sábado, 30 de outubro de 2021

Sísmico

Foto por Matt Hardy, via Unsplash.


E eis que eu estou aqui novamente, na angústia de escrever e apagar e rescrever este post mais de uma vez. Poderia culpar conta da crise de enxaqueca que me acompanhou ao longo da semana ou o projeto grande de trabalho que tem me tirado o sono. Mas não. De novo, não. A razão do fazer e desfazer perpassa por outros caminhos.

Algumas pausas são mais necessárias que outras. Não há como mergulhar fundo sem o equipamento adequado. No caso da palavra, ela só é ouvida se houver fôlego e silêncio. No meio de uma explosão, ficará para sempre perdida. Talvez seja isso: tenho explodido para dentro. Como o eremita, busco fôlego na luz do mar do meu casulo. Sonhos me mandam sinais. Anoto tudo que lembro no meu diário, numa tentativa de descobrir ali a passagem secreta que me desague numa ilha paradisíaca. O problema é que não quero ser ilha, meu desejo é de continente! Terra firme depois de tantas moléculas de H²O... Isso é mais uma das minhas contradições.

Os encontros literários, mesmo que através de uma tela, me levam cada vez mais a perceber as minhas fragilidades. Meus calcanhares de Aquiles (assim mesmo, no plural) são mais fortes do que eu. Noto o quanto é cansativo lutar contra o moinho submerso e carcomido por águas que sempre mudam de direção e aparecem arrastando tudo para os lugares mais inusitados. Por algum tempo, desisto.

Até agora escrevi sobre marés hiperbólicas, repletas de incertezas e da aspiração do ser mais. Contraditoriamente foi justamente essa pressão de ser gente que não me permitiu ser eu. Como quase tudo na vida, a escrita me é âncora pesada e distante: há responsabilidade em parir algo para o mundo  mesmo que seja um pequeno post para um blog insignificante. Será que estou contribuindo? 

No fundo, parei momentaneamente de olhar para trás e de tomar cafés com os amigos. Parei de publicar textos para tentar entender como lidar com essa pressão em meus ouvidos. Nesse impasse de represar e transbordar, minhas palavras nadam no meu útero. Não há ar nos meus pulmões, mas paro de lutar contra a minha angústia. No meio desse maremoto todo, mesmo sem saber nadar, eu continuo tentando dar minhas braçadas.

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18 comentários:

  1. Oi, Fernanda! O texto tocou-me imensamente, por vezes sinto-me assim também. Já pensei em desistir de tanta coisa em minha vida, inclusive do meu blogue, que tanto amo. Desejo-lne força e perseverança em sua jornada. Amei o texto. Abraço,

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    1. Tudo é cíclico. Então o lance é respirar e continuar seguindo, não?!

      Espero que você fique bem também. :)

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  2. Agora você me deixou sem palavras.
    Eu costumo ler no meu dia a dia textos objetivos. Portanto este texto me deixou angustiado.
    No início eu entendi sobre o quanto foi árduo começar escrever o texto, mas depois as palavras se tornaram confusas e a objetividade se diluíu.
    Espero que sua intensão tenha sido criar esta angústia no leitor. Caso contrário me diga qual foi o seu objetivo ao criar esse texto.
    Um abraço.
    arquitetoversatil.com

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    1. Oi, Rafael!
      Obrigada por se dispor a ler meu texto, mesmo ele sendo diferente do que você está acostumado.
      Quanto ao significado, ele é o que é. O modo como você o sentiu não está errado (assim como as diferentes percepções dos outros leitores também não estão).
      Espero que você volte por aqui mais vezes!

      Um beijo :*

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  3. Oi Fê! Escrevi justamente sobre o sofrimento que é escrever no meu blog ontem e concordo com você. Nessa pressão de ser mais, terminamos muitas vezes sem nem tentar e guardando pra nós tantas coisas (boas e ruins). Lindo texto! Um beijo!

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    1. Pois é, menina. Essa pressão está acabando com as pessoas, cada um a seu modo!
      Espero que possamos sobreviver.

      Beijos :*

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  4. Oi Fernanda, tudo bem?

    Acho que se não fosse o compromisso que eu combinei comigo mesma, talvez já tivesse parado de publicar. Escrever é muito prazeroso, mas ao mesmo tempo solitário demais às vezes. O silêncio às vezes é ensurdecedor. Pausas são muito necessárias nessas horas. Escrevo para me encontrar e não me perder de vez.

    Adorei o seu texto e a reflexão que gerou em mim! <3

    Beijos;
    Mente Hipercriativa | Universo Invisível

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  5. Uau! Que texto incrível. Por vezes esses momentos de pausa são muito importantes.

    Boa semana!


    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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  6. Você sempre agrega! Tudo o que a gente coloca no mundo agrega. Às vezes a gente te que ser um pouco irresponsável mesmo e fazer porque quer e pronto, pensar mais na gente do que nos outros (não sei se entendi certo, se estiver falando merda perdão).

    Explodir pra dentro é algo que bem entendo...

    E, por último, pausas são muito importantes!

    Beijo!

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    1. Oi, Liv!
      O texto é o que é. :) Sua interpretação também é válida. :)

      Beijos e obrigada pelo carinho :*

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  7. Oi, Fê! Eu tenho me sentido assim ultimamente também... Quero escrever, mas parece que existe uma parede gigante na minha frente me impedindo de seguir em frente. Eu sei que eu posso escalar e continuar a caminhada, mesmo cansada, mas apenas a ideia desse esforço me deixa cansada. Estou tentando retomar o blog há meses, mas a verdade é que me sinto enferrujada com as palavras agora. Vou tentar retormar aos pouquinhos, mas não tem sido fácil. Espero que a gente encontre o ritmo certo para continuar com as braçadas... Força aí! Beijos

    Fernanda Ene
    https://www.confabulando.com.br

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    1. Ai, Fê, é ir aos pouquinhos, né?! :)
      O importante é a gente se respeitar e não parar.
      Espero que você fique bem.
      Um beijo :*

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