Olá, leitores do Algumas Observações.
No post de hoje trago uma entrevista com a escritora contemporânea Regiane Folter. Nós conversamos sobre processo criativo, escrita, mercado editorial e, é claro, sobre os projetos da autora.
Vem conhecer! 😍
Algumas Observações: Qual é a sua memória de leitura mais remota?
Regiane Folter: Lembro de uns livros lindíssimos de contos de fadas que ganhei de presente em alguma data especial. Eram edições de capa dura, ilustrados, grandes e vistosos. Lembro de ler essas histórias com fascinação. Também me recordo com carinho das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica que mamãe assinava e chegavam em casa toda semana. Outra boa memória é a de ler uma série de livros em que você ia criando a história conforme lia. Não lembro bem do nome, mas eram sempre livros meios de mistério e você podia ir escolhendo o caminho da história. Com cada decisão, te levava pra uma parte diferente do livro. Me lembro de adorar essas histórias porque me sentia parte delas.
AO: Comente um pouco como foi o seu despertar para a escrita. Você teve aquele momento de deixar de ver a escrita como um hobby e passar a vê-la como um trabalho?
RF: Sem dúvida comecei a escrever como hobby ou talvez como terapia antes mesmo de saber o que era isso. Desde pequena, escrever me ajudava a lidar melhor com minhas emoções, especialmente as mais cinzentas. Também me divertia inventar histórias, criar mundos e personagens. Conforme fui crescendo, a escrita por diversão foi perdendo lugar no meu dia a dia, já que novas responsabilidades terminaram demandando muito do meu tempo. Mas sempre escrevi como uma forma de fazer catarse e digerir meus problemas e dúvidas. Somente em 2017, aos 25 anos, comecei a encarar a escrita realmente como um trabalho, algo que eu queria que se tornasse parte fundamental da minha vida.
AO: Para muitas pessoas é difícil se assumir como escritores. Como foi esse de se inserir no mercado profissional?
RF: Eu demorei uns aninhos pra me chamar de escritora. Acho que só ganhei coragem mesmo quando publiquei meu primeiro livro em 2020, ainda que há três anos já escrevesse e publicasse semanalmente no meu Medium. Penso que o peso do título de “escritora” nos intimida, porque automaticamente nos comparamos com os grandes autores e autoras que seguimos e amamos. Mas é um processo de desconstrução. Existem muitos escritores e escritoras, cada um com o seu tipo de escrita e publicação, e sempre há lugar pra mais um.
Quando me joguei, nunca mais voltei atrás! Hoje me apresento como escritora e a voz já não treme tanto haha!
AO: Você tem alguma formação literária, estuda por conta própria ou escreve de maneira intuitiva? Como é o seu processo de busca por aprimoramento profissional?
RF: Sempre aprendi muito sobre a escrita por meio da prática mesmo, de ir experimentando e melhorando. Estudei jornalismo na faculdade e o curso sem dúvida me ajudou a trabalhar questões de gramática, coesão, coerência, etc. Depois fiz cursos curtos de escrita e sigo autoras que estão constantemente compartilhando prompts e exercícios que me dão ideias novas sobre como e o que escrever.
Ler muito sempre foi vital nesse processo. Leio todos os dias e sinto que com cada livro, com cada texto, aprendo algo novo. Talvez ler seja a melhor ferramenta que temos para aprimorar a nossa escrita.
AO: Como é a sua rotina de trabalho com a escrita? Você estabelece metas para si mesma? Você tem outras ocupações profissionais além da escrita? Se sim, como concilia os dois?
RF: A escrita está muito presente no meu dia porque além dos meus projetos como escritora também trabalho com marketing, que é o meu trabalho formal das 9h às 18h. Todos os dias começo minha manhã dedicando meu tempo a trabalhar na minha escrita, seja escrevendo algum texto novo, editando outros, ou trabalhando em alguma questão de divulgação do meu trabalho como autora. Prefiro fazer isso cedinho antes de me conectar ao trabalho formal porque sou bem morning person e sinto que de manhã é quando tenho mais energia e melhores ideias.
Tenho metas de coisas que quero realizar como autora no ano e logo mês a mês vou acompanhando os resultados. Sou meio a maluca dos Trellos e das planilhas, gosto de ter listas de coisas pra fazer e ir marcando os avanços. Acho que ter objetivos é algo que me dá um gás, me motiva a continuar avançando.
AO: Ainda falando sobre o seu processo de criação, quais são os desafios diários de ser escritora? (Como você lida com a procrastinação? Com medo de não corresponder às expectativas? Às vezes bate aquela sensação de insegurança, sensação de não ser boa o bastante? Como você vence os bloqueios criativos de modo geral?)
