar. Não dá para simplesmente esquecer. Não dá, não queremos, não podemos. Por nós, pelas mulheres que conhecemos e pelas gerações futuras. 

Imagem da página Barbie sem Ken.

Para terminar, gostaria que vocês lessem os dois links abaixo:

Sigamos na luta! ♥

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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Aquele da declaração saudosa

quarta-feira, maio 18, 2016 6

Saudades de escrever um daqueles textos românticos, cheios de declarações de amor e dedicatórias implícitas sobre dormir e acordar juntos, sobre andar de mãos dadas e trocar pequenos sorrisos com grandes significados.

Por mais que não queira, ainda sou como aqueles últimos românticos, gauche na vida, que não se encaixam numa sociedade cheia de status e falta de empatia. Ficar é algo profundo, porque ficar implica em estar junto, em compartilhar momentos profundos em que os sentimentos e as sensações se afloram de maneira intensa. Ficar vai além de beijos sem significados e fotos nas redes sociais.

Não sei se o que espero é uma utopia – é muito provável que seja – mas é dessa qualidade que não quero abrir mão. É por ela que eu busco. Alguém que se esforce em me compreender, quando eu nem eu mesma consigo. Alguém que aceite se abrir e deixar o que está lá no fundo chegar aos meus mares nunca dantes navegados. Dividir para multiplicar. Uma regra que funciona para quem deseja fortalecer um relacionamento.

Queria escrever um daqueles textos românticos, cheios de intensidade, desejo e, sobretudo, amor. Espalhar amor em um mundo cheio de ódios é quase uma luta diária, cuja batalha poucos se propõem a lutar. Quero fazer parte deste exército, mas não sei por onde começar.

Ser sozinha. Em algum momento da vida, todo mundo sente falta de não o ser. E não que isso seja especialmente ruim – aprende-se muito com a solidão. O fato é que aquilo que sobra em alguns aspectos (liberdade, sua linda!), falta em outros. Hoje, faltou-me. Não tenho sorrisos, jeitos atrapalhados na cozinha, brincadeira de criança, pegar na mão, dormir de conchinha.

Respirando, sigo. 
Amanhã venço a saudade e penso em outro assunto para chamar de meu.
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sábado, 7 de maio de 2016

Into the dark: quando nada é bom o suficiente

sábado, maio 07, 2016 15
Imagem por Pezibear, sob licença Creative Commons

Diga-me o que sente e te direi quem és

Nos últimos meses passei por um período intenso de questionamentos. Foi assim que todas as minhas habilidades, escolhas e sentimentos foram colocados à prova pela juíza mais rigorosa de todas: eu mesma. Nada me parecia - e confesso que às vezes ainda não parece - bom o suficiente, belo o suficiente, interessante o suficiente. Minha autoestima desceu ladeira abaixo sem olhar para trás.

Em um mundo em que tudo é perfeito de forma aparente, cheguei naquele ponto em que este mesmo tudo era exagero: “você pensa demais”, “você é dramática demais”, “você é sentimental demais”. Aliás, pelo o que me lembre, tudo começou aos quinze anos, com um “por que você é tão clichê?” acompanhado de um olhar de desprezo que, como notam, nunca esqueci. Os questionamentos nascem, muitas vezes, de tanto ouvir pessoas queridas julgando cada passo e, sobretudo, cada sentimento seu. Por que, afinal, é tão ruim ser intensa?

Dois pontos chamam-me a atenção neste momento de autoanálise. O primeiro diz respeito a como as pessoas (e eu me incluo nesta) não estão preparadas para lidar com os sentimentos dos outros. É muito mais fácil julgar o par, considerando-o histérico, dramático, pensativo, depressivo, ou qualquer outro adjetivo usado de forma pejorativa, do que tentar se colocar no lugar do outro. Falta empatia. Falta querer aprofundar as relações. Sair do lugar comum e da zona de conforto e, por consequência, parar de ter medo de se expor. Porque, sim, quando alguém se abre para você, a reciprocidade vira a marca de gentileza e afeto, construtora de pontes.

O segundo ponto relaciona-se com a sociedade em que vivemos. Como se sentir seguro para ser você mesmo em um mundo que, além de viver de aparências, é extremamente opressor em julgamentos? As pessoas estão em um patamar que impõe: ou você é X ou você é Y. O meio termo não existe. As discordâncias viram motivos para brigas (e amizades desfeitas nas redes sociais). Só o que é significante do ponto de vista do Fulano importa, não cabendo os sentimentalismos do Beltrano na conversa.

