terça-feira, 29 de março de 2011

Voltando às origens

terça-feira, março 29, 2011 0
Hoje, recebemos em meu trabalho uma visita de um chileno. Visita esta que coincidiu com a releitura de um dos meus poemas favoritos, o “Poema 20”, escrito pelo também chileno Pablo Neruda... Isso gerou em mim recordações diversas de quando comecei a escrever...

A escrita brotou em minha vida por meio da poesia. Escrever de forma sintética e – por vezes – enigmática aquilo que eu sinto é o que me mantem viva. Entretanto, esse “escrever” não nasceu do nada. Este “escrever” foi fomentado por três grandes nomes... três grandes nomes que por lerem a minha alma, tornaram-se três grandes amigos (eu sei que parece loucura, não os conheci, mas eles são amados por mim e me ajudam tanto quanto meus amigos).

Se os responsáveis por me fazer ler – e gostar de - poesia são o Vinicius (de Moraes) e o (Carlos) Drummond (de Andrade)*, a culpa de eu ter me aventurado no “poetizar” foi do Neruda.

Cerca de 3 ou 4 anos após ter enveredado essa estrada – e de ter lido e relido vários livros de Vinicius, Drummond e Neruda –, “trombei” nos corredores da biblioteca com um exemplar de O Carteiro e o Poeta, do chileno Antonio Skármeta. Quem leu, sabe o quão linda é a narrativa. Tão bonita que, posteriormente, virou filme.

Abaixo segue um vídeo do Skármeta contando um pouco – entre outras coisas - sobre como foi escrever esse livro e a respeito da sua relação com o Neruda**. Espero que vocês gostem!


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* Eu sei que, por respeito, convencionou-se a se referir aos autores por nome e sobrenome e/ou sobrenome. Entretanto, como disse, eles não são autores... não para mim. Vinicius, Drummond e Neruda são, além de autores, amigos, são íntimos, são os escritores que relatam aquilo que sinto, mas que não consigo dizer com minhas próprias palaras.
** Depois de ver um chileno e de ler um poema chileno, ao chegar em casa, deparo-me com a entrevista do video... um chileno falando sobre outro chileno. Overdose boa, não? ;)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Luta e aprendizado

segunda-feira, março 28, 2011 3
Vontade de escrever e colocar para fora esta saudade que aperta o peito. Nostalgias, clichês, lembranças de uma época em que a inocência não envenenava os corações, época em que todos sorriam... É estranho olhar para trás e perceber como as coisas mudaram em 10 anos. Em 10 anos pessoas passaram pela minha vida deixando marcas, amores, mágoas, máculas... Mas, ainda assim, não aprendi a viver sem cada um desses indivíduos. 

Olhar para trás e reviver cada sorriso, cada abraço, cada ato espontâneo... Desejar aquele abraço especial, daquele que um dia foi uma das pessoas mais importantes da minha vida... 

(Luto a cada dia para aprender a viver sem tudo isso... Difícil...)

Pergunto-me se estas lacunas deixadas serão supridas, preenchidas um dia. Acho que não. Cada ser é único. Portanto, é natural que cada marca seja única também. Talvez o que me doa mais é saber que, para algumas dessas pessoas que por minha vida passaram, eu seja apenas mais uma...

Nessa vida paradoxal, passado e presente se misturam e se confundem. Lembranças e fatos reais sincronizam-se. Saudade, amor, raiva, angústia, felicidade. Tudo gera uma nostalgia que me leva ao abismo de levar uma vida na busca de um lugar onde não estarei só.

Ah, tô aprendendo a viver sem você
Ah, tô aprendendo a viver sem você
Ah, tô aprendendo e não quero aprender
Ah, tô aprendendo a viver sem você

domingo, 27 de março de 2011

100 gols *-*

domingo, março 27, 2011 1
Desde pequena acompanho o trabalho admirável do Rogério. Sempre admirei o fato dele não se deixar levar pelo dinheiro. Vê-lo chegando ao 100º gol é motivo de orgulho!!!

Reflexões da madrugada II

domingo, março 27, 2011 2

Madrugada de domingo, eu a pensar nas coisas da vida: educação (minha formação e de meus futuros educandos), rotina alucinante - que me consome -, saudade dos amigos (que por algum motivo estão longe), a falta da tranquilidade serena da infância e a articulação gostosa da adolescência, a preocupação de “não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender”... Complexidades sem fim.

