terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Adeus, ano velho

Foto de Fabrizio Conti, via Unsplash.


Pois é. Voltar depois de ter sido forçada espontaneamente a ir me traz o gosto da incerteza. Será que desta vez haverá a tão planejada consistência? Me agarro à astrologia e digo pra mim mesma que agora é a temporada capricorniana. Agora vai. Mesmo com mercúrio retrógrado, vai. Pé ante pé o carneiro sobre a montanha, não é mesmo?

Sinto que tive que dar muitos passos atrás para poder continuar viva e seguindo em frente. 2023 foi um ano duro, desafiador, daqueles que entram na lista dos "piores anos", com reviravoltas que exigiram não apenas fôlego, mas também todo o oxigênio que chegou aos meus pulmões. Inspira. Segura. Solta. De novo: inspira. Segura. Solta. Solta. Deixa ir.

Em meio a tantas incertezas, tudo o que me sobrou foi a exaustão do agora. A pausa forçada trouxe medo, sombras, descobertas dolorosas, entendimentos, perdão. E eu, que não sou muito de chorar, me debulhei muitas vezes nas lágrimas. Borbulhas que foram muito distintas das que aparecem na música, mas que de algum modo, me deram uma dose — ainda que minúscula — de mais amor-próprio e, sobretudo, de esperança.

Produtividade às avessas. Não consegui manter a consistência na produção de conteúdo. Abandonei a newsletter (ano que vem ela volta!) e estive afastada daqui. Também não consegui terminar os três calhamaços que iniciei há tempos. Enquanto todos dizem a plenos pulmões quantos livros leram, eu sigo pacientemente presa às mais de mil páginas ao todo (dívidas em 3 livros distintos). Pacientemente, saboreando, sem pressa. Em 2023, não tenho muito o que mostrar do que li. Mas sigo. Seguimos.

Tampouco escrevi. Trabalhei mais ou menos ao longo do NaNoWriMo (mais sobre isso no YouTube). Não fiz muito, mas fiz o que deu. Ao menos, não fiz muito literariamente falando, porque as minhas páginas matinais ainda existem e estão fortes. Talvez nasça algo bom delas no futuro.

Processos de catarse vão fundo e doem. No meu caso, doeu para um caralho, contudo estou viva. Ainda sigo aqui, com um coração que se estrangula e depois renasce, que segue o caminho das pedras de joelho em carne viva. Resiliência. Superação. (Ouço estas palavras mais de uma vez, de pessoas diferentes. De gente que me admira ou me ama ou, ao menos, me quer bem. Resiliência. Superação.) Estou cansada de ser resiliente e de ter que superar, mas é isso: às vezes essas são as únicas alternativas. Vida que segue.

Apesar de tudo, lidei com a arte em mim: voltei a fotografar, experimentei aquarela, cozinhei, costurei (ou, amo menos tentei. A máquina continua aqui a todo vapor), tricotei. Fiz o caminho do artista e foi transformador. Passei mais tempo offline. Foi bom. Foi lindo, agudamente lindo. Criei um parênteses intenso dentro do que era esperado. Não me arrependo.

Mesmo que o meu Sol em Virgem não aceite muito bem e esperneie, lidar com a incerteza é a essência de quem tem Plutão em Escorpião. Plot twist atrás de plot twist, metamorfose atrás de metamorfose, vou vivendo várias vidas em uma, vou me reinventando. Confronto meus medos mais profundos, para encontrar no fundo do poço a pedra preciosa dos meus desejos mais intensos. Muitas vezes não sei voltar, mas volto. Quem sabe todos os caminhos? No fundo, bem lá no fundo, toda a jornada me leva para a casa.

Autoconfiança é um exercício de manter a própria paz. Fazer o mínimo viável também é fazer algo. Focar no que eu quero ver crescer funciona. Devo confiar na minha experiência. Fazer a revisão mensal ajuda a não perder o foco do todo. Todo mundo que eu admiro tira um tempo para cuidar de si mesmo. Fé é confiança. Eu posso pedir ajuda. Eu não preciso diminuir a minha luz para ser amada. É preciso descansar. Não é possível ver com clareza e tomar boas decisões quando se está instável. É importante voltar para o eixo. – Pensamentos que se acumulam. Aprendizados ficam. Carrego todos eles na minha mochilinha da vida. Eles me fazem ser força, quando sinto que vou fraquejar.

