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quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Beleza

quarta-feira, agosto 16, 2023 6
Foto feita por mim. Para ver mais delas, clique aqui.


Flores são lembradas como natureza em expansão. Buquês, como amor e casamento. Coroas, como homenagem aos mortos. Flores secas envelhecem no tempo, na delicadeza e na distância: se esfarelam sem motivos grandiosos. Chegar à adolescência é tido como florescer. Há flores com espinhos. Há as carnívoras, armadilhas mortais aos mosquitos. Flores doces, cheirosas todo tempo. Flores que só se perfumam à noite. (A maior flor do mundo é fedida.) Floradas longas ou breves. Ipês colorem as ruas. A flor de cerejeira é símbolo do Japão. São Paulo tem a Casa das Rosas. Nasci na primavera porque minha mãe me pariu no Hemisfério Sul. Vinícius escreveu "A rosa de Hiroshima". Clarice descreveu os encantos do Jardim Botânico em um conto chamado "Amor". 

Elenco ideias. 

Quero escrever algo leve e bonito, mas como escrever algo leve e bonito quando as mazelas do mundo me atingem em cheio?

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domingo, 7 de maio de 2023

Tarde de domingo

domingo, maio 07, 2023 2
Imagem por Pexels, via Pixabay.

Tento manter a calma enquanto espero. Talvez o que mais me irrite seja o barulho das vozes que não são minhas. Das vozes que não são nossas. Da ausência constante de conexão derradeira. Daquilo que me permita escutar. Sinto alívio quando o microfone é desligado, quando o celular é desligado, quando o falatório entra em suspensão. Observo o beijo silencioso. 

Gosto do escuro estático. Do relógio quebrado em que os ponteiros giram em um ritmo próprio. Das sinapses que levam pensamentos de um lado a outro. É possível ouvi-los em um domingo agitado na cidade? — Respiro. Uma, duas, três vezes. — O ar gelado me faz pôr o casaco de vó. Afeto. 

O que é afeto? O que é se relacionar? Onde mora profundidade? Listo os questionamentos que passam pela minha cabeça enquanto o blá blá blá ao lado é retomado e eu não consigo fazer o que me proponho. Um cara de 30 quer ser profundo quando não passa de um moleque. Penso que a moça de 27 sabe disso, mas finge que não sabe. Ele é só mais um exemplo de pessoas que querem parecer profundas quando são rasas, que desejam parecer descoladas quando tudo o que fazem é criticar outros modos de pensar. Por não se sentirem capazes, tomam outras formas de pensar como errado. E o que é o certo? Há algo certo? 

Encontros não passam disso: pequenos esbarrões em que lábios se tocam e línguas se entrelaçam. Não há tempo a perder, mas há algum ganho? Viver: o agora sem cultivo do futuro. O agora sem projeção temporal chega a algum lugar? Há desejos sem sonhos, mas não há sonhos sem desejos. 

corpo-casa.
casa-templo.
copo cheio.
natureza temporal.

Onde é que tudo isso mora?
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quarta-feira, 19 de abril de 2023

Invariável quando existir

quarta-feira, abril 19, 2023 4

Foto de Javier Allegue Barros, via Unsplash.

Haver é um verbo vindo do ventre da esperança que se questiona sobre o infinito expandido na minúcia particular. O que há de vir vai realmente chegar em forma de matéria ou de sorriso?

Haver verte o eco sonoro sincero de quem equilibra pureza e esperança como quem engole as lágrimas do medo para seguir em frente. Adiante, diante do mundo.

Haver é veste da deusa tríplice: Hécate poderosa que tem em si a donzela, a mãe e a anciã, que há e que por haver basta.

Haver é direto, transitando intransferível. Cena tragicômica de quem sente que é transporte de um coração que bate.



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domingo, 24 de abril de 2022

Contradições

domingo, abril 24, 2022 10
Mulher se equilibrando numa corda elevada, como em um número circense ao ar livre. Sobre a imagem o título do post "Contradições".
Foto por Bianca Ackermann, via Unsplash.


