domingo, 8 de junho de 2025

Seis anos de publicação: reflexões de uma jornada de escrita e de leitura

Há 6 anos, eu publicava o meu primeiro livro.

Hoje, 8 de junho, faz seis anos que publiquei o meu primeiro livro, A Intermitência das Coisas: sobre o que há entre o vazio e o caos (Editora Litteralux). Ao mesmo tempo que foi ontem, parece que vivi uma vida inteira desde aquele dia.


Me considero escritora desde que abri o meu primeiro blog, Escritos Humanos, lá pelos idos de 2004. Minha carreira foi ganhando consistência, no entanto, quando eu comecei a trabalhar aqui no Algumas Observações, em 2006. Entretanto, há um mito no imaginário coletivo de que pessoas só se tornam escritoras quando tem o objeto livro publicado em formato físico. Há uma necessidade intrínseca de pegar o livro nas mãos e fazer aquilo chamamos de Leitura Sensorial. Talvez por isso mesmo que comemorar o aniversário do A Intermitência sempre me traga para um espaço de reflexão: porque foi a partir dele que muitas pessoas ao meu redor passaram a me considerar “escritora de verdade”, ainda que eu nunca tenha sido “escritora de mentira”.


Meu livro em Paraty, durante a Flip.


É claro que eu ainda não preencho todos os requisitos para muitos leitores por aí. O motivo? Meus livros literários solos são todos de poesia. Se, para mim, escritor é quem escreve, para muita gente ser poeta não é ser escritor (assim como ser cronista ou contista também não). Vejo a empolgação e a frustração toda vez que o seguinte diálogo se repete:

 

— O que você faz?

— Sou professora e escritora. Tenho dois livros literários e um didático publicados. O meu primeiro foi traduzido para o espanhol.

— Sério? E sobre o que fala as histórias dos seus livros?

— Na verdade, meus livros são de poesia.

— Ah…

 

✨ Veja como foi o lançamento do A Intermitência das Coisas, clicando aqui.💙


O ar reticente vem muitas vezes com “poesia é tão difícil, né?”. Com jeitinho, tento responder que “não, poesia não é difícil”. Eu — e aqui falo também como professora de língua e de literatura — não acho que ler ou escrever poesia seja difícil. Acho apenas que nós — sejamos leitores ou escritores — temos que entrar por essa porta com uma chave diferente.

Os múltiplos abraços no dia do lançamento. 

Pensando na analogia da chave: você não abre um cadeado com a chave do carro, do mesmo modo que você não tranca um portão com a chave de uma gaveta ou de um armário. Com a leitura e com a escrita acontece algo similar: não adianta eu ler um poema esperando dele o que viria no romance ou num artigo científico. São chaves diferentes. A gente precisa entrar no livro com a chave certa.


Certa vez, me peguei pensando qual é o propósito da minha escrita e cheguei à conclusão de que tudo o que faço, seja como blogueira, como autora de livros, seja como professora é tentar ser ponte para que as pessoas percam o medo dos livros, da palavra escrita, da poesia.  E por que isso? Porque a poesia está da vida, mas o sistema estabelecido socialmente vai matando o nosso olhar artístico para as belezas ao nosso redor. A gente se acostuma com o piloto automático. E como já diria Marina Colasanti, “Eu sei que a gente, mas não devia”.


✨ A intermitência das coisas nas bibliotecas públicas de São Paulo. 💙


Há 6 anos eu venho, profissionalmente falando, dizendo que se textos de não ficção são para serem lidos com o racional; a prosa, num mix de razão e de emoção; a poesia — assim como a sua irmã: a canção — é para ser lida com o emocional. Quando a gente abre o coração, a gente sente a poesia. Poesia é feita para ser, sobretudo, sentida. Via de regra, quem quer analisar intelectualmente um poema é alguém que exerce a função de crítico literário.

Meus livros juntos. :)

Estou dizendo que só críticos podem analisar intelectualmente? Não. Mas pense comigo: tente se lembrar de um poema ou de uma canção que você já leu/ouviu e de que gostou muito. Muitas vezes, esses os versos entraram nas suas entranhas. Você gosta porque gosta, porque o poema ou a canção moveu um sentimento tão profundo, intrínseco, inconsciente, que fica difícil racionalizar por que raios você gosta tanto daquele texto. É sobre isso que estou falando. Quando a gente lê um poema com essa chave, a poesia se torna muito menos assustadora. E é por isso que eu continuo a escrever poesia: porque essa forma de escrita me acessa nos meus lugares mais recônditos e porque eu sei que se meu leitor perder o medo, ele também vai encontrar os lugares mais recônditos dentro de si.