É difícil acreditar em um ideal e vê-lo se dissolver, escorrendo como água entre as mãos. Debato-me como um peixe que luta até o fim, mesmo sabendo que foi retirado das águas. Luto de forma incessante. Dizem que “a vida é uma caixinha de surpresas”. Lanço, então, o desafio para que ela me surpreenda. Preciso que a vida me traga bons ares e coisas novas, motivações que me impulsionem a novos desafios.

O tempo passa, e, assim como um peixe fora d’água, começo a perder minhas forças. É difícil acreditar que “después de la tormenta sale el sol”, quando tantas coisas dão erradas ao mesmo tempo. Estou perdida num labirinto sem fim, cuja saída está cada dia mais distante...

Sei que para que haja mudança é preciso que haja ação. Não adianta não se mover, não tentar outros caminhos, não buscar outras saídas – se não há movimento, nada acontece. Contudo, a incógnita maior, a mais sufocante, é: como fazer isso? Sinto que já tentei todos os meios, que já “gastei” todas as ideias que cruzam a minha mente. Sinto-me esgotada. Não quero abrir mão dos meus critérios, dos meus ideais, dos meus sonhos. É tão difícil assim conciliar sonho e realidade? Como transformar um grande sonho em realidade plena (se não plena, ao menos satisfatória)?

...

A relação homem-mundo é complicada. Talvez – muito provável que seja “quase com certeza” – esta complicação deva-se a própria forma de vida que os seres humanos escolheram para si (sua sociedade e sua espécie). Se “o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”, como retardar esta corrupção? Como minimizar os seus efeitos? Há uma maneira de se fazer isso?

Tento respirar em meio a tudo o que vem acontecendo e não consigo. Debato-me como o peixe que luta. Sei que fui boa ao batalhar por um dia; muito boa na peleja por vários dias, entretanto, será que conseguirei lutar por uma vida inteira e ser imprescindível?! 

(Se for parar para pensar: para quem e por que motivos ser imprescindível?)

Contradigo-me na loucura da busca por entendimento. Entendimento de uma vida que deve ser seguir seu curso, mas que hoje se vê em um rio encoberto de nuvens escuras e mal tempo...

quinta-feira, 24 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

[Resenha] Poesia, cinema coreano e solidão

quarta-feira, março 09, 2011 9
Sadness is beautiful, loneliness is tragical
so help me I can't win this war, oh no*
(Shape of My Heart – Max Martin/Rami/Lisa Miskovshy - Backstreet Boys)


Há tempos penso que preciso andar mais com as próprias pernas e ser menos dependente dos meus amigos. Sei que há momentos que a minha amizade sufoca a todos eles – sou muito superprotetora – e sei que, quando eles se sentem sufocados, acabam me magoando sem querer. Pois bem, uma das minhas metas para este ano é ser solteira e viver bem com essa situação toda, e viver bem com tudo isso, implica em estar mais sozinha. 

Pode parecer meio loucura isso tudo o que disse, mas basta analisar a seguinte situação: feriado prolongado + amigos solteiros longe + amigos comprometidos com seus respectivos parceiros + tempo chuvoso. Diante desta situação você:
a) Fica sozinho em casa, curtindo aquela tristeza.
b) Sai com os amigos comprometidos e fica de vela.
c) Sai sozinho e tenta se divertir.

Bem, eu me prometi que tentaria fazer da minha solteirice a mais feliz possível e, como não tenho mais cabeça/paciência para ficar vendo as PDAs** dos casais de namorados, me restou a alternativa C. O problema é que numa cidade enorme, quando se é nerd, o que sobra num carnaval é museus e cinemas, ou seja, nada muito animador para uma pessoa solitária. Sempre disse que “ir ao cinema sozinha é fim de carreira” e penso o mesmo sobre as idas ao museu. Ir sozinha, não ter ninguém do seu lado para comentar/consolar é a maior prova de solidão que um ser humano pode dar a si mesmo... Mas não é que hoje paguei o que vivia dizendo? Hoje, pela primeira vez em 24 anos de existência, fui ao cinema sozinha.

Sair de casa foi o primeiro ponto “estranho”. É diferente sair de casa para curtir algo sozinha, quando, normalmente, se está cercada por amigos. Meus pais me perguntaram (mais de uma vez) se iria MESMO sozinha, e eu tive que ter um bocadinho de paciência para repetir inúmeros “sim”. Aí, aquela coisa de sempre: ônibus, metrô (maquiagem no metrô, só para não perder o costume), caminhadinha na avenida, compra do ingresso. Comprar o ingresso também foi algo interessante. Ontem havia ido ao cinema assistir Cisne Negro com uma amiga e lá vi o cartaz de um filme que me chamou a atenção, Poesia é o seu nome. Foi ingresso para esta película que eu comprei. Como todos sabem, escrevo poesia, então, não poderia deixar a oportunidade de ver um longa-metragem com este tema. 


