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Por um mundo em que as pessoas saibam a diferença entre os momentos
de parar e os de sorrir. |
Ultimamente venho refletindo muito sobre os limites que as pessoas deveriam ter e ignoram. Tenho observado muito os meus educandos e o que diferencia os que têm um comportamento respeitoso dos que não. Tenho analisado as histórias que me contam e as noticias de jornais. São muitas observações.
Criar uma criança em um mundo moderno em que o dinheiro tudo paga tem sido cada dia mais complicado. O que mais me assusta é o fato de ver preconceito estampado em crianças de 7, 8, 9, 10 anos. Se estão assim nesta idade, imagine só quando adultos?!
Numa das aulas desta semana, em uma turma de 5º ano, comecei a ensinar algumas palavras que indicam direção (in, across from, behind...), porque este era o vocabulário do texto que seria lido nas próximas lições. Pois bem, aproveitei a explicação para dizer para a turma que estas palavras serviriam para orientar algum gringo que estivesse perdido durante a Copa do Mundo. O primeiro questionamento que surgiu foi: eles estão aqui, que falem português. Sobre isso, disse que não custava ser gentil. Então, uma das meninas soltou um: "Eu não tenho obrigação de ajudar. Eles que vão falar com os seguranças... Se bem que seguranças não sabem mesmo falar inglês mesmo...". É claro que isso me deixou um tanto indignada/inconformada, a ponto de soltar um "Como é que é, Fulana?". Para meu alívio, as outras crianças também me ajudaram no argumento de que esta ideia é absurda e que sim, todos que estudarem, podem falar inglês - independentemente da sua profissão.
Já na sala dos professores, minhas colegas contaram que a mãe da tal aluna age da mesma forma. Prepotência pura. Respeito zero. Ainda não conheço tal senhora, mas não sinto a menor vontade, sinceramente.
Hoje, em tempos em que se compra quase tudo, algumas pessoas se esquecem que não se compra valores, educação. E sim, você leu bem, não se compra educação. Pagando a escola mais cara, você paga por conhecimento, por alguém que te ajude no seu desenvolvimento, mas a ética, esta vem de casa.
Tenho alguns educandos que são bons até que ouvem um "não". A cada dia, vejo que as pessoas sabem lidar cada vez menos com esta palavra - ou com a frustração que ela representa. Não sou psicóloga nem socióloga, mas tenho uma teoria para isso: a geração dos meus pais foi criada à ferro e fogo; por isso, quis ser mais light, quando criou a minha geração. Entretanto, nessa época, a situação econômica não permitia que esses pais dessem tudo o que queriam aos seus filhos, diferentemente do que acontece com a minha geração (que agora são pais dos meus alunos). A minha geração trabalha muito mesmo e por isso tem mais condições de dar tudo para os filhos. E nessa de dar tudo o que não pôde ter, não está sabendo medir os limites e as consequências. Pais ausentes (porque estão focados no trabalho, para ter dinheiro) compram os filhos com presentes - seja por se sentirem culpados, seja por não ter paciência para ouvir o choro da criança, quando ela ouve um "não". E assim, os pequenos crescem achando que tudo é fácil, que tudo cai do céu, que tudo deve ser do jeito que eles querem e que quem tem mais é melhor do que quem tem menos.
Na minha época de estudante, se fazia algo errado, meu maior medo era que meus pais ficassem sabendo. Não, meus pais nunca me bateram; contudo, não queria decepcioná-los. Além disso, sabia que se fizesse algo errado ficaria sem jogar vídeo-game ou sem sair com as minhas amigas ou sem conexão com a internet... Hoje, como professora, já aconteceu de eu falar para um aluno que mandaria um bilhete para sua mãe, e ele simplesmente dar de ombros, respondendo um "pode mandar". Qual é a preocupação?! Uma criança que não respeita os próprios pais e que sabe que não será punida não tem motivos para se importar, não é mesmo?!