Seis anos se passaram e o A Intermitência segue firme me ajudando nessa missão. Além de alcançar leitores em língua portuguesa, ano passado ele foi traduzido e agora pode ser lido en español, além de ser vendido no Brasil e na Argentina. Eu só posso agradecer por saber que há leitores nacionais e estrangeiros que se permitem navegar pelos meus versos — com medo dos versos ou não. São justamente esses leitores que continuam a me dar forças para ser um pequeno ponto de luz poética insistente contra essa vida corrida e líquida que tenta nos engolir o tempo todo. A todos que me leem, muito obrigada! 


✨Quer apoiar meu trabalho como escritora? Meus livros estão à venda e você pode conferir todos os títulos aqui! Obrigada por ler, seguir, e caminhar junto nessa jornada de palavras. 💙💜

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11 comentários:

  1. Oi, Fernanda! Como vai? Infelizmente, muitos leitores ainda não desenvolveram a sensibilidade necessária para apreciar a poesia em sua essência. Ao abordarem poemas com um olhar excessivamente racional, acabam por afirmar que não gostam desse gênero literário — o que, na verdade, revela mais sobre sua forma de leitura do que sobre a poesia em si. Como você bem observou, há livros e há livros; ou seja, não adianta tentar compreender a poesia com os mesmos filtros lógicos e objetivos usados para outros tipos de leitura. Essa abordagem, simplesmente, não funciona — e jamais funcionará.
    O que se percebe, de modo geral (sem, evidentemente, cair em generalizações), é que muitas pessoas têm vivido e lido no modo automático. Isso se reflete não apenas na literatura, mas em diversas esferas da vida. Contudo, detenho-me aqui ao universo literário, onde tal automatismo empobrece a experiência estética e intelectual da leitura. Aproveito para parabenizá-la pelo aniversário de seu primeiro livro — um marco significativo. Que ele seja apenas o início de uma trajetória literária repleta de obras tão sensíveis e bem construídas quanto essa, dignas de uma escritora tão talentosa e competente como você. Abraço!

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    1. Olá, Luciano! Obrigada pelas palavras tão carinhosas com o meu livro e com a minha literatura.
      Concordo com o que você reiterou do meu post. Acho que tudo isso é um rfl3xo dessa nossa sociedade doida e acelerada. Ainda bem que encontramos nos livros um espaço que orbita em um ritmo diferente.

      Obrigada, mais uma vez por me ler.

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  2. Fico muito feliz de ter participado desse momento tão bonito. Seu livro é lindo e tenho muito orgulho de dizer que sou sua amiga e de te ter como professora tão talentosa e inteligente como você. Parabéns!

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    1. Lu, o que dizer sobre você, mulher?! Minha vida é muito melhor por causa do seu carinho, da sua amizade, do seu apoio e das suas artes. Só tenho que te agradecer por estar há tanto tempo por aqui. 💚💚💚💚

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  3. Poesia também me desperta os mais diferentes sentimentos e emoções. Gosto muito de ler.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  4. Que engraçado, Fe, eu NÃO CONSIGO te imaginar sem A Intermitência das Coisas... Na minha cabeça ele nasceu junto com você e sempre esteve na sua vida desde que te conheci, sabe? Parabéns pelos 6 anos de publicação - eu acho CHIQUE DEMAIS você ter a versão em espanhol dele publicada também!

    É engraçado como as pessoas nunca estão satisfeitas, né? As pessoas desvalorizam o fato de você ter publicados poesias, e não romances, e algumas vezes já me desvalorizaram por não escrever poesia e não ser grande consumidora do gênero... Sempre vão querer nos considerar "menos escritora" por algo, né? Bom, azar o deles, seguimos aqui!

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  5. 6 anoooos! Gente que tudo! Parabéns Fê! Eu tenho esse livro e eu lembro que eu sentei e li ele todinho porque sua escrita é uma delícia! O Rasgos já foi mais intenso e ai eu fiz pausas. Eu gosto de poesia porque ela fala com outros lugares aqui dentro. E é muito bom ter uma amiga escrevendo lindos livros de poesia :)

    E você sempre foi escritora! Tem letrinhas correndo nas suas veias, tenho certeza!
    <3

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  6. Seis anos parece ontem, mas também parece uma travessia cheia de camadas e que alegria saber que A Intermitência das Coisas continua ecoando em tantos corações, em tantas línguas.
    Te ler é sempre um lembrete de que a poesia mora nos detalhes, e que ela não precisa ser decifrada, apenas sentida. Obrigada por continuar sendo ponte, por insistir na delicadeza e na profundidade em tempos tão barulhentos. Que venham muitos outros aniversários, versos e leitores pelo caminho.

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