Quando Pandora abriu sua caixa (alguns dizem que foi um jarro), a última coisa que saiu dali de dentro foi a esperança. Talvez por isso mesmo, o dito popular nos diz que a “esperança é a última que morre”, porque ela — tímida que só — foi a última a aparecer. Talvez por isso também que ela tenha data marcada para se renovar, este espaço entre dois mundos: o último respiro de um ano e o nascimento de um novo.
O dicionário, por sua vez, afirma que a esperança é a “confiança em coisa boa”, um sinônimo para fé. Para mim, ela é uma lufada de ânimo que me lembra em continuar. Muito mais do que “esperar”, esperança é se pôr em movimento, ir atrás de estar em um estado de espírito bom que nos leva em frente, é o contrário da pausa de alguém que quer que algo caia do céu — ainda que falar em céu remeta a ter fé (em um Deus, na ciência, em si mesmo, na vida). Ser esperançoso exige coragem.
Gosto da virada do ano porque esta costuma ser uma época planejada em que o desânimo se converte muitas vezes em esperança. Enquanto alguns alegam que nada muda além de um número no calendário — do dia 31 de dezembro para o 1º de janeiro —, eu prefiro ver a passagem do tempo como uma nova oportunidade, individual e coletiva, de continuar acreditando em um mundo melhor, num eu melhor também.
Durante a faxina de fim de ano, no mesmo momento em que esfregava uma parede, ouvia um podcast que dizia que há tantas coisas boas no mundo quanto ruins, mas que tendemos a nos apegar às ruins porque elas são mais veiculadas. Além disso, nunca na história da humanidade, as pessoas tiveram tanto acesso à informação em tempo real. Esses dois fatores se constituem no buraco negro que nos suga a esperança. Estamos sobrecarregados demais com o volume de informações e exaustos demais de seremos bombardeados de notícias absurdamente tristes. Aliás, é interessante notar como usamos o vocabulário bélico para falar sobre isso: “ser bombardeado”. Há coisa que suga mais a esperança do que uma guerra? Há várias guerras em curso no mundo e, como todas, elas são injustas e objetivam matar não só os humanos de determinado território, mas também a humanidade que há em todas as pessoas ao redor do globo. Como manter a esperança diante disso tudo?
Como uma pessoa que pensa demais e como humana falha que sou, posso dizer que não tenho resposta pronta. Queria mesmo ter uma receita de bolo ou de um fármaco que resolvesse esta equação de modo simples: coma tantas fatias do sabor chocolate ou ingira esta pílula de tantas em tantas horas e pronto! Você se sentirá com as esperanças renovadas, disposto a correr atrás dos seus sonhos. Infelizmente — ou felizmente, vai saber — a vida não é assim. Mas dá pra ser, não dá? Afinal, como humanos e falhos que somos, gostamos de um pouco de magia: vestir roupas brancas na virada, pular sete ondas, dar o primeiro passo do ano com o pé direito, colocar folhas de louro na carteira, comer lentilhas e uvas, fazer brindes, passar a virada orando sozinho ou beijando um grande amor, planejar uma boa vivência no primeiro dia do ano porque ela dita o tom de como serão os outros 365 dias (no caso de 2024, 366 já que o ano é bissexto)... Tudo isso não é, afinal, um modo de tentar ser esperançoso em um mundo que nos oprime e violenta todo o restante do tempo?
A esperança nos traz a parte bonita da ilusão: aquela que nos faz sonhar, verbalizar os nossos desejos, nos comprometer com o melhor que é possível. Quantos não prometem que serão as melhores versões de si? E quantos talvez não se tornem, de fato, suas melhores versões no momento? A esperança nos traz o sonho, mas para sonhar é preciso ter coragem, a coragem de quem sabe que os planos não acontecerão EXATAMENTE como o planejado, que haverá surpresas, encontros e desencontros (inclusive para quem não planeja nada). Ser esperançoso é se jogar na incerteza da fé de que se sobreviverá.
Passei a primeira tarde do ano no parque, sentada a beira de um lago, comtemplando a natureza. A natureza nos ensina — ou ao menos me ensina — que recomeçar é não só possível, mas bonito. Ela, a natureza, é a mais esperançosa de todas — ela compreende que tudo é feito de ciclos: incluindo anos que nascem, crescem e morrem para que o seguinte possa (re)nascer.