Como disse no começo do texto, pensar na vida adulta destas pessoas me preocupa e muito. Primeiro, porque se elas não se acostumam com limites, com ética e com respeito desde pequenas, quando forem adultas sofrerão muito para lidar com situações que exijam isso: seja pela frustração, seja por não saber como reagir a isso.
Tomemos como exemplo a crônica vivida e relatada pela minha amiga no
Run Vayda, Run. Ela, ciclista, foi xingada gratuitamente por um motorista, enquanto voltava para casa em sua bicicleta. Então, a sua indignação era:
por que tanta raiva contra os ciclistas?! Fiquei pensando e pensando e, bem, cheguei a outra teoria: novamente isso tem ligação com o
status quo da relação dinheiro X preconceito. Pensando friamente, o caso da raiva dos ciclistas é o mesmo caso do segurança que não fala inglês porque é segurança. Afinal, é mais importante quem pagou rios de dinheiro em um carro e não uma "merreca" numa bike. É mais importante quem está cerado pelo ar condicionado, vendo um DVD enquanto se locomove, do que aquele que chega ao seu destino suado, depois das pedaladas... Preconceito, falta de respeito, prepotência, burrice. Isso é tudo o que consigo pensar.
Numa sociedade insana, de valores invertidos e totalmente individualista, fico pensando qual é o meu papel como professora, como blogueira, como cidadã e como alguém que pensa em ter filhos um dia. Qual é o limite? Como encontrar o equilíbrio? Não é simples, nunca foi. Mas sigo aqui, fazendo o meu trabalho de formiguinha. Espero um mundo com mais amor, por favor!
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Eu ando absolutamente intolerante com pessoas intolerantes! A relação das pessoas com a superioridade a todo custo é quase que visceral nos dias de hoje. Pq "bandido bom é bandido morto", "pobre tem que se ferrar", "se não tem um carro do ano você não vai pegar ninguém"... Eu acredito piamente que o menos é mais, mas em uma sociedade fake - em todos os sentidos - como a nossa, ter mais é, de fato, ter menos: menos consideração, amor e respeito ao próximo.
ResponderExcluirEu entendo o que você quer dizer e acho mesmo complicada essa relação insana do ter, ter, ter, sem dar um sentido para o que se tem. Acredito que vai chegar uma hora que o mundo se cansará de tanta coisa fake e voltará ao simples... Até lá, teremos que ter paciência.
ExcluirNossa, que texto lindo e profundo! Sabe, meu maior medo ao ter filhos é não saber educar, mas agora que vou mesmo ter um, acho que vou me fiar nesse texto e entender que eu não serei uma mãe negligente.
ResponderExcluirMeu filho terá carinho e educação, acima de tudo!
Beijos
Meu Meio Devaneio
Aaaaaaaaaaaain! Que lindo saber que você será mãe!
ExcluirTenho certeza que dará certo pra você, Sô!
O que me assusta em ter filhos é saber que o meu futuro baby conviverá com crianças que não recebem uma educação adequada de seus pais. Vejo muito disso na escola: crianças fofas que fazem amizades com outras e, por influência acabam indo pro lado negativo da força.
Complicado.
Mas no fim, tudo dá certo, né?!
:*
É, a cada dia fica mais difícil criar os filhos dentro dos valores corretos numa sociedade corrompida pela ganância e valores equivocados.
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br/
É mesmo! :(
ExcluirMas a gente não pode desistir de ter e fazer um mundo melhor! :)
Beijos!
Sim, um mundo com mais amor. Acho que concordo contigo em cada palavra do texto. Algo que me deixa com extremo ódio é ver crianças que tem tudo à mão, menos as coisas mais importantes: educação, respeito e amor ao próximo.
ResponderExcluirSe as coisas já estão assim agora, imagine quando essas crianças se tornarem adultas (e o tipo de adulto que serão) e a educação que darão para seus filhos.
Beijos,
ser-escritora.blogspot.com.br/
Eu vivo me perguntando que tipo de adultos que eles serão. E vivo com medo da resposta. Espero que a maturidade lhes dê algo de bom.
ExcluirVamos torcer!