Imagem: Facebook da Patti Smith. |
O livro é uma mistura de fatos reais, de sonhos e pura ficção. Ao contrário do que acontece em Devoção, essa miscelânea não tem fronteira clara. Pelo contrário, em O Ano do Macaco, não importa a fronteira de cada uma dessas fontes que compõe a história, é justamente o borrão que faz da narrativa intrigante. O leitor caminha ávido pela imaginação e pela biografia da autora, sem querer desvendar esse mistério, porque há outro maior: a própria vida o que a cerca.
Capa da versão estrangeira de O Ano do Macaco. Como é possível ver mais abaixo, a capa brasileira (de Fabio Uehara) manteve a essência da versão em inglês. Imagem: Facebook da Patti Smith. |
"De manhã, bebi dois copos de água mineral, fiz uns ovos mexidos com cebolinha e comi em pé. Contei o dinheiro, pus um mapa no bolso, enchi uma garrafa d'água e enrolei uns pãezinhos doces num pano. Era o Ano do Macaco e eu havia me transportado para um novo território, numa estrada sem sombras sob um sol molecular". (página 64)
O Ano do Macaco é escrito com uma linguagem própria, poética. Poética não só no sentido das imagens que constrói, mas no modo de captar o mundo. E de lidar com ele. Como comemorar o aniversário quando se vê a vida dos dois melhores amigos - o músico e produtor Sandy Pearlman e a o escritor Sam Shepard - se esvaindo? Como lidar com o planeta ficando cada vez mais conservador? Uma saída talvez seja experimentar o presente (seja ele uma noite do sono, o restaurante preferido ou uma carona com um casal excêntrico). É isso que faz com que Patti atravesse 2016: ela carrega e transmite uma melancolia misturada a uma pequena dose de esperança. É isso que faz o leitor se afeiçoar tanto à sua obra.
Livro: O Ano do Macaco
Autora: Patti Smitt
Tradução: Camila von Holdefer
Páginas: 168
Editora: Companhia das Letras
Apresentação: Em O ano do Macaco acompanhamos uma Patti Smith prestes a completar setenta anos e precisando lidar com a perda de dois amigos queridos – seu mentor, o músico Sandy Pearlman, e seu referencial artístico da vida toda, o escritor e dramaturgo Sam Shepard. O ano é 2016. Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e Patti, na estrada, atravessa o país fazendo shows, deixando-se levar por sonhos e delírios, adentrando a bruma de uma espécie de mundo das maravilhas muito particular, onde a lógica do tempo não existe e os mortos podem falar. Nessas memórias, a autora do aclamado Só garotos nos leva por uma delicada e surreal jornada ao coração de um dos períodos mais turbulentos de sua trajetória.
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Oi, Fernanda como vai? Ainda não li esse livro de Patti Smith, mas com sua resenha fiquei interessado em conhecer a obra. Me parece um livro único. Abraço!
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Oi, Luciano!
ExcluirGosto muito de como a Patti amarra a narrativa. É uma leitura muito envolvente. :D
Até mais ;)