Um dos meus maiores medos quando me inscrevi na
pós-graduação era de me tornar escritora "de verdade" e deixar o blog de lado. Ainda que eu saiba que escritor é aquele que escreve, sei que há uma super valorização do autor de livros em detrimento do autor da web. A experiência me mostrou algumas amigas minhas publicando livros e deixando os seus blogs de lado (para escrever novos livros e ter novas obras publicadas em papel) de forma gradativa e um tanto natural. Por isso a inscrição na pós me acendeu o sinal de alerta. Se de um lado pensar em abandonar o meu blog é algo que me aterroriza, por outro, sempre soube do meu tempo escasso de leitura, escrita e trabalho (que ainda preciso dividir com a minha vida pessoal e social). Agora, aqui estou eu, com as minhas anteninhas de vinil detectando a presença do inimigo.
Para quem não sabe, meu curso tem o nome pomposo de Formação de Escritores (Núcleo Ficção) e é dividido em dois anos. No primeiro, estudamos e refletimos sobre ferramentos, modos e exemplos de como escrever ficção (e, às vezes, não-ficção e poesia, dependendo da disciplina escolhida como optativa), produzimos e debatemos sobre nossos próprios textos. No segundo, tudo isso acontece de novo - em outras matérias, claro - e temos que trabalhar no nosso projeto de conclusão de curso, um processo que também é conhecido como escrever o nosso próprio livro.
Quem me acompanha aqui sabe que eu amo escrever textos literários e compartilhar no blog. Este é o meu espaço oficial de comunicação com todos que me leem, ainda que eu use as redes sociais e o wattpad. Entretanto, como vocês puderam notar ao longo do
mês de janeiro, produzi conteúdos não literários. A minha literatura - motivo de eu ter começado este blog há mais de dez anos - anda rareando.
Explico. Quando fiz a minha inscrição na pós, meu maior objetivo era escrever um romance. Sim, não precisava ser algo grandioso como os do Machado ou os da Clarice, mas queria escrever um romance. Queria desvendar os mistérios de planejar uma história que durasse mais de uma meia dúzia de páginas. Sabia que a minha experiência de blogueira já tinha me habituado às crônicas e às histórias curtas e desejava me forçar a algo mais épico na minha vida.
Inscrições feitas. Aulas assistidas. Mudanças de planos. Primeiro: de alguma maneira não me identifico com a produção que anda popular no mercado editorial. Segundo: eu não consigo sentar e colocar num mapa/planilha/whatever todo o enredo e biografia dos meus personagens para depois escrever uma história. Sou daquelas que uma frase puxa a outra. E, embora isso não seja errado, torna as coisas um pouco mais complicadas (como entregar um planejamento de TCC se você não consegue planejar?). Terceiro: as três disciplinas que eu mais gostei de ter cursado foram
Crônica,
Poesia para Prosadores e
Literatura Infantil e Juvenil. Ou seja, as três em que tive que produzir textos curtos. Quarto: quando a minha irmão ficou doente, acabei perdendo mais aulas do que queria, perdi o ritmo da vida e os rumos dos projetos literários. Em suma, meus planos de escrever um romance foram - ao menos por enquanto - por água abaixo.
Acabei entregando um projeto para a elaboração de crônicas inéditas. A princípio a ideia é escrever cinquenta delas. E isso me trouxe outras duas crises: tudo o que escrevia de literário para o blog agora está sendo destinado ao livro (até aí, tudo bem, vocês poderão ler tudo no futuro, basta terem paciência). E tudo o que escrevo está ruim (bem ruim). Acho que perdi o fôlego (e talvez, a vontade, para ser bem sincera), de fazer um projeto como esse.
Fico me perguntando qual é a minha missão, afinal, e se isso dará certo. Queria - ou será que no fundo eu realmente quero? - desistir de tudo e viver um ano sabático. Mas como desistência nunca foi o meu forte e também me falta grana para um tempo só pensando na vida, continuo aos trancos e barrancos com os meus textos cheios de clichês (já sei que vou ouvir muito dessa crítica nas aulas, mas ainda não encontrei um modo original de fugir deles). Vamos ver até onde aguento.
