A última dança
Fernanda Rodrigues
quarta-feira, janeiro 29, 2020
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Imagem de Scott Webb por Pixabay. |
My dear, we're slow dancing in a burning room.
(John Mayer)
É claro que tudo aconteceu diferente. Tinha que ser assim, porque eu sou a protagonista deste conto. Eu sou aquela mocinha que foi programada para morrer ou terminar sozinha no final. Aquela que, involuntariamente, recebe os olhares de pena e um "oh" de dó. Nossa história não tem um final feliz, porque ela não é nossa.
Veja bem, aquele dia não foi uma festa. Aquele dia, a última vez em que nos vimos, foi um enterro. Talvez por isso tenha chorado tanto. Não era só a nossa relação que morria. Um pedaço meu era enterrado vivo, junto àquilo que eu julgava ser a nossa breve narrativa.
O jardim era bonito. O luar era bonito. O silêncio era bonito. Na verdade, o silêncio era lindo, porque era a nossa música. A ausência de som que respeitou a minha perda quando você me abraçou. Ao silêncio do luar devo o acolhimento das minhas lágrimas. Você não entendia, eu também não. Mas a minha intuição já me dizia: "não importa o que ele fale, esta é a última dança de vocês dois".
Vivi o luto. Talvez ainda o viva. Entretanto, tantos anos depois, a dor deu espaço a uma nostalgia que me impulsiona. Ainda que eu tenha enterrado um pedaço meu em ti e ainda que eu já não tenha mais aquele brilho no olhar, quero voltar aos salões em que eu sou a rainha de um sentimento puro e profundo. Como poder voltar a acreditar, contudo, ainda é um mistério que, por sorte, o meu lado sherlockiano está disposto a desvendar.
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O tema do mês de janeiro de 2020 é "A última dança". Para saber mais sobre o Projeto Escrita Criativa, clique aqui. |
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