Bate certa revolta por ver os rumos que nós estamos seguindo, em que a frieza, a pressa e o egoísmo tomam conta de tudo e de todos. Porque hoje o sentir é visto como algo piegas, frágil, feio e inútil. Esta desvalorização de ser um humano em sua totalidade é um grande soco em meu estômago, daqueles que me deixam sem ar por um bom tempo, quase me levando a nocaute.

E eu disse quase. Explico: talvez seja justamente a desvalorização dos sentimentos que tenha me deixado nesta crise existencial-de-baixa-autoestima. Eu, que sempre admirei as pessoas pelo o que elas sentem, percebi que não tinha os meus sentimentos valorizados desta forma (seja pelos outros ou por mim). Foi isso que fez com que eu me calasse e me afastasse de muita gente, foi isso que me levou de volta ao meu casulo (é duro você festejar as vitórias dos outros durante anos e notar que a sua é um nada para aqueles mesmos outros). Mas é justamente esta falta de empatia que me força a querer ser empática. Quando estou quase apagando, não me rendo ao nocaute...

Eu sei. Os autores de autoajuda de plantão - e seus respectivos leitores - dirão que é errado se importar com que os outros pensam, que é ruim dar forças a todas essas vozes inquisidoras e negativas. Concordo. Mas também sei que nenhum homem é uma ilha. E, como ser sociável que sou, gosto de poder compartilhar as minhas dúvidas, inseguranças, vitórias, derrotas e sonhos com quem amo.

O que fazer com tudo isso, depois de tanto pensar? Cair e levantar. Acho que todo artista tem um paradoxo dentro de si, e o meu está no fato de eu ser uma cética esperançosa. Diria mais, sou uma cética radicalmente esperançosa e é isto que me faz querer lutar pela humanização da vida - a começar pela minha. Sou cética a ponto de saber que não consigo transformar o mundo todo, por mais que eu queira. Sou esperançosa por saber que posso mudar o meu mundo, basta encontrar uma maneira criativa para isso.

Ando me aprofundando no minimalismo. Se for para estar em um lugar para ser apenas um número, se não puder ouvir e ser ouvida, se não houver troca, apoio, torcida e boas vibrações, simplesmente caio fora. Por mais que me doa romper alguns laços, é melhor ter qualidade do que quantidade, sentimentalismo a superficialismo. São relações empáticas que me fazem querer sair do abismo e querer ser uma pessoa melhor.

Fácil? Claro que não é. Muitas vezes deparo-me com situações que me fazem crer que a vida é um jogo de tentativas e erros. Quando se fala de relacionamentos (sejam eles amorosos ou amistosos), tendo a acreditar que ninguém entra em um, pensando no dia em que tudo acabará. Sou feita de felizes para sempre que não duraram e sei que isso faz parte. Falar de sentimentos não exclui os ruins.
 
Quando nada é bom o suficiente é sinal de que entramos naquela roleta-russa de ignorar os nossos sonhos, desejos, anseios e de querer sentir menos, porque o mundo dita que é melhor assim. Precisei de meses para pôr o pé no freio e perceber que não há mal algum em pensar demais, sentir demais, em ser clichê e piegas demais. Sou diva. Sou princesa. Sou poeta. Sou intensa. Sonhadora. Sou o que quiser, porque é isso que me faz ser incrível. Viver nesta toada é uma superação edificante. Então, por qual motivo tenho que deixar isso lado para agradar quem insiste em me ver mal?

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sábado, 23 de abril de 2016

As mentiras que nos contam

sábado, abril 23, 2016 20
Imagem por Alexas_Fotos, sob licença creative commons.

O amor é para sempre.
Para sempre nunca acaba!
O que acaba é a finura
Que, ao comer demais, vira gordura.

Gordura é sempre mal vista
Quando vista principalmente nas moças.
Estas, devem ser femininas...
Femininas sempre, nunca feministas!

Bela, recatada, modesta e do lar,
Mulheres estão proibidas de palavrão falar!

As mentiras que nos contam
Estão tão enraizadas
que a luta que travamos
parece dar em nada.

