domingo, 9 de agosto de 2009

A música e eu: Veraneio Vascaína

Posso dizer que há músicas que me trazem a boca o sabor da infância, da minha época de filha única... Muitas delas fazem parte do cenário das bandas de rock brasuca dos anos 80 - que sobreviveram em minha casa até meados dos 90 -, e que eram ouvidas constantemente por meu pai.

Quando me pego relembrando esses bons tempos, lembro-me claramente daquele apartamento minúsculo; eu usando um vestido cheio de frufrus (sabem como é, né?! Coisas de primeira filha de um casal que queria MUITO ter uma menina... =P); minha mãe fazendo pizza caseira na cozinha e meu pai ouvindo música na sala. Eu dançava alegremente – tropeçando em meus próprios pés e nas almofadas que espalhava pelo chão. Dançava um ritmo que entrava pelos meus ouvidos e me fazia sacudir... Dançava uma música que mal conseguia cantar e que muito menos entendia o significado. Dançava Veraneio Vascaína.

Era pequena. Não sabia. Não entendia. Só fui compreender depois. Só depois entendi a grandiosidade do Renato Russo e do Flávio Lemos – compositores da canção. Só depois entendi o que era a repressão e a ditadura e o porquê do primeiro LP da minha banda preferida ter sido censurado... Só depois fui entender o porquê de o meu pai gostar tanto desta música.

O tempo passou e meu pai passou a ouvir outros estilos musicais. Passei um bom tempo sem ouvir Capital Inicial (eles também passaram a fazer outras coisas... deram um tempo, voltaram depois! – graças a Deus!), até que eles voltaram, lançaram o Atrás dos Olhos, e aquele sentimento de “conheço esses caras” me trouxe felicidade.

Mais feliz ainda fiquei quando ganhei do meu pai o Capital Inicial – Acústico MTV. Lembro-me bem que eu fiquei um tempão no pé dele para que ele me desse esse cd de presente (não trabalhava na época.... dependia do dinheiro dele) e que ele sempre me dizia (para me provocar):
- Pára com isso! Passaram 20 anos e eles continuam cantando as mesmas músicas!

Ele me provocava, mas ele mesmo não aguentou.
Era uma noite de agosto, quando ele virou pra mim e disse:
- Comprei parte do seu presente de aniversário. Você quer agora ou daqui a um mês?!
- Quero agora!
- Então toma...
- AAAAAAAAAAAAAAAH!!!!!!!!!!!!!! O CD DO CAPITAAAAAAAAALLLLLLLLLLLL!!!!!

Abri o cd, corri para o rádio e não pensei duas vezes: corri até a faixa nº 13. Sim, ela, Veraneio Vascaína!
Ouvi cada acorde apreciando o gosto da minha infância e tentando entender como deve ter sido viver com “fogo em cima, é melhor sair da frente / tanto faz, ninguém se importa se você é inocente”...

Lembro-me, então, de um dia: estava, mais uma vez, na sala de casa. Meu pai mudava de canal na televisão até que eu ouvi aquela voz tão familiar. Era o Capital Inicial em um programa da TV Cultura. Era o Dinho falando sobre o LP ter sido censurado, por causa de Veraneio Vascaína, e de toda a repressão que havia na época em que eles lançaram o álbum... “assassinos armados, uniformizados / Veraneio vascaína, vem dobrando a esquina”...

E por causa da grandiosidade do Renato e do Flávio (e de seus companheiros), o Capital acabou gravando o MTV Especial Aborto Elétrico. E lá estava ela novamente. Nessa época, dava aulas de informática e cidadania e, em uma dessas aulas, os educandos mais velhos estavam contando para os mais jovens como era a época da ditadura. Aproveitei a chance e ilustrei um pouco do que era dito com a canção. O espírito da época estava ali: a letra revolucionária e o ritmo Punk Rock.

Até hoje, os carros de polícia aqui de São Paulo são “preto, branco, cinza e vermelho”. Até hoje, há pessoas que com uma arma na mão, botam fogo no país (e algumas delas sabem que “não vai ter problema”)... E eu lamento tudo isso. Lamento a corrupção, a censura, os Malufs e Sarneys da vida... E lamento também que não haja mais músicas que protestem como Varaneio Vascaína faz tão brilhantemente.

O que não é lamentável, no entanto, é o prazer que sinto ao ouvir Veraneio Vascaína, uma das músicas que me abriu as portas para o bom e velho rock’n’roll e que gerou em mim um amor incondicional por aquela que eu julgo ser a melhor banda existente neste país: o Capital Inicial!

Bem, vou finalizar esta postagem por aqui.
Para vocês deixo a versão do DVD Capital Inicial Ao Vivo Multishow gravada em Brasília. Sim, exatamente em frente ao lugar que a censurou.
Para o Capital Inicial, deixo o meu agradecimento – não só por essa música, mas por todas as outras. Obrigada por ser uma das bandas que me iniciaram no rock!



___

Letra da música aqui.

3 comentários:

  1. Eu não curto Capital, mais concordo que eles cantam bem e tem boas músicas ^^)

    beijos!

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  2. Ual! adorei a história.. muito boa, eu inicializei no rock com guns'n roses e metalica, nunca tive uma banda única, ouvi de tudo e continuo ouvindo...Essa banda manda bem, tbm tenho o acústico mtv, nao sei por que mais a música que eu mais gosto é natasha 0.o' Bjão

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  3. não sou desse tempo,mas posso imaginar quaã grande foi a opressão e quão grande foi a emoção depois de muito tempo poder cantar livremente uma música tão rica como essa.

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.