terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Flâneur




A cidade me chama mais que antes. Há um imã que me convoca e me atravessa. Mas nada é como no passado: suas cores seguem mais vívidas vista por trás das novas lentes. Suas dores também. É impossível não sentir o lamento de quem faz do céu aberto e suas intempéries um lar. A felicidade primeira de me integrar aos parques, aos carros, ao asfalto e ao concreto se desfaz à medida que caminho. Passo por homens, mulheres, crianças, cachorros e gatos em barracas a cada esquina. Pessoas que lutam segundo a segundo para manter um resquício de dignidade. Pontos turísticos inteiros se convertem em lares organizados: muitas vezes há uma tentativa de ordenar o caos. Alguns pedem dinheiro. Outros, já exaustos, apenas deixam uma plaquinha visível: "me ajude a ter jantar". Sinto que a luta — essa, por ser gente — também é minha. Como posso ser digna enquanto há outros de mim sem ter o que comer?


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8 comentários:

  1. Todos deveríamos fazer a pergunta que encerra o texto. Diariamente.

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    1. Pois é. É complicado viver ignorando esses problemas todos. :(

      Espero que a nossa sociedade saia desse buraco logo.

      Um beijo :*

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  2. ai, fê!

    que texto forte e cheio de verdades. por todo canto q passamos há tanta gente quebrada, em pedaços, tentando se recompor na medida da possível. mta gnt precisando de dinheiro, comida... aliás, hj li uma notícia que informava que do G20, o Brasil só fica atrás da África no quesito "desigualdade".

    que continuamos a caminhada tentando ajudar na medida do possível que tanto necessidade de comida e afeto. :(

    bj!
    Não me venha com desculpa - Adriel Christian

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    1. É duro demais ver esse retrocesso. Eu espero que, em outubro, a gente comece a mudar essa narrativa pra melhor.

      Um beijo

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  3. Interessante essa reflexão. Gostei bastante.

    Boa semana!


    Jovem Jornalista
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    Até mais, Emerson Garcia

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  4. "É impossível não sentir o lamento de quem faz do céu aberto e suas intempéries um lar." Senti exatamente isso das poucas vezes que saí desde o começo da pandemia. Sempre me doeu ver as pessoas na rua, agora me dói ainda mais mais, primeiro por parecer ter duplicado o número de pessoas, e segundo por saber que elas não tiveram chance de proteção e segurança não só de tudo que já passavam antes, mas também dessa doença. É sofrido viver sabendo que essas pessoas não têm o mesmo que todos deveriam ter. Se é sofrido pra mim, imagina pra eles. Não entendo como tem gente que passa e finge que não vê, e não sente nada. Não entendo como o mundo pode ser tão injusto.

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    1. Ai, Liv! Eu nem sei o que dizer porque quanto mais eu tento entender tudo isso, mais mirabolante essa narrativa toda que vivemos parece ser. É duro demais pensar que o nosso mundo é assim tão desigual e que a gente está preso a essa rodinha do hamster. :(

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.