Parece, apenas!
Porque a batalha é grande
E a alma humana não é pequena!

Este texto faz parte do Projeto Escrita Criativa, que reúne escritores e blogueiros para colocarem no “papel” suas ideias. Quem quiser conhecer mais, acesse a página ou o grupo do projeto. Lá há a lista de todos os blogs participantes. O tema da blogagem coletiva de abril é "As mentiras que nos contam".
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sábado, 30 de janeiro de 2016

{Sobre o preconceito} Vai ter textão sim

sábado, janeiro 30, 2016 14
Fotos feitas pelo meu amigo, Renato Rodrigues. Elas representam a minha liberdade de escolha.
Let's be free!

No post de hoje, teremos ter textão digno de facebook sim. E digo o porquê: estou cansada dessas pessoas querendo ditar o que tenho ou não fazer da minha vida. Primeiro foi o cara que disse que estava solteira porque não aliso o meu cabelo. Depois, tivemos os episódios "filhos é só até 32, 33 anos, hem, Nanda!" e "você tem que liberar isso mais, fica regulando". Então vamos aos esclarecimentos, para ver se, desenhando, as pessoas entendem que sou eu quem vai decidir o que eu devo fazer da minha vida.

Sobre o meu cabelo

Sou crespa sim, com muito orgulho. AMO o meu cabelo do jeito que ele é, e esse volume todo faz parte da minha personalidade. Além disso, eu realmente acho que as pessoas têm que gostar de mim pelo o que sou. Se você se incomoda com o meu cabelo (ou com qualquer outra característica física minha), pode sair da minha vida sem retorno. Eu sou assim mesmo: gordinha, de óculos, aparelho e volume nos cabelos crespos, e olha, me acho princesa, diva, poderosa, dessas que chegam arrasando nos lugares! Estou feliz com o meu corpo e tenho certeza que autoestima elevada conta muito mais para um relacionamento do que uma chapinha/progressiva. Se algumas pessoas se deixam levar puramente por padrões de belezas impostos, isso é com elas. Eu simplesmente não consigo. Eu prefiro ser o que sou, não aquilo que esperam o que eu seja ou acham que combinam comigo (sério, já ouvi milhões de "acho o seu cabelo lindo. O meu é assim também, mas aliso porque não combina comigo" que me fizeram pensar um "como que algo que nasceu com você não combina com você?!", embora eu respeite e fique quieta, isso não entra na minha cabeça). Então, não se meta com o poder dos meus cachos - que eu prometo que não vou me intrometer com o seu cabelo.

Ah! E de uma vez por todas: cabelo ruim é cabelo mal cuidado. Isso não tem relação com ser liso ou crespo!

Sobre ter filhos

Hoje cedo apareceu um link de uma reportagem do El país na minha timeline do facebook, sobre o preconceito que as mulheres sofrem por não terem filhos (seja por escolha própria, por algum problema biológico ou porque o não apareceu um parceiro que elas gostassem, durante o período fértil delas), que me fez escrever por lá a seguinte reflexão que explica por si só o que tenho pensado sobre este assunto:

Tenho quase 30 anos, então as pessoas já ficam com comentários como "tem que correr, se não, não dá tempo", "e os namoradinhos? Cuidado porque o tempo passa rápido e logo você chega na casa dos 40". Antes de ontem mesmo, ouvi um "filhos é só até 32, 33 anos, hem, Nanda!".

O que essas pessoas não entendem é que sim, sempre quis ter filhos, mas não, não com qualquer um. Se eu encontrar alguém que seja bacana o suficiente, e nós dois decidirmos que é a hora, ok. Se não encontrar ninguém, não vou ter filhos só porque a sociedade dita que "toda mulher tem que passar pela maternidade". Criança não é brinquedo para a gente ter só porque todo mundo diz que tem que ser assim. Criança exige tempo, dinheiro, espaço físico e, sobretudo, maturidade dos pais (coisa que, me parece, falta nessas pessoas que acham que ter filho é algo tão banal quanto trocar de roupa). Honestamente, estas necessidades são tão óbvias para mim, que eu fico abismada de ver todo mundo ignorando isso. Na casa dos meus pais não tem espaço nem para eu ter um gato, imagine uma criança!

