Felipe Nani: Em primeiro lugar, obrigado por abrir esse espaço para que eu fale um pouco mais sobre o meu trabalho e também obrigado pela disposição em ajudar. É com atitudes assim que nós fortalecemos nosso campo literário e artístico.
Desde muito novinho estive conectado à arte e suas formas, embora sempre houvesse uma grande resistência para que eu não praticasse ou exercesse nada voltado a esse segmento, no sentido de que, na minha realidade, como a de muitos, o caminho de fazer um curso profissionalizante em uma área tecnológica ou que tenha consolidação no mercado de trabalho é o caminho “certo” a ser seguido. Isso foi (ainda é) um fator determinante para que eu transitasse pelas beiradas em alguns segmentos artísticos. Comecei com a música, que me levou a escrever minhas primeiras poesias, isso eu tinha mais ou menos 9 anos de idade. Depois migrei para o desenho de HQ, onde comecei a rascunhar as minhas primeiras estórias de super-heróis. Como eu comentei, foi um momento em que tive que caminhar pelas beiradas, nada muito a sério, então entrei no ramo da indústria de energia elétrica e deixei de lado tudo referente a arte, isso com 14 anos. Por um acaso da vida, em um churrasco encontrei um amigo e começamos a falar sobre cinema, eu tinha 18 anos e naquele dia, e decidimos entrar em uma escola de teatro. Foi onde me reconectei com a arte, comigo mesmo e percebi que sou um artista. Nesse meio tempo atuei em cerca de 10 montagens teatrais. Foi no teatro, imerso em um processo criativo onde nós, atores e atrizes, por indicação da direção, éramos produtores da nossa própria dramaturgia, que veio a vontade de escrever e escrever. Essa foi a brecha para que eu voltasse a rascunhar estórias, crônicas e poesias, e passei a produzir os meus próprios textos como ator. Foi um momento extremamente importante para que eu entendesse que dentro de qualquer forma de arte que eu estiver, serei um contador de estórias, um criador de metáforas. Foi também um momento muito bonito onde percebi que não adiantava ficar sufocando meu sonho em um emprego em uma área que não me contemplava como ser humano. Fiquei um bom tempo para reunir um dinheiro para que hoje eu tenha uma folguinha para me dedicar a escrita.
Felipe Nani, autor de Insânia. |
AO: Como é a sua rotina de trabalho com a escrita? Você estabelece metas para si mesmo? Você tem outras ocupações profissionais além da escrita? Se sim, como concilia os dois?
FN: Normalmente eu escrevo pela manhã, assim que acordo. Estabeleço um cronograma e horários para que eu também não fique apenas na escrita, já que também tenho outras atribuições. Sou estudante de Game Design e atualmente estou trabalhando como designer e redator freelance para que eu consiga ter uma renda para manter e consolidar o meu sonho de ser escritor. Eu basicamente tenho o meu cronograma e uma tabela de horários onde tenho que ter disciplina para cumprir.
AO: Você tem alguma formação literária, estuda por conta própria ou escreve de maneira intuitiva? Como é o seu processo de busca por aprimoramento profissional?
FN: O Insânia foi um romance que veio de forma totalmente intuitiva, eu não sabia sequer o que era uma estrutura de 3 atos. Foi um experimento que surgiu de um sonho (pesadelo). Naquele dia acordei de madrugada fazendo anotações e dizendo para eu mesmo “Eu preciso escrever esse sonho”. Assim surgiu um romance. O Insânia veio em um momento em que as emoções provocadas pelo teatro estavam pulsantes, e eu estava consumindo muita literatura e dramaturgia. Só após terminar o livro que percebi que eu precisava me “profissionalizar”, no sentido de que eu precisava entender mais sobre os processos de escrita e sobre o que a teoria poderia me ajudar para que as minhas próximas estórias sejam melhores. Eu não acredito que é necessário o conhecimento teórico ou ser um acadêmico para ser um escritor, mas toda teoria que é aprendida com certeza ajuda a concatenar o caos criativo, que é extremamente importante para a criação artística.
Nessa busca por estudar mais a fundo, fiz diversos cursos de roteiro e de como contar estórias. Fiz curso com o André Vianco, Nano Fregonese, Thiago Fogaça e por aí vai. Fora os livros clássicos de roteiro e também sobre psicologia, que me deu uma base muito legal de como entender melhor a mente humana.
Felipe Nani no lançamento do seu livro, Insânia. |
AO: Ainda falando sobre o seu processo de criação, quais são os desafios diários de ser escritor? (Como você lida com a procrastinação? Com medo de não corresponder às expectativas? Às vezes bate aquela sensação de insegurança, sensação de não ser bom o bastante? Como você vence os bloqueios criativos de modo geral?)