2023 foi um ano de limites, de vulnerabilidade, de aprendizado, de parcerias, de amor. Estar com tantas pessoas queridas, em meio à arte e à música e a comidinhas gostosas, sempre me ajuda a encher o tanque da felicidade que me move. Sou grata por isso também.

Estou de férias, numa tentativa de restaurar o meu corpo tão cansado do peso que foi este ano. Estou de férias, com todos os sonhos do mundo descansando sobre os meus ombros. Digo adeus a 2023 com a certeza de que nos veremos mais vezes em 2024. Juntos seguimos. 

Feliz ano-novo, feliz ciclo novo!
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22 comentários:

  1. Nossa, Fe...

    Eu não consigo comentar de forma não-egoísta nesse post, desculpa, mas é porque eu me identifiquei TANTO, em tantos momentos, que sei lá... Eu sei que é sempre você, mas até senti tudo isso um pouquinho meu, de verdade. Quando veio a frase FIZ O QUE DEU, cara, É ISSO, sabe? A gente fez o que deu, e já é tanto, não tem como ser mais, fim!

    Que bom que, mesmo em meio a tanto tormento, você conseguiu seguir com processos artísticos que te fizeram sentido! É tão importante, né? Fico feliz.

    Que 2023 seja melhor!

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    1. Oi, Luly!
      Eu fiquei feliz demais que você se identifica com o que eu escrevo a ponto de não conseguir ser "não egoísta" hehehe
      Eu espero que seu 2024 seja melhor, mais saudável e mais feliz. :)

      Um beijo carinhoso,

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  2. Quando li seu texto lembrei-me desse trecho de um poema da Warsan Shire.
    “você não pode fazer casas em seres humanos
    alguém já deveria ter te dito isto
    e se ele quer partir
    deixe que ele vá
    você é aterrorizante
    e estranha e bela
    algo que nem todos sabem como amar”
    Aprecio como você reconhece a natureza catártica dos eventos negativos que a conturbaram, e como trabalhou numa aprendizagem positiva e de superação. Celebre sua singularidade e complexidade. Por fim, um ótimo 2024.

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    1. Olá, Anônimo!

      Obrigada por compartilhar o poema. Poemas são sempre bem-vindos :)
      (Ainda mais quando foram escritos por uma mulher negra.)

      Entretanto, devo dizer que eu fiquei curiosa do motivo pelo qual meu texto te levou pra esse poema em específico. Digo isso, porque em nenhum momento eu disse que os problemas que eu tive tinham ligação a relacionamentos românticos ou interpessoais. Pelo contrário, no final do texto há um parágrafo dizendo do quanto as pessoas queridas estiveram ao meu lado me apoiando e o quanto sou grata a elas. Além disso, também estou muito em paz com ser "aterrorizante e estranha e bela" (para usar as palavras do poema) e, por estar em paz, não só celebro, mas AMO a minha complexidade e honro todo mundo que embarca conviver com ela no dia a dia :)

      Não mencionei no texto, porque achava que não vinha ao caso, mas meus desafios foram muito mais relacionados ao impacto da minha saúde física (com coisas que, infelizmente, não pude controlar) e do cuidado da saúde física das minha gatinhas (que, em momentos diferentes, também ficaram adoentadas — algo que eu também não poderia prever/controlar) do que com o que o trecho do poema que você deixou aqui fez parecer.

      Enfim, respondo tudo isso aqui porque você não assinou o comentário. Como não sei se você é alguém do meu convívio (acredito que não seja), não pude te chamar para trocar ideia pessoalmente. Se você for alguém do meu convívio e quiser conversar sobre a vida, basta entrar em contato. Podemos marcar um café e falar não só sobre poesia (gostei mesmo do poema que você deixou, por outros motivos que não os relacionados ao meu texto), mas também sobre a vida.