Então, não me venham dizer que tenho que correr pra encontrar alguém porque preciso ser mãe, porque isso não faz o menor sentido pra mim. O que eu tenho - se é que eu tenho alguma coisa - é que encontrar alguém que me ame, que me faça feliz e que me respeite, ponto. Não vou ficar com qualquer um só pra arrumar uma barriga, por causa da minha idade. De novo, isso não faz o menor sentido pra mim e quero ser respeitada pela minha decisão. Se, por ventura, isso faz sentido para você, vá em frente e me deixe em paz. Não vou me intrometer nas suas decisões a respeito do seu corpo e do rumo da sua vida.

Como costumo dizer, se cada um focasse na sua própria felicidade ao invés de ficar cuidando da vida do outro, o mundo seria muito mais feliz.


Sobre a minha vida sexual

Gente, em um mundo de redes sociais, as mulheres ficam cada dia mais expostas. Não que os homens não fiquem expostos também, mas eles não são cobrados disso, já nós... Estava conversando com uma amiga considerada por todos moderninha. Ela estava comentando do preconceito que sofre porque as pessoas sabem que, se ela sair com um cara e sentir vontade, ela vai transar e ponto. Muita gente vê essa atitude como "ser vadia, ser puta" - incluindo os caras, que acham que mulher assim não é para casar, e as amigas que sempre soltam um "você tem que ser mais difícil, tá sendo fácil demais", quando um relacionamento dela não dá certo.

Eu, particularmente falando, acho que fazer o que se tem vontade é um máximo e que isso é que o certo (independentemente de a sua opção ser transar com caras diferentes ou casar virgem. Se você tem certeza do que faz e confia que nisso, vá em frente!). Errado, para mim, é fazer algo que os outros pressupõe que você tem que fazer, não o que você acredita de coração.

Por outro lado, ao contrário da minha amiga, eu sempre fui reservada no que diz respeito aos meus relacionamentos. Eu escolhi não ficar divulgando por aí os meus namoros e rolos, tanto é que muita gente não sabe - vai ficar sabendo agora - que até um tempo atrás eu namorava. Então, quando o meu amigo soltou um "você tem que liberar isso mais, fica regulando", fiquei meio desconcertada e resolvi mudar de assunto, mas o fato é que isso me incomodou - tanto é que estou falando disso agora.

Vamos ao ponto: eu prefiro ter privacidade, porque eu acho que a minha vida com os caras que já passaram por ela diz respeito apenas a eles e a mim - e não aos meus amigos e conhecidos das redes sociais. Isso é escolha minha e acho que deveria ser respeitada.

Quem está certa: minha amiga ou eu? As duas. Nós duas estamos certas, porque ela tem o direito de falar sobre as transas dela com quem ela quiser, assim como eu tenho o direito de não falar das minhas - e nós duas não deveríamos ser julgadas por isso. Simples assim.

Como disse a um amigo meu dia desses: ser mulher não é fácil, porque se você é discreta é tachada de santinha, de certinha, de todos os -inha que te faz parecer nojenta e caxias. Se você fala sobre sexo abertamente, você é a puta, a vadia, a que não se apega, a que dá pra todo mundo e, portanto, é descartável e só serve pra uma noite. Desculpem o linguajar, mas é foda ser mulher nessa sociedade que só quer te colocar em caixas com rótulos, se esquecendo que nós somos seres dotados de sentimentos, vontades e inteligência. Se eu dou ou deixo de dar, se tenho orgasmos por semana ou por noite, se tenho um parceiro fixo ou vários o problema é de quem? Acertou! Só meu. Então, me deixa!

Resumindo

Eu não cuido da vida de ninguém. Eu não me meto nas decisões das pessoas sobre o que elas fazem com os seus respectivos corpos. Logo, eu gostaria que o mesmo fosse feito comigo. Não se intrometam, porque é a minha vida, meu corpo, meu parceiro, minhas decisões, no meu tempo. Simples assim. u.u Não fico tecendo esse tipo de comentário para os outros, não quero isso para mim.

Recado dado, a vida segue.
Beijos e queijos :*

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Poema da madrugada

segunda-feira, dezembro 07, 2015 5

São cinco da manhã e chove.

Acordo em meio a um turbilhão de pensamentos
Com esta incerteza, que me acompanha
E que bate à minha porta
Para me fazer perder o sono.

