SP, 14 de maio de 2021 (sexta-feira, 02h32)*
Gostou deste post?
![]() |
Imagem por Rattanakun. |
![]() |
A gentileza mora no delicado do acaso. |
![]() |
Imagem por StockSnap, via pixabay. |
![]() |
Imagem por Pexels, via Pixabay. |
![]() |
Foto feita por mim. |
![]() |
Foto por Aldebaran S, via Unsplash. |
![]() |
Foto por Nick Nice, via Unsplash. |
Não sei bem como ou quando o fim
se deu. Sei que naquele dia, em que nós dois nos sentamos na escada do jardim
do museu, eu sabia que te perderia. Meu choro vindo do nada, totalmente
descompassado indicava isso e, por mais que você me abraçasse sem jeito e
dissesse que tudo ficaria bem que não me deixaria, eu intuía que algo de errado
não estava certo.
Nos últimos meses murchei como
murcham as flores em um vaso bonito e sem água. A falta de ar me fez permanecer
dias a fio deitada, no quarto escuro, em posição fetal. Em looping, fiquei
repassando cada gesto, cada sorriso, me perguntando o que, afinal, eu tinha
feito de errado. Logo eu, que sempre me esforço tanto para que tudo seja
perfeito, onde poderia ter falhado?
Não sei se ele se recorda do dia
em que trouxe essas flores para casa. “Cada uma me lembra um detalhe seu”, ele
completou sorrindo de lado, como um superstar, ao notar a minha cara de
espanto. O buquê era delicado, e eu não me reconheci ali. Talvez este fosse
mais um dos indícios de que nada daria certo. Sempre fui a cabeça dura, que
responde todo mundo e que move montanhas pelo que quer. Como poderia ser
delicada a ponto de ser flor?
As flores mortas no vaso indicam que algo morreu dentro de mim. A espontaneidade, o cuidar do outro, o sorriso sincero. Cada flor que foi secando me força a me lembrar de cada parte de mim que doei sem medo e sem preocupação. Hoje já não quero mais buques de flores. Hoje prefiro ser jardim na aurora. Se fui flores como ele afirmou, ele esteve longe de ser um amante da natureza.
![]() |
Foto por Huyen Pham, via Unsplash. |
![]() |
Foto por Irina Iriser, via Unsplash. |
![]() |
Foto por Laura Rivera, via Unsplash. |
![]() |
Foto por Mikita Karasiou, via Unsplash. |
![]() |
Foto por iMattSmart, via Unsplash. |
![]() |
Foto por Alec Krum, via Unsplash. |
![]() |
Foto do entardecer de 15 de fevereiro de 2021. |
![]() |
Foto por Annie Spratt, via Unsplash. |
![]() |
O tema da blogagem coletiva de novembro de 2020 foi: coisas não ditas. Para saber mais sobre o Projeto Escrita Criativa, clique aqui. |
![]() |
Poesia e Camomila. |
Camomila toda observadora. |
A Poesia ama se pendurar assim e cadeiras e grades da janela. |
Poesia e Camomila em busca de um solzinho. |
Poesia no meu colo, enquanto eu me preparava para retomar a leitura do Quincas Borba. |
![]() |
Céu mudando de cor, visto do meu quintal. Imagem: Fernanda Rodrigues |
Passo os dias trabalhando sem sair. Entre um digitar e outro, uma leitura e outra, vou da sala à cozinha, coloco a água para ferver na chaleirinha velha e solto o berro em direção ao quintal:
— Mãããããããe, quer café?
A tarde se esvai enquanto a água segue seu caminho entre o pó e o filtro até fazer morada no fundo da caneca. Observo a fumaça quente e o cheirinho que se espalha por toda a casa. A moradia se converte em aconchego do lar.
Saio para o quintal com minha caneca na mão. Sorvo o líquido quente aos poucos. As gatas dormem em suas caixas de papelão depois de terem corrido muito atrás de seus brinquedos. Estou só — minha mãe já voltou para algum de seus muitos afazeres — mas não estou. Sinto um calorzinho por dentro, que sei que não é só o efeito do café quente. Então, olho para cima.
![]() |
Céu mudando de cor, visto do meu quintal. Imagem: Fernanda Rodrigues |
O fim do dia sempre foi o meu horário preferido. Agora, em quarentena, ele ganhou um novo significado. Olhar para cima é a minha forma de respiro, o meu sair de casa sem sair, a minha resistência. Ver o céu mudando de cor me lembra de que há vida acontecendo — dentro e fora de mim. O sol se põe me lembrando de que o mundo — ah, o mundo! — ele continua a girar.
De algum modo esta pausa me faz esquecer das incertezas, me afasta do que me dói. A vida não é mais sobre o caos político ou sobre um vírus que mata por onde passa. Não. Durante aquele espaço de tempo de meia hora, quarenta minutos, em que o azul claro se transforma em laranja, em rosa, em roxo até que se escurece de vez, a vida é sobre estar presente e honrar o próprio silêncio.
![]() |
Imagem de komahouse por Pixabay. |