Eu estava ansiosa. Muito ansiosa. Aquela foi a minha primeira mesa real oficial em um evento literário. Falar sobre literatura é algo que me move. Falar sobre como o meu olhar de pessoa negra atravessa o meu trabalho (seja como escritora, seja como educadora) é sempre algo que me deixa à flor da pele. Ao mesmo tempo que há dor, há emoção e há beleza também.
Abertura da mesa Negritude e Literatura Brasileira, na FLIG.
Como contei para vocês aqui, a mesa de que fui parte estava programada para o último dia da Festa Literária de Guaratinguetá e tinha como tema Negritude e Literatura Brasileira: novos horizontes no cenário literário. Além de mim, fizeram parte da conversa o poeta e romancista Gustavo da Cruz e a produtora de conteúdo digital Camilla Dias. A Camilla mediou a conversa.
Na abertura, a Camilla pontuou as diferenças entre as literaturas afro-brasileira e a negro-brasileira, dizendo que: "a literatura feita por pessoas negras não é uma literatura afro-brasileira. Há discordâncias, mas eu acredito e concordo com o filósofo e pensador Cuti, que diz que a literatura, ela é negro-brasileira." E acrescentou lendo um trecho das próprias palavras de Cuti:
"Denominar de afro a produção literária negro-brasileira, dos que se assumem como negros em seus textos é projetá-la a origem continental dos seus autores, deixando à margem da literatura brasileira, atribuindo principalmente uma desqualificação com base no viés da hierarquização das culturas. Afro-brasileira ou afro-descendente são expressões que induzem discreto retorno à África, afastamento silencioso do âmbito da literatura brasileira, para se fazer de sua vertente negra um mero apêndice da literatura africana. Atrelar a literatura negro-brasileira à literatura africana teria um efeito de referendar o não questionamento da realidade brasileira por esta última. E por último, quanto aos autores, o afro-brasileiro afro-descendente não é necessariamente um negro brasileiro".
Partindo dessa explicação, Camilla nos perguntou sobre a nossa produção, não apenas sobre as feridas que nós e nossos ancestrais carregam (ainda que elas existam e tenhamos tocado nesse assunto também).
Foi uma honra poder conversar com todos!
Começamos falando um pouco sobre de onde vêm a nossa escrita. De onde vêm as ideias para as nossas escritas. Eu contei um pouco de como a escrita das cartas que minha mãe fazia para os meus avós durante a minha infância (num tempo sem internet, pois sou pré-histórica) me deixou com vontade de escrever e comunicar aquilo que sempre esteve na minha cabeça.
Falamos também sobre o quanto é importante ter referências, do quanto é difícil cavar o nosso espaço, porque muitas vezes as pessoas brancas esperam que escritores negros falem apenas sobre colonização e racismo. Foi ótimo reforçar que há muitas formas de ser uma escritora negra no Brasil e que não quero ter a responsabilidade de representar uma classe tão diversa (e que também acho muito opressor escolher um nome importante da literatura para representar toda a literatura negro-brasileira).
Juliana Maria, a poeta que me emocionou. 😭😍
Ao final, abrimos para perguntas. Uma moça (depois descobri que o nome dela é Juliana) pediu a palavra e disse que queria ler um texto que ela havia escrito enquanto ouvia a nossa fala. Esse foi um momento emocionante porque inspirar a escrita de um texto é sempre uma honra! O texto que ela escreveu diz o seguinte:
Eles esperam que eu fale de dor E eu quero falar de passarinhos e café Querem me impor uma identidade Mais uma das tantas tentativas de desumanização Porque eu não posso ter vontade, sensibilidade, emoção É proibido a mulher negra falar de fé É um absurdo uma mulher negra escrever sobre amor Eles esperam que minhas palavras sejam navalhas e chibatadas E eu quero falar do cheiro de mexerica no pé Se minhas mãos não estivessem atadas Pela militância que de mim esperam Eu poderia voar, como passarinhos, mesmo com cor de café Sem precisar gritar sobre lutas e lutos Sem esquecer o que é, ser quem sou.
Para continuar lendo o que a Julina escreve, entre em contato com ela via Instagram: @julianissis.
Camilla, Aline, eu e Gustavo.
No fim da mesa aproveitamos para tirar uma foto com a secretária de cultura da cidade, Aline Damásio. Ficamos muito felizes por ver uma mulher negra ocupando um cargo de importância. Isso será sempre um motivo para celebrarmos! 🍻
Com os meus editores, Tonho França e Wilson Gorj.
Aproveito o post para agradecer os meus editores, Tonho França e Wilson Gorj, pelo convite. Ser escritora publicada pela Editora Penalux é sempre um deleite e uma honra. 💙
Esse dia foi lindo e vai ficar para sempre na minha memória. 💚
Quem quiser ver alguns trechinhos da mesa, basta assistir à playlist abaixo:
Oi Fernanda, tudo bem? Nossa, deve ser bem emocionante participar de um evento literário sem ser apenas telespectadora. Adorei os pontos que você ressaltou e o adorei o poema da Juliana.
