sexta-feira, 31 de março de 2017

Uma tarde na biblioteca

Foto por: Carol Vayda

Desde que me mudei para esta escola enorme, tudo se tornou diferente. Minhas amigas - o quem eu achava que era minha amiga - ficaram muito mais preocupadas em parecerem bonitas para os meninos, do que em serem pessoas com quem outras podem contar. Me vi aqui, encostada na parede de uma imensidão de pátio, sem saber exatamente como agir, mas tendo a certeza de que o que menos quero é atrair um cara babaca como os que andam por aqui.

Ok, ok, eu sei que me apaixonei por um cara que escreve as suas iniciais em todos os lugares - da borracha ao teto do ônibus (sério, não acreditei quando vi aquelas duas letras no teto do ônibus que pego para chegar à escola) - então, talvez tenha sido tão idiota quanto elas. Mas o fato é que eu jamais abandonaria minhas amigas e jamais mudaria algo em mim por causa de homem. Eu, hem? Prefiro ficar só a ter que fazer isso.

O que importa aqui, agora, é que eu acho que a professora de português sacou que eu ando muito largada por aí. Ela tem aquele jeitão de mãe que sabe tudo e deve ter notado que não me adaptei. Tenho 99% de certeza disso, porque ela passou o recado dos horários de funcionamento da biblioteca do colégio praticamente olhando para mim. Foi uma encarada dessas certeiras, que fazem gelar a espinha - ainda que, desta vez, ela tenha feito isso mais por preocupação do que como uma bronca ou algo do gênero. Fora que ela sabe que um dos meus planos é cursar Letras quando sair daqui. Rola aquela identificação de quem respira livros.

Como não tenho nada a perder e ando sem paciência para o "você viu fulano comemorando gol sem camisa na aula de Educação Física?", resolvi que não tinha nada a perder se seguisse o conselho da professora. Por isso, lá fui eu, três lances de escada à cima, em busca da tal biblioteca.

Levei um pequeno susto ao passar por aquela porta minúscula. Aquele lugar era bem diferente do que conhecia, principalmente no que se referia à biblioteca pública municipal que frequentava. Logo ao lado da porta, havia cerca de três mesas redondas. Ao lado delas, um balcão de ponta a ponta. Atrás do balcão as estantes. Fiquei em choque quando soube que não poderia andar em meio às estantes. Nada de contato com os livros.

Quem me explicou tudo isso, de uma maneira muito mais calma do que o estado em que eu recebia as informações, foi uma bibliotecária muito gentil, que estava atrás do balcão. O sistema era simples: pegava uma das pastas disponíveis, olhava no índice o livro que queria, dizia a ela o nome e ela pegava pra mim. Este era o único jeito que a escola havia encontrado para manter o pequeno espaço organizado em meio à tanta gente.

Assim como aconteceu com a professora, Cecília, a bibliotecária, tinha um olhar que era firme e, ao mesmo tempo acolhedor. Ao prever minha dúvida se este era o melhor método de se escolher um livro, abriu a pasta catálogo e foi comentando os títulos que mais gosta, quais eram os que os alunos mais pediam emprestado, quais haviam acabado de chegar. 

Aquele foi o ano em que mais li e, aquele lugar tão exótica acabou sendo o que me salvou de eu me perder. Tudo por causa daquela primeira tarde que passei na biblioteca.

Este texto faz parte do Projeto Escrita Criativa, que reúne escritores e blogueiros para colocarem no “papel” suas ideias. Quem quiser conhecer mais, acesse a página ou o grupo do projeto. Lá há a lista de todos os blogs participantes. O tema da blogagem coletiva de março é "Uma tarde na biblioteca".
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3 comentários:

  1. Que texto lindo! Eu também sempre tive dificuldade de entender como algumas meninas preferem dar atenção para esse tipo de homem, e acabam esquecendo dos amigos por causa disso, não faz muito sentido pra mim. Amei seu blog, estou te seguindo!

    http://lenabattisti.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Oi, Lenise!
      Você é super bem-vinda aqui! :D
      Assim como você, também não compreendo esse tipo de pessoa, mas sei que ela existe. Fazer o quê?
      Beijos

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  2. Oi Fê :3
    Gostei do texto! Bibliotecárias atenciosas salvam vidas, né? Fiquei curiosa pelo cara que escrevia suas iniciais haha achei que fosse comentar mais dele no decorrer do texto, mas como foi um cometário único, o texto ficou parecendo uma parte "tirada" de um livro, muito bom. Você escreve beem :3
    Beijinhos!!

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.