Brotam sensações diversas. Não sei de onde vem o desejo, mas ele é latente e coabita este corpo. É quente, como todo fogo que ferve o sangue de quem tem fome de justiça. Não sei de onde as sensações surgem, mas elas estão acompanhadas da força de quem vai à guerra.

Dinheiro, poder, vírus. Nada mais importa. Tudo isso importa. É nessa dança que sobrevivo. Brinco de viver. Brinco de entender. Mergulho sem saber nadar. Me jogo nos braços do incerto. Perco o controle. Perco o jogo. Não seduzo, coloco para fora as sensações que não compreendo. Não quero mais fingir. Sou frágil. A vulnerabilidade vem à tona. Gosto dela.

Este lugar é escuro. Não sei qual é o final do caminho. Não sei quanto tempo demorará para que eu chegue lá. E eu quero chegar lá, afinal? Felicidade é uma palavra grande e tão efêmera. Só se sabe que se é feliz quando já se foi. O que é a dor se não o eterno desconforto de viver?

Galopeio em meus próprios pés. Nunca fui boa em domar cavalos. Não sei me domar. Sempre tentei, nunca consegui. Hora de abandonar as malas e sair só com a roupa do corpo, com as sensações que brotam. Elas são diversas, mas não julgo. Bem e mal convivem com o desejo e com esse corpo pensante, delirante. Danço no caminho, porque não sei ao certo me equilibrar. O que me tira do eixo é o que me faz pulsar? Se for, agradeço.

Recomeço. Não sei se é substantivo ou verbo. Tudo depende da entonação dada na leitura. Tudo depende de como leio a minha jornada.


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terça-feira, 12 de abril de 2022

Incertezas

terça-feira, abril 12, 2022 6
Imagem por lillolillolillo, via Pixabay.


Faço poesia para driblar o tempo. O futuro é tão incerto que até o segundo seguinte hesita em chegar. Escrevo, porque quero entender as faltas — de segurança no mundo, de um amor romântico, de saúde pública, da dor vista — e que fazer com elas. 

Faço poesia justando palavras como gostaria de juntar as pessoas que amo e admiro — estejam elas aqui ou na China, vivas ou não. Crio odes aos meus antepassados e cartas ao meu futuro latente em esperança vindoura. Escrevo, rasuro rascunho, não sei se publico ou se guardo, mas não desisto de montar esse quebra-cabeça infinito de pensamentos.

“Ando desnorteada, sem compreender o que me acontece e sobretudo o que não me acontece” — leio no fim de uma das crônicas de Clarice. Suas palavras me abraçam e, mais uma vez, sou Poesia.

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terça-feira, 22 de março de 2022

Microcosmo

terça-feira, março 22, 2022 14
Júpiter. Foto por Nasa.


Transbordo para dentro. A saudade me consome. A ausência me devora. A ancestralidade me lembra que sou humana, com pés no chão e ar inflando os meus pulmões. Transbordo a bordo de um planeta que flutua no infinito. Me abrigo nos sonhos, nos desejos, no porvir. Choro para parir a esperança. Lágrimas que comunicam, que lavam, que purificam. O inconsciente grita e ganha luz. Milagre é uma palavra que se materializa. O incrível é duradouro. Me reconecto, para continuar vivendo.

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segunda-feira, 15 de março de 2021

Das polaroides, leituras e uma rotina que é só nossa

segunda-feira, março 15, 2021 20
Foto por Laura Rivera, via Unsplash.


Levei seus textos pra cama. Você havia pedido que eu lesse os seus poemas e dissesse o que achei. A tarefa é árdua. Como não gostar de algo vindo de você? 

Levei os seus textos pra cama como alguém que abriga sonhos. Cada linha é uma pérola, pedra preciosa que habita o fundo do meu oceano. 

Levei seus textos pra cama desejosa de te conhecer a fundo. Quis mergulhar no seu mundo numa tomada de fôlego, oxigênio que me mantém viva. Escrever é nossa sobrevivência. 