Tento manter controle e me acalmar.
Tento não pensar no que pode dar errado...
Ah, a vida e suas ironias!
Quando se tem o copo meio cheio,
Por que a metade vazia tanto preocupa?

Acordo com o som da chuva na janela.
Ligo o celular.
Em seguida, checo as redes sociais,
Dizendo a mim mesma que tudo dará certo.

"Tudo dará certo" se torna quase um mantra,
Mas esta frase não me acalma,
Ao contrário, sufoca-me em sua falta de precisão:
Quando e onde este tal de Tudo fará da minha jornada coisa certa?

Saio da cama,
Vou ao banheiro,
Depois à cozinha:
Preciso beber água e sentir o líquido descendo por dentro.
(Uma estúpida tentativa de aquietar o coração.)

Ah, esse coração teimoso que nunca aprende!
Ele anseia demais, deseja demais, ama demais!
Por mais que o cérebro tente preservá-lo,
Por mais que lute para remendá-lo a cada queda,
Parece que este coração resiste e teima em cometer o mesmo erro de se apaixonar.

Depois de muitas tentativas,
Um dia o erro vira acerto,
Um dia, tudo dará certo.

Volto para a cama.
Escrevo um poema e
Tento dormir.


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sábado, 31 de outubro de 2015

{#aophotoaday} Conversa sobre a vida e temas de novembro

sábado, outubro 31, 2015 2
Temas de novembro, 2015.

Hey, pessoal!
Tudo certo por aí?

Aqui, outubro foi longo, bem longo, mas feliz. Depois de crises existenciais, de rever gente que eu amo ♥ e de conhecer gente nova que já se tornou especial e que eu quero que fique na minha vida, novembro bateu às minha porta dizendo: olha só, daqui a pouco falta um mês para o seu feriado preferido. Não sei quanto a vocês, mas para mim será difícil dizer adeus a este lindo chamado 2015.

Como já virou tradição, os últimos posts do mês são para divulgar a lista do mês seguinte do #aophotoaday. Mal consigo acreditar, mas neste novembro completarei dois anos de fotos diárias, com os meus amigos do facebook e do instagram. Alguns deles, estão desde o comecinho, outros fazem por um tempo, param e depois voltam, e há ainda os recém-chegados! Contudo, todo mundo que resolveu embarcar nessa ao menos uma vez, não deixou de acompanhar e incentivar. Queria ter palavras para agradecer todo mundo! Sério, vocês são incríveis! ♥

Eu sei que eu mesma às vezes tenho deixado alguns meses incompletos. Às vezes muitas vezes, sendo bem sincera, eu me sinto mal com isso. Primeiro, porque eu AMO fotografar com todas as forças do meu ser. Segundo, porque acho que tenho que dar exemplo. Terceiro - e talvez, o mais importante -, porque eu tenho consciência de que a falta de fotos relaciona-se diretamente como a forma um tanto deprê que eu ando vendo o mundo. O cansaço e o estresse do dia a dia andaram me consumindo de tal maneira, que não consegui transformar esta energia ruim em algo positivo e prazeroso como as fotos. Aliás, isso também se reflete a esta postagem saindo nos 45 do segundo tempo. Quando comecei em 2013, prometi para mim mesma que não deixaria para postar tão em cima da hora assim... Pois é, não consegui e peço que vocês, por favor, me perdoem. 

A ideia deste bate-papo é, de alguma maneira, desabafar. Prometo que mesmo sabendo da loucura que novembro será - com o fechamento do ano letivo e o NaNoWriMo - que me esforçarei para acompanhar o projeto mais de perto. 

Como sempre acontece todos os meses, abaixo segue o calendário para impressão. A diferença deste para os outros está no fato de que eu inclui um espaço para notas. Assim, você pode fazer as suas observações sobre o que quer fotografar e/ou onde deseja fazer isso.

Clique em download para baixar a sua cópia.

Para quem está chegando agora, a participação funciona da seguinte maneira:
  1. Veja o tema do dia;
  2. Tire uma foto que represente a sua interpretação do tema;
  3. Publique nas redes sociais com a tag #aophotoaday;
  4. Interaja com outros participantes, acesse o grupo do facebook. *opcional, mas divertido!*
Vale lembrar que os dias em cores diferentes são finais de semana e feriados nacionais. :)

Você será muito bem-vindo(a) a se juntar a nós nesta jornada!
Beijos e queijos,

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