RF: Todas as coisas que você menciona eu enfrento quase diariamente. Sinto muita insegurança, me comparo muito com os demais, penso constantemente que não estou fazendo o suficiente. A mente é a minha crítica mais ferrenha e, como a boa perfeccionista que sou, sempre penso que poderia fazer mais ou melhor. Nesses momentos, a melhor coisa termina sendo conversar com alguém, desabafar num papo ou até mesmo num texto e nesses casos a insegurança termina sendo inspiração pra outra história! Ter a terapia em dia também ajuda muito. Nesses últimos anos venho trabalhando muito a paciência, a aceitar o que posso dar neste momento e celebrar as pequenas vitórias. Não é fácil, mas aí vamos!
AO: Falando do texto em si, o que você mais gosta de escrever? Nos conte um pouco dos livros que você já publicou.
RF: O que mais naturalmente me saí é escrever crônicas, reflexões sobre meu cotidiano e as coisas que observo. Também gosto muito de escrever poesia e contos, me diverte inventar histórias totalmente fictícias, sinto que isso me permite me conectar com a minha menina interior. Em 2020 autopubliquei meu primeiro livro,
AmoreZ, uma coleção de contos e crônicas sobre as diversas facetas do amor. Logo em 2023 publiquei um romance policial chamado
Mulheres que não eram somente vítimas, com a editora Folheando.
AO: Você viu diferença entre os processos de criação dos seus diferentes livros? Como funciona o seu processo de pré-publicação dos seus escritos e o que você acha importante fazer antes de soltar um texto no mundo?
RF: Cada livro que publiquei teve um processo bem diferente um do outro. No primeiro, AmoreZ, o caminho foi meio ao revés. Um dia percebi que tinha escrito muitos textos ao redor da temática amor. Alguns estavam publicados no Medium, outros estavam na gaveta, e o que tinham em comum era que sempre falavam sobre algum aspecto ou tipo de amor diferente. Naquela época eu estava aprendendo muito sobre autopublicação porque trabalhava com uma escritora independente e pensei, “por que não autopublicar algo com todos esses relatos?”. Assim comecei a trabalhar na ideia do livro.
Já com Mulheres que não eram somente vítimas me lembro de ter um sonho sobre a história e ficar bastante impactada. Normalmente não me lembro dos meus sonhos, mas esse ficou gravado na minha mente. No dia seguinte comecei a escrever sobre o que tinha sonhado e a história começou a surgir. Primeiro me dediquei a desenhar uma linha do tempo e marcar o que acontecia na história, cada passo dos personagens até chegar ao desenlace. Depois coloquei a mão na massa e comecei realmente a contar a história. É minha história mais longa e a que levou mais tempo pra preparar, meses a fio.
Quando ficou pronta, eu decidi enviá-la a chamados de editoras e algum tempo depois fui aceita pela editora Folheando.
Em ambos casos, trabalhei muito nos textos antes de compartilhá-los com o mundo. Editei e voltei a editar várias vezes. Também compartilhei a ideia com outras pessoas e pedi feedback. Nos dois livros tive o apoio de revisores que me ajudaram com suas visões objetivas a identificar erros e melhorar alguns detalhes. Acho que é fundamental contar com pessoas externas que possam ver coisas que você não enxerga, porque já está tão imersa na história que detalhes passam despercebidos. Então estar aberto aos comentários alheios é fundamental, te ajuda a elevar a história a outro nível.
AO: Falando de leituras, quais são as suas influências, seus autores preferidos?
RF: Gosto de muitos tipos de escrita e gêneros. Sinto que tudo que leio me influencia de alguma maneira. Se penso nos textos, especialmente crônicas e poesia que venho escrevendo e publicando online nos últimos anos, acho que minhas principais influências são autoras e autores que admiro e cujo estilo de escrita direta e impactante é o que aspiro desenvolver na minha: Camila Sosa Villada, rupi kaur, Amanda Lovelace, Marie Gouiric, Carol Bensimon, Maria del Mar Ramón, Paula Gomes, Martha Medeiros, Alex Dimitrov, Chimamanda Ngozi, Aline Valek, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Ruiz Zafón e Isabel Allende são alguns deles. Acredito que o caminho que eles traçaram é o que me inspira a continuar escrevendo.
AO: Qual é o papel das redes sociais para o seu trabalho de escritora? Como é a sua interação com seus leitores na Internet? Como/onde os leitores do Algumas Observações podem entrar em contato com você?
RF: As redes sociais são um canal importante de divulgação, especialmente para autoras independentes como eu. Estou bastante no Instagram e por lá falo muito sobre meus livros. É um dos lugares online onde as pessoas podem me encontrar mais facilmente. Também vejo plataformas estilo Medium e Substack como espaços interessantes de troca e por lá converso com leitores e outros autores. Acho que quando alguém comenta num texto meu ou eu faço isso no texto de outra pessoa se abre um intercâmbio excelente entre as duas partes.
