domingo, 13 de agosto de 2023

Amor arbóreo

Já abraçou uma árvore hoje?


Não sei bem como foi que tudo começou; mas, ao longo da vida, acabei desenvolvendo um amor profundo por árvores. Talvez, isso tenha ocorrido no começo da adolescência, quando comparava nossas estruturas: o meu corpo com o tronco e minha cabeleira cacheada com a copa. Talvez, este amor esteja relacionado a um lance genético, fruto da descendência indígena que foge da ciência acadêmica e aprende observando a vida. Ou talvez não seja nada disso. 

O desabrochar do meu amor foi tímido, e o primeiro encontro que marcou a minha vida foi na escola. Minha turma (eu tinha 8 ou 9 anos naquela época) foi convidada a plantar um pau-brasil, depois de ter estudado o estrago que os portugueses fizeram ao desmatar a espécie durante a colonização. Hoje, ele ainda me faz sorrir cada vez que passo na frente da escola e vejo suas folhas que querem alcançar a rua por sobre o muro. 

O tempo passou, e eu pensei que a minha relação com as árvores se esfriaria no fim da adolescência. Ainda que me desse bem em biologia (das biológicas, biologia era a minha preferida, porque não há como amar química ou física), detestava com todas as minhas forças ter que saber a diferença entre uma briófita, uma pteridófita, uma gimnosperma e uma angiosperma (tanto é que na minha memória ficaram apenas os nomes de sons curiosos e não as suas definições). Ralei para conseguir nota naquele bimestre e não esquecer as diferenças entre elas até o vestibular. E com esse esforço, lá se foi o encanto. 

A poesia voltou com a universidade. Digo poesia, porque meu amor pelas árvores é daqueles contemplativos, que gera muitos versos na minha cabeça (versos que muitas vezes se dispersam antes de virarem palavras no papel). Era no trajeto entre o metrô e a faculdade que eu sempre parava lá no parque da Mooca, me sentava em um banquinho, para me aquecer no sol de inverno do meio da tarde, e passava um bom tempo observando a minha árvore preferida da região. 

Sim, o amor arbóreo é bandido. Ele não sabe o que é fidelidade e se multiplica como o pólen ao vento. Há árvores preferidas quase em cada esquina, em cada parque, em cada bairro, em cada cidade visitada. E há também as espécies preferidas, como aquela do parque da Mooca (que também é a mesma da rua de trás da pós-graduação), e que, claro, não sei o nome. Árvore, para mim, tem que ser assim: não pode ser nomeada, tem que ser descrita. No caso da espécie em questão, é aquela que vai perdendo a casca do tronco desde o início do outono, até que ele fique branquinho no inverno. Coisa linda de se ver e de se sentir. Aliás, já disse que sou dessas que abraçam árvores? Pois é, eu sou. 

Tudo começou um dia no Ibirapuera. Soltei um “ai que árvore linda!” e meu pai, fanfarrão como ele só, retrucou com um “duvido você fazer uma foto abraçada com ela”. Nunca desafie uma virginiana, porque desafio feito é desafio aceito, e nesse caso, com a foto indo parar nas redes sociais. Deste então, o clique se tornou um hábito. Hoje tenho foto com jabuticabeira de Campinas, com um pau-brasil do Jardim Botânico do Rio, com árbol de Palermo, em Buenos Aires, com a magrelinha da avenida Paulista. Diz a ciência que abraçar árvore faz bem à saúde (é sério, tem pesquisa sobre isso! Google it!), eu digo que é reconfortante. Só de passar um minutinho em silêncio nessa vida corrida, já vale a pena. 

Mas por que esse papo todo sobre árvores? Porque estava caminhando, na volta para casa, e vi uma pequena flor em uma delas – dessas novinhas, de tronco fininho. Aquela flor era a única que havia em toda a copa, a única que resistiu a este início de inverno rigoroso, a única em meio ao barulho dos carros e pedestres que tanto correm. Branca, plácida e bela, ela só era vista por quem olha para o alto.

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8 comentários:

  1. Ah, que texto lindo! =) Eu sou bióloga de formação e concordo que temos muitos termos que dariam ótimos nomes de personagens em novela mexicana, haha. Mas pelo menos ficaram gravados na memória, hehe. Eu adorei saber do seu amor pelas árvores e imagino a cara do seu pai rindo enquanto tirava sua foto abraçada com a árvore.
    Bjks!

    Mundinho da Hanna
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    1. A foro abraçada à árvore já virou tradição, mas a primeira foi engraçada mesmo! hehehehe
      Que legal que você é bióloga!

      Um beijo

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  2. Oi Fernanda, compartilho com você o não gostar de saber as definições botânicas, mas enquanto lia os nomes um exemplo de cada uma apareceu na minha mente. Coisas de bióloga..hahaha.. Adorei a forma como você descreveu o seu relacionamento com as árvores. Extremamente poético.

    Até breve;
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com
    https://universo-invisivel.blogspot.com

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    1. Este post está reunindo as biólogas de plantão! hehehe
      Fico feliz que você tenha gostado. :)

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  3. Também amo a natureza. Se eu pudesse, morava em algum interior do Brasil. Estar perto da natureza e do verde faz muito bem para a saúde.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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    1. O natural é a natureza. As pessoas que estragam tudo isso, :(
      Obrigada pela leitura.

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  4. Que texto delicioso de ler e sentir

    Até mais!
    Beijos ❤️
    @ledasbueno
    WATERMELON CURLY

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