O paradoxo viajante
Fernanda Rodrigues
sábado, janeiro 09, 2016
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Histórias de amor. Tenho uma forte tendência a fugir delas. Deve ser porque nunca tive uma boa para contar. As minhas, todas elas, tiveram um final infeliz e boa parte delas só começaram do meu lado. Histórias de desamor. É assim que prefiro chamá-las. É assim que posso nomear o que já vivi.
Fujo das histórias de amor, porque não quero acreditar nelas. Tenho medo que, mais uma vez, elas me usem como uma marionete e, quando se cansarem, me joguem fora, ao relento. Prefiro apegar-me ao fio que me resta de dignidade e de amor próprio. Se cultivá-los, pelo menos não corro o risco de de me decepcionar comigo mesma. Sim, é assim que prossigo na minha vida solitária. É assim que arrumo coragem para deixar tudo para trás e mudar de país.
Coragem é uma força de expressão. É claro que estou aqui, morrendo de medo de ir para um lugar desconhecido, sem ter uma alma viva que fale a minha língua e que possa me ajudar. Ainda mais, porque esta ideia surgiu depois de ter visto uma citação do Michael Jordan em algum perfil motivacional lá no instagram. A frase dizia: Nunca diga nunca, porque limites, assim como o medo, geralmente são uma ilusão. Seria a minha solidão uma ilusão?
Quando contei os meus planos à minha melhor amiga - Ana é o nome dela -, ela soltou o riso frouxo, que lhe é bem típico, acompanhado de um "Catarina, você é louca? Vai mudar de país só porque viu uma frase do Michael Jordan no instagram? Você nem de basquete gosta!". Primeiro, isso é uma infâmia, adoro basquete! Segundo, eu sei parece uma loucura; mas, sim, mudarei de país e deixarei para trás todas as histórias desamadas. "Se é para ser sozinha, vamos fazer isso direito!", foi a minha resposta.
Agora estou aqui, uma verdadeira covarde prestes a embarcar, paradoxalmente levando comigo toda a bagagem da minha ilusão.
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