Até breve; Te espero nos meus blogs! https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries) http://universo-invisivel.blogspot.com (Contos e Crônicas)
Menina, foi DEMAIS! Eu não vejo a hora de poder voltar a participar assim <3 O poema da Ju é lindo demais. Espero que ela se publique logo! Fico feliz que você tenha gostado das minhas falas. Um beijo :*
Que lindo, Fê! É tanto orgulho que nem cabe em mim. Você é maravilhosa e amo ver seu crescimento principalmente profissional. Já falei milhares de vezes e repito: você inspira! E adorei a história da sua mãe. Que bela inspiração! Bjs Bia
Minha teacher e amiga é muito chique! Os pontos que você colocou aqui são importantíssimos e é preciso pensar sobre mesmo, principalmente nós, brancos, pra parar de falar merda e jogar responsabilidades em cima das pessoas negras. Tenho visto muito como todos os grupos "minoritários" (entre aspas porque sabemos que em quantidade são maior, mas em direitos, sofrem) sofrem pressões pra sempre serem perfeitos e só falarem do lhes doem. Eu, como mulher, sinto isso também em relação ao machismo. E a gente não quer falar só de dor porque, como você disse, somos plurais. Por mais diversidade, de todos os tipos, na literatura! Beijo!
Trazer a pluralidade para o diálogo amplia muito o debate. Por isso é bem legal trazer para a roda a diversidade. Grupos padrões costumam assumir que o padrão é a máxima, quando a diversidade é que é a máxima. Pessoas brancas devem buscar ouvir e estudar sobre o racismo, porque elas fazem parte da estrutura racista. Continuemos conversando :)
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Fernanda Rodrigues é uma paulistana apaixonada por gatos e café. Atualmente é professora de escrita literária, escritora, revisora, preparadora de textos, leitora crítica, assistente literária, palestrante e cofundadora do Projeto Escrita Criativa. De formação, é especialista em Docência em Literatura e Humanidades (FMU) e em Formação de Escritores e Produção e Crítica de Textos Literários (ISE Vera Cruz), além de ser bacharel e licenciada em Letras — Português/Inglês (USJT) e pós-graduanda em Psicopedagogia (Universidade Anhembi-Morumbi). É autora dos livros de poesia A Intermitência das Coisas: sobre o que há entre o vazio e o caos (2019) e Rasgos dentro da minha própria pele (2022), ambos publicados pela Editora Litteralux (antiga Penalux), de La intermitencia de las cosas: sobre lo que hay entre el vacío y el caos (2024), publicado pela Caravana Editorial e do didático Narrativas Digitais: narro, logo existo! Registrar o meu mundo e construir histórias (2021), lançado pela Fundação Telefônica Vivo. É 3º lugar no Prêmio SESC Crônicas Rubem Braga (2017) e tem textos em diversas antologias. Também escreve no site Algumas Observações, no ar desde junho de 2006. Mais aqui.
Desde 24 de novembro de 2013, as imagens do Algumas Observações são de minha autoria. Anteriormente, as que aparecem nas postagens eram meramente ilustrativas. Na maior parte das vezes, elas foram retiradas do Google Imagens, do We ♥ It e/ou do Tumblr. Evidentemente, sempre que eu sei quem é o autor, dou os devidos créditos. Entretanto, se você viu alguma imagem de sua autoria, por favor, deixe um comentário ou entre em contato avisando para ser creditado ou ter sua imagem substituída. ;)
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Algumas Observações | Ano 18 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.
Oi Fernanda, tudo bem?
ResponderExcluirNossa, deve ser bem emocionante participar de um evento literário sem ser apenas telespectadora. Adorei os pontos que você ressaltou e o adorei o poema da Juliana.
Até breve;
Te espero nos meus blogs!
https://hipercriativa.blogspot.com (Livros, filmes e séries)
http://universo-invisivel.blogspot.com (Contos e Crônicas)
Menina, foi DEMAIS! Eu não vejo a hora de poder voltar a participar assim <3
ExcluirO poema da Ju é lindo demais. Espero que ela se publique logo!
Fico feliz que você tenha gostado das minhas falas.
Um beijo :*
You had a great time :)
ResponderExcluirFor sure!
ExcluirQue lindo, Fê!
ResponderExcluirÉ tanto orgulho que nem cabe em mim. Você é maravilhosa e amo ver seu crescimento principalmente profissional. Já falei milhares de vezes e repito: você inspira!
E adorei a história da sua mãe. Que bela inspiração!
Bjs
Bia
Bia, contar com o seu apoio é sempre muito importante :)
ExcluirObrigada pelas palavras! :)
Um beijo :*
Parece que foi um evento muito interessante e profícuo. Gostei bastante!
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
Foi muito fortificante frutificante :)
ExcluirUm beijo :*
Minha teacher e amiga é muito chique! Os pontos que você colocou aqui são importantíssimos e é preciso pensar sobre mesmo, principalmente nós, brancos, pra parar de falar merda e jogar responsabilidades em cima das pessoas negras. Tenho visto muito como todos os grupos "minoritários" (entre aspas porque sabemos que em quantidade são maior, mas em direitos, sofrem) sofrem pressões pra sempre serem perfeitos e só falarem do lhes doem. Eu, como mulher, sinto isso também em relação ao machismo. E a gente não quer falar só de dor porque, como você disse, somos plurais. Por mais diversidade, de todos os tipos, na literatura! Beijo!
ResponderExcluirTrazer a pluralidade para o diálogo amplia muito o debate. Por isso é bem legal trazer para a roda a diversidade. Grupos padrões costumam assumir que o padrão é a máxima, quando a diversidade é que é a máxima. Pessoas brancas devem buscar ouvir e estudar sobre o racismo, porque elas fazem parte da estrutura racista.
ExcluirContinuemos conversando :)