FN: O maior desafio que enfrento é uma cobrança minha para comigo mesmo. Todos os dias vêm aquelas questões: “Será que vou conseguir viver de escrever?”, “Será que o Insânia vai vingar?”, “Será que terei que voltar a trabalhar em uma área que eu não gosto apenas pelo salário?”, “Tenho que fazer um novo livro o quanto antes”. São pensamentos que minam a minha energia e que acabam gerando esse medo do amanhã. O que me faz voltar a pôr os pés no chão é entender que esse é um processo árduo e que exige muito trabalho. Sempre que me vem essas crises, que também são normais, eu penso que tenho que transformar o medo em trabalho, em possibilidades de fazer acontecer. Minimizar o máximo que eu posso o depender da “sorte”.
AO: Falando do texto em si, o que você mais gosta de escrever? Como funciona o seu processo de pré-publicação dos seus escritos e o que você acha importante fazer antes de soltar um texto no mundo?
FN: A primeira coisa é ler, reler e reler mais uma vez. Só me sinto seguro de mostrar algo quando tenho a sensação de que eu gostaria de ler aquilo que escrevi. Após isso eu mando para os meus amigos mais íntimos e minha parceira, a Lídia, são aquelas pessoas especiais que falam sem receios quando está “ruim” e fazem apontamentos construtivos. Eu os chamo de meus leitores beta. Depois eu volto, lapido mais um pouco e deixo reservado para que um dia eu publique. Aprendi que apagar também é escrever.
AO: Quantos livros você tem publicados? Você pode falar um pouco sobre as suas obras?
FN: Por enquanto publiquei apenas o Insânia, que vou deixar a sinopse e mais informações sobre a obra logo na sequência [Ver no final da entrevista]. Ah, e estou me planejando para publicar minhas poesias e crônicas em um blog, mas isso é um projeto para um futuro próximo.
AO: Qual é o papel das redes sociais para o seu trabalho de escritor? Como é a sua interação com seus leitores na Internet?
FN: Acredito que para novos escritores e escritoras as redes sociais são imprescindíveis para que os projetos deem certo. É um campo onde encurta drasticamente os espaços e intermédios que haveriam sem ela. Pelo menos, no meu caso, sem as redes sociais, o Insânia nem estaria engatinhando como está hoje. Construir uma audiência e uma conexão com seguidores/leitores é a única maneira, ao meu ver, de levar o oficio de ser escritor para frente nos dias de hoje. As formas de se conectar e de se relacionar estão muito diferentes de dez, vinte anos atrás, então devemos nos atentar e aproveitar o lado positivo que essas mudanças fornecem e nos atentar com o lado negativo é intrínseco a questão virtual e superficial que permeia o campo das redes sociais. É claro, não deixando de lado que é muito importante participar de eventos, conversar com as pessoas e passar o livro de mão e mão.
AO: Como você vê o mercado editorial para os novos autores? Quais são os principais desafios para quem quer publicar?
FN: Ainda é um mundo muito novo para mim. Cada dia estou aprendendo uma coisa nova. Acredito que estou conhecendo os maiores desafios, que é o de fazer o livro chegar até as pessoas e de que as pessoas ao redor encarem o ato de escrever um livro e produzir conteúdo literário é um trabalho que precisa ser remunerado, como qualquer outro. Como autor independente e desconhecido é muito difícil que as pessoas apoiem ou se interessem pelo trabalho. Para a pré-venda do Insânia fiz um projeto no Catarse para cobrir os gastos que tive com a publicação, que não foi nada barato e tirei do meu bolso para realizar. Nesse período de campanha, pude ter o feeling de muitas situações que rondam esse meio literário e alguns até similares com o das outras formas de arte. Como por exemplo em que as pessoas estão muito mais interessadas em criticar tecnicamente do que de fato consumir a estória. Também existe o lado de não entender que escrever um livro é um trabalho, que necessita de tempo e dinheiro para que vingue e se sustente. Acredito que precisamos abrir formas de diálogo para que esteja mais claro que as manifestações artísticas, deslocadas do eixo industrial e convencional de se ter uma fonte de renda, é sim um trabalho. Quando eu fazia teatro, dedicava o meu dinheiro e tempo em estudos e ensaios, no momento de apresentar as pessoas pediam ingresso gratuito para assistir as peças. A mesma coisa aconteceu e acontece com o livro. Ninguém é obrigado a consumir a arte de ninguém, mas precisamos evidenciar essa questão que barra o crescimento dos artistas, para que haja um campo de maior respeito e disponibilidade para que artistas sobrevivam do seu ofício.
AO: Quais são seus projetos futuros?
FN: Bom, eu tenho um projeto de ensaios, que venho escrevendo faz algum tempo, mas não sei se está no momento de lançar, acredito que eu tenho que viver mais, construir um público com romances antes de eu lançá-lo. Estou em um processo de criação de um romance novo já faz 1 ano e posso adiantar que ele está um pouco pesado, estou pesquisando formas de deixar a leitura menos chocante e mais densa, não será um terror ou horror, é um livro de suspense/thriller e estou muito ansioso para terminá-lo, mesmo sabendo que é um processo árduo e que exige muita persistência e paciência.
