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Imagem por Pon Malar - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0 (fonte: Wikipédia)
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A pausa. O silêncio. Ouvir quando se morar numa megalópole, em tempos de celular como extensão do corpo, é um processo complexo. É preciso cavar tempo para o desdobramento interno. Parar e escutar sem julgamentos. De onde vêm o amor, o cansaço, a euforia, a tristeza… a força para acordar cedo é fruto da descoberta que o corpo fala com movimentos nunca vistos?
Como muitas das minhas contradições, apesar de ser uma pessoa noturna, sou solar. Amo os ruídos da noite: tricotar em silêncio quando um carro passa distante, ao mesmo tempo em que bebo o meu chá depois de ver uma partida de futebol na TV. Escrever depois disso o registro desse turbilhão silencioso, me deitar num lençol recém-trocado, dormir o sono dos justos. Amo a noite e sou capaz de ficar horas desfrutando de sua brisa fresca fruto de um dia quente.
Entretanto, sou uma apaixonada pelo sol e pelo verão. Neste ano tivemos um inverno que, ao menos para mim, me pareceu mais rigoroso. Sofri demais. O corpo parecia enferrujado, mesmo fazendo aulas de dança e de Pilates. O humor estava sem disposição alguma, ainda que os exames de sangue dissessem que está tudo bem. O nublado, o frio, a pouca chuva que traz consigo a secura do ar. Tudo me faz ser uma pessoa que tem certeza de que não aguentaria viver em nenhum destes países do Hemisfério Norte, em que o dia quase não existe durante a estação mais fria do ano.
Gosto de observar, entretanto, as estações. Elas me mostram o quanto nada é permanente. Estamos no fim do inverno e nesta semana eu pude notar os primeiros sinais da primavera dando um "oi" lá no horizonte: a luz solar despontando mais cedo e iluminando toda a cozinha pela manhã, bem-te-vis fazendo a sua sinfonia horas antes do esperado e sabiás soltando os primeiros pios, calor que começa antes das 10 e vai crepúsculo adentro. Tudo corroborando para um renascer.
Quando a natureza renasce, eu renasço junto. Não só porque eu sou parte do todo, mas porque sou solar. Sou expansão. Sou calor. Sou inteira.
Clarice dizia que se sentia morta quando não escrevia. Os primeiros meses de 2025 foram difíceis pra mim, porque entendi exatamente o que ela queria dizer com isso. Mesmo me forçando a comparecer diariamente ao meu ofício, algo esteve minimamente semimorto. Cobra trocando de pele. Ovo virando lagarta. Lagarta se recolhendo em casulo. Casulo envolvendo crisálida. Seda. Crisálida poética e machadiana.
Aprendo com a natureza.
Embora ainda não tenha muita clareza. Surrender. O que é o "render-se" afinal? O deixar fluir ainda me vem cheio de interrogações. Tento relaxar os ombros, abrir espaço.
Observo.
Provavelmente a lagarta não recolhe pensando que vai vai se tornar mariposa ou borboleta. Ela só vai. Eu apenas fui, vou, irei.
A vida é bela mesmo em seus tropeços.
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