sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quando o sentimento do mundo está aqui...

Ilustração feita por mim, para o curso de Arte.

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Carlos Drummond de Andrade não é um dos meus poetas favoritos sem motivos. Ainda hoje, tantos anos depois de sua morte, lembro-me de suas palavras. Por mais que sua intenção seja a de transmitir outros sentimentos e outras verdades, seus versos me vêm à mente com uma facilidade, como se fossem um pensamento meu, não dele, que me descreve. Talvez ele soubesse que isso aconteceria, talvez não; mas, de qualquer forma, não poderia deixar de agradecer por conseguir resumir o peso que sinto na tensão dos músculos dos meus ombros de maneira tão poética.

Minhas mãos escrevem o sentimento do mudo que está preso garganta a dentro. É difícil olhar para as lembranças de um futuro promissor e vê-las escorrendo. O amor, que deveria ser confluente, é ausente. Os sonhos, aonde eles foram mesmo?!

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

As pessoas dizem que tudo passa e ficará bem; e, por mais que eu saiba disso, bate aquele desânimo de ver a vida seguindo um rumo que eu simplesmente não queria, não sonhei e não esperava. O desejo é cada vez mais raro. A guerra interna matou tudo: vontade, inspiração, força, luta...

Acabo me dispersando... Será que há alguém lá fora, um ombro amigo, para me abraçar, para me perdoar?!

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

A solidão faz da noite mais negra.
Quero amanhecer... Mas não consigo.

6 comentários:

  1. Essa combinação de Drummond e do desenho me despertou um sentimento lúgrube...E isso não foi ruim...Foi intenso. Gostei...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aaaaaaah!
      Vindo de você, me sinto feliz! :D
      Bom que gostou! :D

      Excluir
  2. :o que lindo! e que triste! os poemas de Drummond são parte de mim e por isso ele é o meu poeta preferido! Guerras internas são sempre desgastantes, mais e a bandeira branca? como funciona pra você?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bandeira branca é algo traduzido por "O poeta é um fingidor..." :)

      Beijos!

      Excluir
  3. Lindo texto, tu tem um dom pra escrever e transmitir sentimentos profundos na gente sabia?! Me identifiquei demais com alguns trechos, e a ilustração ficou liinda demais!

    Beijos
    http://planejandoarotina.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Feliz por você ter se identificado :D
      É sempre muito bom quando isso acontece!

      Um beijo!

      Excluir

Olá!

♥ Quer comentar, mas não tem uma conta no Google? Basta alterar para a melhor opção no menu COMENTAR COMO. Se você não tiver uma conta para vincular, escolha a opção Nome/URL e deixe a URL em branco, comentando somente com seu nome.

♥ É muito bom poder ouvir o que você pensa sobre este post. Por favor, se possível, deixe o link do seu site/blog. Ficarei feliz por poder retribuir a sua visita.

♥ Quer saber mais sobre o Algumas Observações? Então, inscreva-se para receber a newsletter: bit.ly/newsletteralgumasobservacoes

♥ Volte sempre! ;)

Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.