quarta-feira, 9 de março de 2011

[Resenha] Poesia, cinema coreano e solidão

Sadness is beautiful, loneliness is tragical
so help me I can't win this war, oh no*
(Shape of My Heart – Max Martin/Rami/Lisa Miskovshy - Backstreet Boys)


Há tempos penso que preciso andar mais com as próprias pernas e ser menos dependente dos meus amigos. Sei que há momentos que a minha amizade sufoca a todos eles – sou muito superprotetora – e sei que, quando eles se sentem sufocados, acabam me magoando sem querer. Pois bem, uma das minhas metas para este ano é ser solteira e viver bem com essa situação toda, e viver bem com tudo isso, implica em estar mais sozinha. 

Pode parecer meio loucura isso tudo o que disse, mas basta analisar a seguinte situação: feriado prolongado + amigos solteiros longe + amigos comprometidos com seus respectivos parceiros + tempo chuvoso. Diante desta situação você:
a) Fica sozinho em casa, curtindo aquela tristeza.
b) Sai com os amigos comprometidos e fica de vela.
c) Sai sozinho e tenta se divertir.

Bem, eu me prometi que tentaria fazer da minha solteirice a mais feliz possível e, como não tenho mais cabeça/paciência para ficar vendo as PDAs** dos casais de namorados, me restou a alternativa C. O problema é que numa cidade enorme, quando se é nerd, o que sobra num carnaval é museus e cinemas, ou seja, nada muito animador para uma pessoa solitária. Sempre disse que “ir ao cinema sozinha é fim de carreira” e penso o mesmo sobre as idas ao museu. Ir sozinha, não ter ninguém do seu lado para comentar/consolar é a maior prova de solidão que um ser humano pode dar a si mesmo... Mas não é que hoje paguei o que vivia dizendo? Hoje, pela primeira vez em 24 anos de existência, fui ao cinema sozinha.

Sair de casa foi o primeiro ponto “estranho”. É diferente sair de casa para curtir algo sozinha, quando, normalmente, se está cercada por amigos. Meus pais me perguntaram (mais de uma vez) se iria MESMO sozinha, e eu tive que ter um bocadinho de paciência para repetir inúmeros “sim”. Aí, aquela coisa de sempre: ônibus, metrô (maquiagem no metrô, só para não perder o costume), caminhadinha na avenida, compra do ingresso. Comprar o ingresso também foi algo interessante. Ontem havia ido ao cinema assistir Cisne Negro com uma amiga e lá vi o cartaz de um filme que me chamou a atenção, Poesia é o seu nome. Foi ingresso para esta película que eu comprei. Como todos sabem, escrevo poesia, então, não poderia deixar a oportunidade de ver um longa-metragem com este tema. 


Entretanto, não foi apenas o assunto que me chamou a atenção. Antes de partir para esta “aventura” de visitar o cinema sozinha, fui pesquisar sobre a obra cujo cartaz me despertara a curiosidade no dia anterior. No site do cinema encontrei as seguintes informações:

POESIA (DIGITAL)
Coréia do Sul (2010) – 139 minutos.
Gênero: Drama
Censura: a definir
Direção: Lee Chang-dong
Elenco: Jeong-hee Yoon, Hira Kim, Da-wit Lee

Sinopse: Mija (Jeong-hee Yoon) vive com seu neto nas encostas do rio Han. É uma senhora excêntrica com uma mente inquieta e questionadora. Um dia, ela entra por acaso em uma aula de poesia em um centro cultural na vizinhança e é desafiada pela primeira vez a escrever um poema. Sua busca pela inspiração começa ao observar a beleza do cotidiano, as coisas ao seu redor que ela nunca havia reparado. Mas quando a realidade se torna cruel, ela é obrigada a ver que o mundo não é tão bonito quanto ela imaginava.
- Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2010.

O que me deixou impressionada – e mais curiosa ainda – é o fato do filme ser uma produção sul-coreana. Eu, que raramente saio do eixo Hollywoodiano, querendo ver um filme coreano! Isso é o que chamo de sair MESMO da rotina...

Antes de começar a sessão, passeio na livraria (e compras, por que não?), suco no McDonald’s (ninguém é de ferro!) e telefonema para a amiga que faz aniversário (Sue, parabéns one more time!... e desculpe de novo pelo recado tosco na caixa postal! Sou melhor escrevendo do que falando, você sabe disso!). Até que chegou a hora. Ser a primeira a entrar na sala, ver os casais (uns mais jovens, outros bem idosos) se acomodarem, assistir aos comerciais e aos trailers sozinha... Poderia ter sido bem pior se eu fosse a única sozinha na sala de cinema; todavia, como vi as outras pessoas entrarem, percebi que não era a única naquela situação (não fazia parte da maioria, mas também não era a única). 

Falando do filme, ele é simplesmente uma obra de arte! Não é a toa que ganhou o prêmio em Cannes. A fotografia também está de parabéns. O set todo foi escolhido de maneira que ajudasse a compor a essência da trama. A história é envolvente, tocante e surpreendente! Não pude deixar de me emocionar em vários momentos, não pude deixar de sair daquela sala chorando. A busca pela profundidade das relações humanas se reflete na busca pela poesia que Mija faz em seu cotidiano e no seu próprio interior. Como diz o professor do filme: “O difícil não é escrever poesia, o difícil é encontrá-la no coração”. É esta a lição que levo comigo. Uma lição de que já sabia, mas que nunca havia encontrado palavras para expressá-la.