AO: Deixe o seu recado para os leitores do Algumas Observações.
FN: O recado que eu gostaria de deixar é: Obrigado por ter lido essa entrevista até aqui. Obrigado, Fernanda, pelo espaço cedido. Me acompanhem nas redes sociais, pois é só o começo da minha carreira como escritor. Nós, apaixonados por literatura, vamos olhar com mais carinho ao redor, pois há muita gente bacana produzindo coisas legais por aí, não falo necessariamente de mim. É só entrar nos projetos de financiamento coletivo ou ir em feiras de autores independentes, tem muito material lindo e de qualidade sendo feito. Vamos dar uma chance para os artistas independentes e novos que estão por aí precisando do nosso apoio.
→ Para acompanhar o trabalho do Felipe Nani, acesse o Instagram do autor clicando aqui ou lhe escreva no e-mail contato.felipenani@gmail.com.
Muito bom poder conhecer um escritor tão novo em idade e no mundo literário. Me identifiquei com ele pois eu também sempre pendi mais para o lado artístico da vida, além de também ter feito teatro. Ahh e eu amei a sinopse do livro, quando possível vou ler Insânia.
ResponderExcluirBeijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Oi, Leslie!
ExcluirFico feliz de ter te "apresentado" ao Felipe. Ele é muito gente boa, muito talentoso e merece o carinho <3
Beijos
Uau, que entrevista incrível. Ainda não o conhecia, mas fiquei doida para ler o ''Insânia'', deve ser um livro ótimo! ❤
ResponderExcluirhttps://www.kailagarcia.com
Espero que você consiga ler! (Entre em contato com ele para comprar o livro!)
ExcluirO Felipe é muito talentoso. :D
Um beijo
Oii, como vai?
ResponderExcluirEu tenho escrito um pouco ultimamente e por isso gostei bastante das dicas, a entrevista ficou bem recheada e já anotei algumas diquinhas aqui.
Abraço,
Larissa | Parágrafo Cult
Oi, Lari!
ExcluirEu fico feliz que as dicas do Fê tenham ajudado. A ideia era essa mesma! :D Espero que você volte a escrever e leia o Insânia! :D
Um beijo
Gente que demais! Adoro entrevistas.
ResponderExcluirAdoro saber mais sobre os artistas e autores no caso, é muito interessante.
Ainda não conhecia a obra do Felipe, mas super curti :)
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Oi, Valéria!
ExcluirEu fico feliz que você tenha gostado da obra e da entrevista do/com o Felipe. :D
Espero que você consiga ler o livro dele em breve.
Um beijo
Oi, Fernanda como vai? Já li o livro "Insânia" é gostei bastante da experiência que esta leitura me proporcionou. Excelente a entrevista. Sucesso ao autor e a dona do blog. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Oi, Luciano!
ExcluirQue bacana que você já conhecia o Felipe e que a experiência de leitura foi prazerosa.
Agradeço os votos de sucesso e desejo em dobro para vocês também. ;)
E a lista de livros para ler só aumenta. A gente precisa de mais de uma vida só pra ler tudo o que a gente quer.
ResponderExcluirBia do céu, nem me fala, pq olha! Tá difícil! uahsuasuhahus
ExcluirBeijão!
Oi Fernanda!
ResponderExcluirNão conhecia o autor, mas adoro entrevistas pois conseguimos descobrir mais sobre as pessoas por tras daquelas histórias. E quando o autor é simpático, a gente quer ainda mais conhecer as obras, rs.
beijos
http://estante-da-ale.blogspot.com/
Oi, Alê!
ExcluirExatamente isso. Acho que muitas vezes a gente gosta primeiro do autor e depois da obra. :)
Vale a pena investir tempo (de leitura) e dinheiro (comprando o livro) de quem é gente boa! :D
Um beijo
Oi Fernanda,
ResponderExcluirNão conhecia o autor, mas achei super bacana a entrevista.
Só pela sinopse já fiquei curiosa com o livro dele.
Bjs,
Bom fim de semana!
Jéh Diário dos Livros
http://diarioelivros.blogspot.com/
Oi, Jéssica!
ExcluirFico feliz que você tenha gostado e espero que possa ler o livro em breve ;)
Beijos
Oi, Fê!
ResponderExcluirMuito legal a entrevista, é sempre bom ver como os autores concebem suas obras e têm experiências artísticas diferentes. Fiquei curiosa para conhecer mais sobre o livro do Felipe.
Beijos,
Uaba
Oiiiiiiiiiiii! :D
ExcluirEspero que você possa conhecer mais da obra do Felipe. Ele é gente boníssima e mto talentoso. Vale a pena!
Um beijo