Prometo que tentarei superar essa fase do escritor de livros em plena crise e que vou fazer o possível para voltar aqui em dezembro e dizer que sim, meu livro está pronto e lindo. Enquanto isso não acontece, o blog segue com as suas colunas e com textos mais pessoais - como este aqui.
Espero que a fonte literária não se esgote.
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Por favor, não podemos ficar sem seus textos por aqui.
ResponderExcluirBj e fk c Deus
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Eles virão. Talvez menos literários, mas virão. :)
ExcluirBejos
Oi Fê... Difícil demais este sentimento... até porque é algo muito particular memso, de saber lidar com este inventário de vontades e sonhos e inquietações e projetos que surgem no coração da gente.
ResponderExcluirNão sou a melhor das conselheiras no que diz respeito a estudos, pois foi apenas quando me libertei da academia é que encontrei meu trabalho e individualidade e, acima de tudo, minha verdade em tudo isso. Foi apenas quando percebi que estava sendo condicionada a orientar minha vontade criativa aos moldes institucionais (para ser aceita pelo grupo, para não ser desprezada pelo orientador, para conquistar pontos para os Lattes-Capes da vida etc) que encontrei o meu 'verdadeiro' trabalho (ou seja, como se criar só fosse possível fora desta mesma academia), e hoje estou certa de que este primeiro distanciamento foi o que permitiu que eu não mais anulasse a mim mesma...
É claro que a formação e a inserção acadêmica/institucional é necessária, especialmente quando nossa profissão e sonhos demandam isto; mas tenho um certo receio quanto a esta orientação stricto sensu que nos afasta de todo o "resto de realidade" criativa do mundo... Não que a literatura não tenha seus erros fora da academia, porém, acreditar que apenas dentro dela está sua melhor versão... não sei, por anos acreditei nisso, e foram anos assim meio perdidos, é minha conclusão hoje em dia...
Enfim, sorry o textão... Relatos pessoais deveriam ser apenas pessoais, e não 'conselhos' rs. Mas Fê, torço pra que você continue sempre a caminhar por si mesma <3 Porque nós-leitores já adoramos seus escritos aqui!! E com certeza adoraremos todos os passos a seguir :))))
Bjssss,
Rebeca
http://blogpapelpapel.blogspot.com
Oi, Rebeca!
ExcluirAdoooooooooooro textões nos comentários. Pode mandar assim sempre! :D ♥
Então, sobre a pós, já tive os meus momentos de amo e odeio. Hoje estou ok com tudo isso. Se por um lado tem todo esse academicismo que mata. Por outro, eu posso mostrar meu texto a pessoas que têm o olhar de escritor, que sabem como contribuir com algo que vá além do gosto e da identificação pessoal. Por isso, não desisto (pelo menos por enquanto). Sou meio rebelde, por isso escolhi como projeto um livro de crônicas - quando o certo mesmo, seria um romance. Estou feliz por ver os rumos que ele está tomando. O ruim só é conseguir me dedicar a ele e ao blog ao mesmo tempo.
Enfim, espero dar um jeito na vida!
Beijos
Fê, o Glauber Rocha, dizia que para fazermos um filme é necessário ter uma idéia na cabeça e uma câmera na mão. Logo, se seu estilo de escrita, é uma frase sobre a outra em conexão, mande bala, escreva. Só tenha em mente a idéia central do livro e vá fundo. O que aprendi sobre o ato de escrever, é que devemos escrever sempre, ainda que sejam pequenas coisas, e deixar sempre assim nossas mãos aquecidas. Sei que não é fácil, eu mesmo, estou empacado com 14 contos prontos, e faltando apenas 3 novos para concluir meu livro, e não consigo fazer eles. Mas, me propus nesse carnaval a zerar esses três contos, e espero hoje mesmo escrever um deles. O que posso dizer é: sente-se e escreva. Sempre. Abraços
ResponderExcluirSim, escrever sempre. Ainda que um projeto pare, sempre teremos outro para trabalhar. :D
ExcluirEspero que você tenha sido bem sucedido na escrita dos seus contos. :D
Beijos
Boa noite, Fernanda! Como vai?
ResponderExcluirGostei do seu blog! 😉
Também sou escritora e poeta. No passado, já passei por essa situação,mas, um dia a inspiração volta e tudo passa.
Quem me indicou seu blog foi meu namorado, Marcelo Caldas.
Beijo!
Ale!