      Feliz 2024 para você :*

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    2. Oi,
      Obrigada pela consideração em responder. Estava pesquisando autoras negras e logo após esbarrar na Warsan Shire, esbarrei no seu blog.
      Eu sinto o poema como um elogio às mulheres que são autênticas. Me parece que seu texto fala sobre isso, sobre ter dificuldades reais, sobre ser uma pessoa real, sobre ser resiliente mesmo que nos cansemos.
      A mulher do poema é forte, independente e apaixonada. Imaginei que ela seria uma inspiração. Meu comentário era para ser mais sobre sua força e superação, mas peguei carona num conteúdo pronto e enlatado, tentando ser breve e positiva.
      Seu texto veio muito de encontro com um ano ruim que também me foi pesado. E voltando ao poema, tem um viés romântico nisso e me arrisquei a ser mal interpretada. Enfim, é isso. Mantenho de pé meus votos de ano novo!!! Com carinho,

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  3. Que 2024 seja mais leve e feliz! ♥

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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    1. Oi, Valéria!
      Um 2024 leve, feliz e cheio de shows pra nós! :)
      Beijos

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  4. Belo balanço. O importante é estarmos bem com nós mesmos.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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  5. Pelo visto 2023 não foi fácil para muita gente. Mas sobrevivemos porque somos mulheres, somos maravilhosas e poderosas e pode vir 2024 que vamos arrasar!

    Passando para agradecer por vc voltar ao meu blog em 2023.
    Depois de um longo hiato, retomei o meu cantinho como parte do meu tratamento para TAG e Depressão e foi muito bom poder contar com suas visitas e comentários.
    Espero continuarmos a nos falar em 2024.
    Que Deus seja presente no seu novo ano e que 2024 seja um ano de paz, saúde e conquistas para todos.

    Bj e fk c Deus
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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    1. Oi, Nana!
      2023 foi desafiador mesmo. Espero que 2024 seja maravilhoso.
      E eu amo ler o seu blog <3

      Beijos

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  6. Me identifiquei tanto com esse trecho: 2023 foi um ano de limites, de vulnerabilidade, de aprendizado

    Por aqui 2023 teve muitos altos e baixos e desejo de coração que 2024 seja mais tranquilo para todos nós .. merecemos

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  7. Oi Fernanda, espero de coração que seu 2024 seja mais leve e repleto de momentos maravilhosos.

    Eu ainda estou tentando analisar esse ano que passou porque por algum motivo não me lembro de quase nada. Talvez pequenos traumas por todo lado fizeram meu cérebro esquecer para me preservar. Sei que foi um dia de luta atrás do outro e se não fosse pela companhia e fé constante em Deus, teria abandonado a maior parte dos meus afazeres. Minhas lágrimas também foram abundantes esse ano, isso eu me lembro, mas porque foram intencionais (provoquei algumas de propósito). São 40 anos segurando o choro. Decidi que não dá mais. Me acolhi da melhor forma que pude e deixei extravasar.

    Boas férias para você e que consiga o seu mais que merecido descanso! Feliz ano novo e um Feliz novo ciclo pra você também!

    Até breve;
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com
    https://universo-invisivel.blogspot.com

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    1. Pôr o choro pra fora é sempre bem-vindo, porque quando ele sai, a gente deixa um peso grande pra trás. Assim como você, não sou mto de chorar, mas acho importante.
      Que nosso 2024 seja leve!
      Um beijo

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  8. Espero que o seu ano de 2024 seja melhor do que o ano de 2023 e que os desafios que enfrentou não te desanimem.

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  9. Olá,
    Compartilho vários momentos do seu texto, pois meu 2023 teve coisas parecidas.
    Fiquei triste em montar a retrô lá do blog e ver como tudo andou em círculos, sem a consistência e novidades. Mas é o tal do descanso forçado, né? Se a gente não faz, a vida faz pra gente.
    Que venha a consistência saudável pra nossa criatividade ficar feliz.

    Eu também me apego muito ao autoconhecimento da astrologia. Aliás tá me ajudando e muito.

    até mais,
    Canto Cultzíneo

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  10. Oi, Nana!
    Agora é respirar fundo e seguir, não é?
    Espero que tudo dê certo por aí!
    Beijos e feliz 2024

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.