segunda-feira, 23 de agosto de 2021

{Resenha} Mandala Naïf, de Lindolfo Roberto Nascimento

Mandala Naïf é o terceiro livro de Lindolfo Roberto Nascimento.


"A tristeza do náufrago é saber a grandeza do mar
sem que se possa sorvê-lo aos goles".
(Do poema Esforços


Mandala Naïf é o terceiro livro do escritor, performer e artista plástico negro e paulistano Lindolfo Roberto Nascimento. Sua obra busca, sem dúvida alguma, levar o leitor ao limite da fronteira entre corpo e política, por meio de uma linguagem coloquialmente poética.

Há, portanto, uma convocação do leitor e do papel que esse leitor tem no mundo. Uma provocação no sentido de levá-lo a pensar um "você se deixa levar por essa paralisia ou vai tentar lutar?". Me parece nítido que esse chamamento também serve de crítica às pessoas que sabem que estão apenas seguindo um fluxo e que se deixam estar por se localizarem em uma zona de conforto — seja ela social, ética, política e/ou sentimental. 

Nesse sentido, os poemas apresentam uma fronteira muito próxima com a crônica. A conversa ao pé do ouvido surge da vivência do eu-lírico, que é crítico naquilo que observa e que lhe atravessa. Ao partir do que vê, o autor se funde ao seu eu poético escancarando as possibilidades de revolta e de mudança. 

A arte de Mandala Naïf é, portanto, potência que se vê associada a uma forte crítica social. O eu-lírico se percebe em uma sociedade doente e, por isso mesmo, chacoalha seus leitores pelos ombros, num grito potente de resistência.

Algo interessante de notar é o repertório de intertextualidade que o autor nos apresenta. Mandala Naïf é um verdadeiro banquete de referências que perpassam mitologia, teatro, artes, ciências sociais, filosofia e política.

O poeta fala e quando os versos já não cabem, ele se translada para uma prosa que não deixa de ser poética. Um texto tão provocativa quanto a poesia que compõem as primeiras partes — Paralisia e Queda — do livro. É na Suspensão, que a língua ganha caldo no rio da narrativa poética. Prosa e poesia se fundem como o poeta ao mundo e o mundo ao caos. Quem ganha com isso tudo somos nós, leitores.

Capa.



Livro: Mandala Naïf
Autor: Lindolfo Roberto Nascimento
Gênero: Poesia
Editora: Desconcertos
Apresentação: Lindolfo Roberto Nascimento é escritor, performer e artista plástico negro, nascido e criado na Zona Leste da cidade de São Paulo. Graduado em Artes do Corpo (2018) e Publicidade e Propaganda (2009), pela PUC-SP. Integra a Cia Solitária de Artes do Corpo.
Mandala Naïf é seu segundo livro de poesia. Já publicou três livros de forma independente: os romances Os banheiros mais sujos do mundo (editora Linear B - 2015), Álcool e fósforos no fim do túnel (Editora Livre Expressão, 2012), bem como o híbrido de poesia e dramaturgia Tímpanos estourados (Editora Benfazeja, 2017).
No olhar proposto por este livro de poemas o autor se dedica a um processo de poetizar a política e politizar o corpo. Sem perder o tom coloquial de comentário da realidade, constrói em seus versos imagens tão cotidianas quanto brutais, por sua dor ou por sua simplicidade. Fala sobre a necropolítica sob a ótica do corpo que aparece morto nas fotos de jornal.
Porém desta vez esse corpo negro-performer é quem decide como se apresenta. O poeta sabe que esse corpo não é apenas seu, e amplifica e ecoa vozes semelhantes à sua na poesia, não só no megafone do movimento. É um projeto que extrapola o intimista porque entende a depressão, o racismo e a política como experiências coletivas.

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4 comentários:

  1. Oi, Fernanda. Como vai? Parece um livro excelente, não é mesmo? Fiquei tentado a lê-lo. Ótima resenha. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/?m=1

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  2. Descobri este site essa semana e já estou adorando os conteúdos, são ótimos!

    Parabéns! 👏

    Meu Blog: Meu Sonho

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.