De tão focada que estava, não percebi você à porta. Despertei com o flash da polaroid que captava o momento em que eu me encontrava mergulhada em suas palavras.

Nossos olhares se cruzaram, e você sorria. Sorria sendo um menino que reencontra a esperança depois de tanto tempo. 

Nossos olhares se cruzaram, e eu sorria. 
Sorria tendo a certeza de que vivia a simplicidade de tudo o que sempre quis.

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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Vastidão | BEDA agosto/2019 #15

quinta-feira, agosto 15, 2019 16
Em Curitiba, Paraná.
A história que passa na sua cabeça, de eu ser sempre feliz e autoconfiante, essa não é a história da minha vida.

A história da nerd que sempre sabe tudo, que sempre tem uma resposta pronta, que sempre tira nota 10, essa não é a história da minha vida.

Também não faz parte da minha vida ter sido cortejada, ter tido muitos namorados, caras a rodo para beijar. Nunca fui a preferida. De longe, essa não é a história da minha vida. 

Não faz parte da minha narrativa o corpo esguio, o cabelo loiro e liso, os olhos azuis. Esse não é o biotipo da minha vida.

A profissão de prestígio, de riqueza, de luxo? Não foi essa a que escolhi.

Faz parte da minha vida me rasgar por inteiro, me converter em palavras. Faz parte da minha vida construir o futuro e apoiar sonhos. Faz parte da minha essência olhar para fora e olhar para dentro.  Faz parte querer viagens, não filhos. É inteiro querer afeto, não fachada. Vivenciar o profundo que habita no coração.

O sentir é essencial na minha vida.
O ser é inerente na minha vida.
O pulsar é a sinfonia que me move.

O meu caminho pode até ser tortuoso, cheio de marcas. 
A minha história, contudo, é Humana. 

(E ainda bem.)

O tema da blogagem coletiva de agosto de 2019 é: Não é história da minha vida.
Para saber mais sobre o Projeto Escrita Criativa, clique aqui.

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segunda-feira, 1 de julho de 2019

(De)Composição #13

segunda-feira, julho 01, 2019 12
Imagem: Tentes.
Os moradores do prédio acordam em quase todas as madrugadas, com a pressão que segue abafada. As ondas sonoras viajam andar por andar até chegar ao meu apartamento oriundas do 13° andar. A melodia é triste.

As notas esparsas do piano às 3h59 seguem dolorosas. Fogem às tradicionais valsas de Chopin. Cavalgam anos luz ao Barroco de Bach. Trilham caminhos desconhecidos aos de Beethoven. São dela. Mais do que isso: aquelas notas, abafadas pelo calor fora de época que faz nas últimas madrugadas, são — sobretudo — ela.

Apesar de barulhento, ninguém reclama do piano. Pessoa alguma é capaz de rechaçar a melodiosa rotina deturpadora de sonhos. Ninguém contesta a existência dela, que ao longo do dia apenas meneia a cabeça em um silencioso "bom dia" ao passar por algum vizinho no elevador.

Eu, por minha vez, sempre ensaio tocar no assunto, dizer-lhe o quanto seria bonito vê-la percorrer agilmente as teclas do piano, à medida em que os raios solares vencem a janela e inundam o chão da sala. Na minha cabeça, ali beberíamos vinho e faríamos amor. Respiraríamos juntos, no silêncio deixado pelas notas de nossos corpos, enquanto eu tentaria desvendar este ser. Tudo se daria como o ápice do roteiro de comedia romântica mais clichê, no apartamento dos sonhos lá do 13° andar.

Silêncio agudo.
(Esta noite tiram-lhe o piano.)

Da minha cozinha, ao mesmo tempo em que bebia o café amargo da insônia, ouvi o baque do 13° andar.

O tema da blogagem coletiva de junho de 2019 é: Décimo terceiro andar.
Para saber mais sobre o Projeto Escrita Criativa, clique aqui.

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