Entretanto, não foi apenas o assunto que me chamou a atenção. Antes de partir para esta “aventura” de visitar o cinema sozinha, fui pesquisar sobre a obra cujo cartaz me despertara a curiosidade no dia anterior. No site do cinema encontrei as seguintes informações:

POESIA (DIGITAL)
Coréia do Sul (2010) – 139 minutos.
Gênero: Drama
Censura: a definir
Direção: Lee Chang-dong
Elenco: Jeong-hee Yoon, Hira Kim, Da-wit Lee

Sinopse: Mija (Jeong-hee Yoon) vive com seu neto nas encostas do rio Han. É uma senhora excêntrica com uma mente inquieta e questionadora. Um dia, ela entra por acaso em uma aula de poesia em um centro cultural na vizinhança e é desafiada pela primeira vez a escrever um poema. Sua busca pela inspiração começa ao observar a beleza do cotidiano, as coisas ao seu redor que ela nunca havia reparado. Mas quando a realidade se torna cruel, ela é obrigada a ver que o mundo não é tão bonito quanto ela imaginava.
- Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2010.

O que me deixou impressionada – e mais curiosa ainda – é o fato do filme ser uma produção sul-coreana. Eu, que raramente saio do eixo Hollywoodiano, querendo ver um filme coreano! Isso é o que chamo de sair MESMO da rotina...

Antes de começar a sessão, passeio na livraria (e compras, por que não?), suco no McDonald’s (ninguém é de ferro!) e telefonema para a amiga que faz aniversário (Sue, parabéns one more time!... e desculpe de novo pelo recado tosco na caixa postal! Sou melhor escrevendo do que falando, você sabe disso!). Até que chegou a hora. Ser a primeira a entrar na sala, ver os casais (uns mais jovens, outros bem idosos) se acomodarem, assistir aos comerciais e aos trailers sozinha... Poderia ter sido bem pior se eu fosse a única sozinha na sala de cinema; todavia, como vi as outras pessoas entrarem, percebi que não era a única naquela situação (não fazia parte da maioria, mas também não era a única). 

Falando do filme, ele é simplesmente uma obra de arte! Não é a toa que ganhou o prêmio em Cannes. A fotografia também está de parabéns. O set todo foi escolhido de maneira que ajudasse a compor a essência da trama. A história é envolvente, tocante e surpreendente! Não pude deixar de me emocionar em vários momentos, não pude deixar de sair daquela sala chorando. A busca pela profundidade das relações humanas se reflete na busca pela poesia que Mija faz em seu cotidiano e no seu próprio interior. Como diz o professor do filme: “O difícil não é escrever poesia, o difícil é encontrá-la no coração”. É esta a lição que levo comigo. Uma lição de que já sabia, mas que nunca havia encontrado palavras para expressá-la.


Saí do cinema comovida. Comovida sem colo ou consolo (essa é a parte ruim de ir sozinha). Comovida com a fraqueza e com a coragem de Mija. Comovida com a minha fraqueza e com a minha coragem. Mas, mais do que isso, orgulhosa por um pequeno passo que dei e com a pequena conquista que tive. Comovida e orgulhosa, durmo hoje, sabendo que a Poesia é o caminho, é o MEU melhor caminho para seguir solitária , porém feliz.

PS: Trailer do filme aqui. ;)
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*tradução: A tristeza é bonita, a solidão é trágica / Então ajude-me, eu não consigo vencer essa guerra oh não.
**PDA = Public display of affection = Demonstração pública de afeto

domingo, 6 de março de 2011

Carnaval, chuva e reflexão

domingo, março 06, 2011 1
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
(A banda - Chico Buarque)

Dias chuvosos são propícios a me fazerem refletir sobre quem eu sou e sobre quem eu quero ser. Ver a chuva caindo em seu ritmo - ora acelerado, ora calmo -, me faz querer entender como as coisas acontecem – ou deveriam acontecer, não sei ao certo – em minha vida, tanto no meu trabalho, com as minhas amizades, em minha relação familiar e, é claro, no meu íntimo (aquela partezinha oculta, que somente eu conheço).

