perdoe-me a intimidade de chamá-lo pelo primeiro nome. Acontece que não gosto de formalidades e, me parece, você também não. Ademais, quero conversar sobre o que anda transbordando do peito e isso também não combina com cerimonialismos.
Estava aqui pensando quando nos conhecemos e como foi o nosso primeiro encontro. Não consegui me lembrar ao certo, mas creio que isso aconteceu em uma sala de aula, há 17 anos. O poema que trazia as suas sete faces me despertou o desejo de entender mais da crítica literária e de querer esmiuçar cada verso, para lhe conhecer melhor. Dali, pulamos para "No meio do Caminho", "Quadrilha" e "Sentimento do mundo". Foi com "Sentimento do mundo" que você ganhou meu coração. Você mora nele até hoje.
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Trecho de abertura do poema "Sentimento do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade. |
Alguns amigos lhe reconhecem no que eu escrevo, mesmo que eu não esteja pensando em você no momento da escrita. De algum modo mágico, seu texto se entranhou nas minhas veias. As crônicas, os poemas, o seu modo intenso de ver o mundo com uma simplicidade dolorosa... Não sei se aprendi com você a ser assim, ou se me reconheci em você justamente porque sou assim.
A resposta para esse dilema não importa. A confluência, sim. Principalmente quando ela é do amor. Tenho fé nas pessoas, Carlos, e não quero perdê-la. O mundo está de pernas para o ar; mas, ainda assim, quero manter fé nas pessoas. E é por isso também que lhe escrevo.
Carlinhos, você viveu o horror de presenciar as duas grandes guerras. Você também viu o que veio depois delas. Então, Carlos, me diga, como lidar com tanta gente se odiando? Como educar, como escrever, como encontrar forças para vencer o medo e o ódio que se espalham pelas ruas e ganham cada vez mais força? Como viver em uma sociedade que está polarizada? (Sim, de novo, Carlos. Em outro contexto decerto; contudo, aqui estamos nós, cada um de um lado.)
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Poema "Congresso Internacional do Medo", de Carlos Drummond de Andrade. |
Carlos, a amendoeira falou enquanto seus netos brincavam na praça. Será que voltarei a ver esta paz reinando novamente? Será que, de algum modo, a humanidade aprenderá com os seus erros e terá paz algum dia? Será que o José encontrará um consolo para o seu e agora?
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Trecho do poema "As Sem-Razões do Amor", de Carlos Drummond de Andrade. |
São muitas perguntas sem respostas, Drummonzinho. Muitas mesmo. De qualquer modo, por mais que eu conserve este nó no peito, quero lhe agradecer: suas crônicas e seus poemas sempre foram e sempre serão um abraço em meio ao caos.
Com carinho,
Fê
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maravilhoso post cheio de Drummond que retrata mts dos nossos sentimentos
ResponderExcluirwww.tofucolorido.com.br
www.facebook.com/blogtofucolorido
A doçura potente do Drummond me encanta!
Excluir<3
Beijos
Os textos dele são incríveis mesmo. Acho que até ele ficaria sem palavras nessa hora tão estranha que estamos vivendo. Ou talvez apenas o poeta consiga achar a resposta para esse tempo de caos.
ResponderExcluirVoltei com o blog e estou com postagens diárias este mês; se puder, passe por lá.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Ele viu as grandes guerras, então acho que viveu tempos mais complicados que os nossos. De qualquer modo, a atualidade - repleta de suas discrepâncias - não é algo que um poeta aceita com facilidade.
ExcluirQue bom que voltou com o seu blog.
um beijo
Oii Fê!
ResponderExcluirQue Drummond possa te trazer sempre belas inspirações e luz para encontrar novos caminhos para seguir em paz em meio ao caos. Os diferentes ciclos que o mundo vai vivenciado traz o movimento necessário para que se crie um movimento rumo as mudanças necessárias ao aprimoramento de todos nós :)
Ótima semana para vc!
Bjos
Ver todo esse período ruim como oportunidade é algo que me anima. A crise sempre renova, e eu espero que consigamos sobreviver a tudo com criatividade e amor.
ExcluirUm beijo,
Fê
Um abraço em meio ao caos... que lindeza!
ResponderExcluirAmei a forma carinhosa de chamá-lo.
juliamodelodemodelo.blogspot.com
Acho que todo mundo deveria ter intimidade com os nossos poetas preferidos. Tristes aqueles que não a têm.
Excluirum beijo!