Os leitores do Algumas Observações podem entrar em contato comigo lá no Instagram ou pelas minhas páginas no Medium e Substack. Você pode encontrar todos os meus links e formas de contato no meu site:
regianefolter.com
AO: Como você vê o mercado editorial para os novos autores? Quais são os principais desafios para quem quer publicar? Como você vê o cenário para os novos escritores no Brasil?
RF: O mercado editorial é supercompetitivo e não é uma jornada fácil. Há muita gente boa escrevendo e sinto que as editoras tradicionais não possuem lugar pra todo mundo. É desafiante se destacar. Acredito que se você realmente quer escrever e publicar suas histórias, é preciso explorar outros formatos: autopublicar, trabalhar com editoras independentes, participar de chamados de antologias, concursos, etc. São caminhos mais autônomos e que com certeza não vão te permitir viver 100% da sua escrita, mas são ótimos para colocar o seu trabalho pro mundo ver. Além disso, esses espaços te permitem ampliar sua rede de contatos e se conectar com outras pessoas relacionadas ao universo literário. Quem sabe que portas você poderia abrir no dia de amanhã?
AO: Quais conselhos você daria para uma escritora em começo de carreira?
RF: Eu lhe diria que tenha paciência, que o processo é lento e pode levar um tempinho até ela conseguir alcançar seus objetivos. Mas como graças à Deusa não há data de validade para escrever, não é preciso ter pressa. Inclusive, lhe diria que se vamos muito rápido, deixamos de desfrutar do caminho. Então meu outro conselho seria: aproveite! Se divirta com a escrita. Se deixar de ser algo que te motiva e te traz felicidade, perde totalmente o sentido.
AO: Quais são os seus planos futuros? Já pensa em um próximo projeto?
RF: Esse ano estou focada na divulgação de Mulheres que não eram somente vítimas, na minha newsletter no Substack e em continuar alimentando meus outros canais de comunicação. Mas já tenho uma ideia para um próximo livro dando voltas na minha cuca, então quem sabe? Acho que em 2025 essa nova obra vai ganhar mais corpo e vou começar a planejar como trazê-la ao mundo.
AO: Deixe o seu recado para os leitores do Algumas Observações.
RF: Obrigada por conhecer a minha jornada! Se quiser saber mais sobre o meu trabalho, toda a informação está disponível em
regianefolter.com.
Se gostou do que eu falei por aqui, vai gostar dos meus livros!
AmoreZ e
Mulheres que não eram somente vítimas estão disponíveis como ebook na Amazon ou em formato físico. Mais info no meu
site.
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Demais escritores entrevistados:
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Oi Fernanda, adorei ler a entrevista. É incrível ver como há semelhanças com meu caminho de escritora. A gente se sente mais pertencente quando se reconhece no relato do outro. Pra mim foi difícil também (ainda é) dizer que sou escritora, porque muitas pessoas colocam uma expressão entre pena e desprezo no rosto antes de geralmente perguntar, "com o que você realmente trabalha", "como obtém sua renda". Isso me desmonta demais porque tenho mãe e pai que financiam minha carreira de escritora e me permitem sonhar, então ainda não preciso me preocupar de imediato com salário fixo, apesar de manter isso em mente.
ResponderExcluirAdorei a sugestão da Regiane de participar de antologias e concursos, pois é exatamente isso que tenho pensado antes de ir atrás dos editais das editoras. Não me vejo nas auto publicações na Amazon, porque simplesmente me conheço bem o suficiente para saber que não tenho ânimo, nem vocação, para divulgar meu trabalho. Vejo isso pelo Universo Invisível com meus contos, crônicas e poemas, tudo de graça que quase nunca faço uma divulgação decente além de compartilhar o link numa rede social. Se um dia tomar esse caminho, precisarei contratar alguém pra divulgar.
Até breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
https://universo-invisivel.blogspot.com (Contos, crônicas e afins)
Oi, Fernanda! Linda entrevista. Parabéns para entrevistada e entrevistadora. Adorei. Abraço!
ResponderExcluirOi, Helaina! Como vai? Menina seu amor por este ator é algo a ser estudado sabia! Seria um amor platônico incurável? Brincadeiras à parte acho muito sadio você sendo fã dele demonstrar isso por aqui no seu blog. Nunca assisti este filme. Que bom que além de ter o seu querido Freeman nele compondo o elenco você também tenha gostado do longa metragem. Um abraço querida!
https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Uma bela entrevista. Acredito que a entrevistada deu ótimas dicas para quem quer se enveredar por esse caminho.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Obrigado por dar a a conhecer.
ResponderExcluirAbraço amigo..
Juvenal Nunes