Jardim da Casa das Rosas. |
Queria escrever um poema sobre a gratidão. No fundo, queria falar sobre a beleza, sobre a felicidade, sobre o afago de dormir em conchinha, sobre o acolhimento que a gente sente diante das coisas simples. Mas hoje, agora, não consigo. Só posso falar sobre a solidão.
É engraçado. Há tempos não me sentia solitária. Melhor dizendo, há tempos não sentia a solidão do modo doloroso. A de antes era aquela dos sonhos e das esperanças, da que nos leva ao topo do mundo. A de agora, contudo, é daquela dolorida, que nos faz ficar embaixo do cobertor, em posição fetal, ouvindo a chuva que cai sobre o telhado.
Fiquei me perguntando o que mudou — se é que mudou algo. A estranheza da vez está no fato de que agora me vejo sob outra ótica, por um ângulo de quem se afasta e se vê de fora. A dor não é mais pela perda, muito menos do tipo desesperada e sem consolo. Ela é triste pelo o que não deu certo e, sobretudo, conformada pelos caminhos que me trouxeram até aqui.
Isso acontece em parte por saber que não dá para mudar o passado, em parte por ter certeza do enfrentamento do futuro. Não se pode fugir das situações mais incômodas. Sempre fui de enfrentar o medo. Espero mesmo que isso me liberte...
Há dias bons, dias ruins e dias tristes. Nestes, não é possível ser poeta.
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