Saí do cinema comovida. Comovida sem colo ou consolo (essa é a parte ruim de ir sozinha). Comovida com a fraqueza e com a coragem de Mija. Comovida com a minha fraqueza e com a minha coragem. Mas, mais do que isso, orgulhosa por um pequeno passo que dei e com a pequena conquista que tive. Comovida e orgulhosa, durmo hoje, sabendo que a Poesia é o caminho, é o MEU melhor caminho para seguir solitária , porém feliz.

PS: Trailer do filme aqui. ;)
___
*tradução: A tristeza é bonita, a solidão é trágica / Então ajude-me, eu não consigo vencer essa guerra oh não.
**PDA = Public display of affection = Demonstração pública de afeto

9 comentários:

  1. fê. que lindo e comovente esse post. Quantas descobertas ein? Primeiro, esse filme foi uma descoberta, é, tipo, aquelas coisas surpreendentes da vida querendo nos ensinar a sermos mais fortes. Segunda descoberta é a aventura de ser solitária. Muitas pessoas têm medo da solidão, já falei sobre isso inúmeras vezes no meu blog, mas acho que a solidão é extremamente necessária na nossa vida. E a terceira descoberta é que o caminho da poesia é o caminho da nossa vida. e incrível, que o filme se encaixa no post, que se encaixa na vida. Fê, a solidão é o caminho perfeito para os poetas. E a poesia necessita da vida para existir. Vida sem poesia é nada, é como um corpo sem alma. Morte. E a poesia sem vida, também não é nada, é alma sem corpo. Junção perfeita: poesia e vida. É disso que trata o filme, a vida e a poesia.

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  2. E eu sei oq é ir ao cinema sozinha, eu já fui... eu sei o qto é "ruim" ver as PDA´s dos outros, mas a solidão as vezes ajuda a curar algumas dores do coração, mas quando achamos que ngm mais vai olhar pra gente e que vamos viver sozinhos, a vida nos prega uma peça e aparece alguem que vai nos amar do jeitinho que somos.
    Fê, vc conhece a minha historia e sabe como a solidão as vezes é boa, posso nao ter encontrado a poesia sempre mas eu sei o qto ela ajuda.
    Sabia que você nunca ta sozinha, msm eu estando namorando e as vezes meia ocupada com o meu namoro e trabalho eu vo estar sempre com vc, sua amizade pra mim é preciosa, é única e eu a quero para sempre comigo,com o Cah e com a nossa filha que um dia vai nascer.
    Solidão as vezes é uma aprendizagem que você aprende na marra e sem a menos vontade de fazer essa matéria na escola, mas vc tem que passar por ela e no fundo no fundo ela ensina mta coisa.
    Bjss

    Mila

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  3. Essa é a beleza do ser humano...se adaptar a novas situações. Eu, ao contrário, a-m-o ir ao cinema sozinha pq nao tenho q ficar respondendo questionários sobre os filmes...meus amigos sabem q sou cinefila inveterada e ficam o filme todo perguntando "esse cara nao eh daquele filme?!", "o q vai acontecer agora?!"...rsrsrs... Parabéns pela sua atitude. Novo blog, novo post...confira! Bjs e fik c Deus.

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  4. Oie, td b? Sou eu d novo...mais um post na area...confira qdo puder! Bjs e fik c Deus.

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  5. vi o filme agora de manha ... num sabado bucolico de inverno ... nao sozinha ... mas na companhia da minha gata Shin Shiro ... e depois vir aqui na net e encontrar um post seu obre este filme escandalosamente poetico ... so me faz acreditar mais que ver e sentir os pequenos detalhes da vida valem a pena!

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  6. Olá, tb assisti o filme, mas em casa, dvd comprado por 2,00!
    Acho que o principal do filme está no recorte da cultura sul-coreana, principalmente na importância da mulher em seus inúmeros papéis: Mulher, mãe, avó, amante! O machismo e o sexo visto de uma forma tão "delicada", dissimulada, sem nenhum tipo de amor, mas como necessidade fisiológica apenas. Agora podemos entender porque a poesia é tão difícil de se brotar do coração, com tanta coisa, preocupações, dilemas morais, éticos e espirituais que em todos nós pesam mas que ao invés de serem o estopim para a poesia, acabam sendo a pá de terra para sua tumba! A poesia diária é um motivo para vivermos além da loucura nossa de cada dia, margem e abrigo de insanidades que comungamos, mas não concordamos! Esta sinopse não traduz muito o real drama dos personagens!

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  7. Olá, tb assisti o filme, mas em casa, dvd comprado por 2,00!
    Acho que o principal do filme está no recorte da cultura sul-coreana, principalmente na importância da mulher em seus inúmeros papéis: Mulher, mãe, avó, amante! O machismo e o sexo visto de uma forma tão "delicada", dissimulada, sem nenhum tipo de amor, mas como necessidade fisiológica apenas. Agora podemos entender porque a poesia é tão difícil de se brotar do coração, com tanta coisa, preocupações, dilemas morais, éticos e espirituais que em todos nós pesam mas que ao invés de serem o estopim para a poesia, acabam sendo a pá de terra para sua tumba! A poesia diária é um motivo para vivermos além da loucura nossa de cada dia, margem e abrigo de insanidades que comungamos, mas não concordamos! Esta sinopse não traduz muito o real drama dos personagens!

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  8. Gostei do filme ele é um poema de amor de uma avó pelo neto mesmo conhecendo sua falha ela pprocura de diversas formas de ajudá-lo, inclusive quando resolve partir para o além não esqueceu de chamar a filha que diante dos fatos não deixou abandonado.Outro ponto foi a forma de aceitar a doença e não passando para os seus failiares, e finalmente a valorização da poesia.E uma filme que prende do início ao fim. Parabéns para o cinema Coreano.

































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