Durante estas duas últimas semanas, estive trabalhando a frente daquilo que chamamos de “Formação Inicial” com os novos educadores que chegaram à nossa rede. A ideia desta formação é dar os subsídios básicos para que eles comecem a desenvolver o trabalho de forma menos traumática (digo assim, porque sei que é difícil formar educadores em apenas duas semanas). Ao longo das atividades, pude fazer muitas coisas e aprender muito. Um educador deve ser reflexivo... Essa formação me deu – mais uma vez – a chance de refletir sobre a minha prática. Há cuidados que eu não tinha antes, que levarei para o restante da minha vida como educadora. A questão levantada sabiamente pelo Reginaldo sempre me vem a minha mente (e caminhará comigo por um bom tempo ainda): Você é educador, ou você está como educador? Você é professor, ou você está professor?

Educadores durante a Formação Inicial
Ser professor é ser um tanto egocêntrico. O que importa se o que digo é absorvido, entendido, incorporado e utilizado pelo outro? Ser professor é uma linha de mão única, o conhecimento é deslocado para frente com um objetivo sem o principal foco: o da aprendizagem... Por outro lado, ser educador é ser compartilhador. Educadores querem – e se esforçam para que isso aconteça – que o outro não só aprenda o que lhe é ensinado, mas que também possa multiplicar o conhecimento que construiu. Ser educador não é fácil, porém é muito mais gratificante! É por isso que eu luto e é isso que quero para mim. E, a cada formação que fazemos, fico feliz por ver que há outras pessoas que desejam isso, que acreditam na educação como um dos principais caminhos para um mundo melhor.

Essa reflexão também surge nas aulas que faço no curso de Formação de Professores (Licenciatura). Vejo que muitas pessoas na minha turma caíram de paraquedas: algumas, com uma super força de vontade em conhecer e se aprofundar nas teorias educacionais para melhorarem suas práticas (estes têm tudo para serem excelentes educadores); outras, que estão ali por estarem (pobres das pessoas que tiverem esses colegas como professores)... Neste ponto, volto a mais uma das provocações que surgiram na formação inicial: um educador nunca desiste de seus educandos... Pois é, vejo as professoras Dinéia e Zenaide com toda a paciência do mundo para responder às perguntas mais sem noção que já ouvi sobre educação e as tenho como exemplo de como ser educadoras.

E por falar sobre ter/ser exemplos. Não tenho sido um bom modelo do que se considera uma boa amiga. Minha sinceridade às vezes é feroz em demasia. Muitas vezes machuco as pessoas ao meu redor sem querer... Lidar com isso é difícil não só para quem ouve o que penso, mas também para mim. Uma das minhas maiores brigas internas consiste justamente em como dizer o que penso sem magoar quem eu amo. Quem sabe um dia eu aprenda... De qualquer forma, ainda prefiro uma verdade que machuque a uma mentira que afague. Mesmo que isso faça com que me sinta uma péssima pessoa, prefiro ser ruim dizendo uma verdade a uma mentira e quero que as pessoas façam o mesmo comigo.

(É difícil brigar consigo mesmo. É difícil encontrar o equilíbrio. É difícil ser um bom amigo. É mais difícil ainda ser melhor amigo. O que é ser melhor? Como ser melhor? É complicado ter que fazer algo, ser algo, quando não se sabe exatamente como... Eu não sei. Aliás, “só sei que nada sei”.)

Esse tempo cinza me faz pensar em várias coisas sobre tudo o que vejo: o menino com síndrome de down, que abraça a irmã mais velha e diz que a ama, enquanto todos ao seu redor se comovem no metrô; a importância do trabalho em equipe que reergueu as escolas de samba que tudo perderam com as enchentes; a reportagem de tv que mostra um menino haitiano que participou de uma prova em que correu 6 km apenas porque sabia ao longo da corrida poderia beber água limpa e potável e que, ao final dela, ganharia um lanche composto por duas bananas... 

Como os seres humanos podem ser tão grandiosos e ao mesmo tempo tão mesquinhos? Enquanto algumas pessoas perdem tempo ao reclamarem de uma vida que é satisfatória (pode não ser milionária financeiramente, mas é rica em saúde, em disposição, em amor da família e dos amigos), outras vivem lutando para conquistar um espaço, para reconstruir um sonho, por água e por comida...

Pergunto-me o que posso fazer por aqueles que estão ao meu redor. Ainda que o Brasil só comece a funcionar depois do carnaval, não posso ficar à toa na vida. Até porque, sei não terei um amor para me chamar para ver a banda passar... Tenho que ir a luta, tenho que ser melhor! 

(Mesmo que eu não saiba exatamente como...)

sábado, 5 de março de 2011