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Ah, a esperança! Ah, a coragem! Oh, céus! Oh, vida! Hoje é um daqueles dias que os hormônios estão a flor da pele e nada parece fazer sentido. Ler seu texto foi uma bela sacudida. O desconforto das incertezas só terminam daqui 5 dias,mas é bom saber que o desconforto não é só na minha casa, que (ainda bem) resta a fé e olharmos uns pros outros. Vou me movimentar... Rs... cabeça vazia oficina do diabo. Feliz Ano Novo, Fê!
ResponderExcluirO mais legal de escrever e ler crônicas (e literatura em geral) é justamente isso: saber que não estamos sozinhas. E não estamos mesmo!
ExcluirFeliz ano novo, Mi! :)
Beijos :*
Amei ler esta reflexão, muito necessária neste momento do ano e da minha vida! 💛✨🙏
ResponderExcluirEu fico feliz que você tenha gostado! Que nosso ano novo seja criativamente feliz :)
ExcluirOi, Fernanda! Bela reflexão! Que seu 2024 lhe traga esperança e realizações. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
Oi, Lu! Que alegria te ver por aqui de novo! :)
ExcluirUm 2024 iluminado pra você também!
Um beijo
oie!
ResponderExcluirprimeiramente, desejo pra ti um novo recomeço. que esse novo ano seja repleto de vivências que te inspirem a escrever, sorrir e estar plena. <3
tua crônica me deixou bem reflexivo, porque fui revisitando a minha virada do ano, em que fiquei na cama vendo uma novela e apenas existindo. creio que pra 2024 o maior desejo é leveza; quero e preciso diminuir o ritmo, retomar o equilíbrio da vida.
vamos ver no que dá. afinal, ter esperança, como vc diz, é um ato de coragem e, nesse momento, me sinto muito corajoso. <3
bj!
Oi, Adri!
ExcluirEu espero que seu 2024 seja leve, feliz, carinhoso! Que você siga sorrindo e viajando!
Que sejamos corajosos e que sigamos apoiando um ao outro.
Um beijo
Já a Bíblia diz que a esperança permanece para sempre e isso de certa forma, me dá um alento. Adorei a reflexão.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Pois é. Do caos, vem a esperança.
ExcluirFeliz 2024!
"Ser esperançoso é se jogar na incerteza da fé de que se sobreviverá."
ResponderExcluirNossa que texto lindo, acho que nunca tinha pensado dessa maneira... E realmente é preciso ter coragem para ser esperançoso... Confesso que preciso ser mais corajosa.
Feliz Ano Novo! <3
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Ai, amiga, acho que eu também preciso ser mais esperançosa. Às vezes eu escrevo as coisas que eu preciso ouvir.
ExcluirQue nosso ano seja lindo!
Um beijo
Um belo texto pra gente pensar. O que seria de nós sem esperança?
ResponderExcluirTemos que acreditar que as coisas vão melhorar, que no ano novo teremos novas oportunidades. Um abraço pra você! 😘🌼
Seguimos acreditando :)
ExcluirFeliz 2024!
Que post lindo uma reflexão incrível. E a natureza ensina muito a todos nós quando tiramos tempo para observar e aprender.
ResponderExcluirE com certeza é belo demais "renascer".
Beijos.
https://www.parafraseandocomvanessa.com.br/
Se a gente fosse mais próximo da natureza, nossa vida seria menos complicada. :)
ExcluirObservar e aprender, sempre.
Um beijo
Desacelerar e olhar para a natureza é a melhor forma de nos conectarmos novamente com a esperança.
ResponderExcluirBj e fk c Deus
Nana
https://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com/
Concordo plenamente!
ExcluirUm beijo
Adorei seu Blog! Bju
ResponderExcluirFico feliz por ter gostado. :)
ExcluirOi Fernanda!
ResponderExcluirSeu texto me paralisou, concordo plenamente que é preciso coragem para ter esperança, o que não sei é se ainda tenho alguma esperança de verdade. Continuo a nadar, isso já percebi (Dory aqui.. haha), mas nem gosto muito de fazer planos por não ter muita ideia de para onde ir. No momento tenho tentado viver um dia de cada vez e no futuro vejo se deu em alguma coisa.
Até breve;
Helaina (Escritora || Blogueira)
https://hipercriativa.blogspot.com
https://universo-invisivel.blogspot.com