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Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. |
Escrito pelo paraibano Ariano Suassuna, em 1955, o
Auto da Compadecida é um texto teatral em que o humor permeia profundas reflexões sobre a condição humana, principalmente aquela vivida no sertão nordestino brasileiro.
Tendo sua primeira montagem no teatro em 1957 e três adaptações cinematográficas (a mais famosa, de 1999, com direção de Guel Arrais e roteiro de Adriana Falcão), o
Auto conta a história de Chicó e João Grilo, de como eles se enrolavam em suas mentiras e de como isso levou João à morte, carregando consigo um bispo, um frade, um padre, um sacristão, o padeiro e sua fogosa esposa e um cangaceiro. O desenrolar da trama se dá no julgamento para decidir se os personagens irão para o céu, para o inferno ou para o purgatório.
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Página de rosto. |
Quem já assistiu ao filme já sabe que Chicó e João Grilo trazem consigo um humor refinado e sarcástico de quem muito sabe, mesmo sem ter a instrução escolar. A leitura do texto da peça é tão dinâmica quanto os personagens e é impossível não rir das atrapalhadas da dupla e dos argumentos de João Grilo durante o julgamento. Esse dinamismo causa no leitor uma vontade de não parar a leitura até que ela se finde. Levados por este humor, vamos até o último ponto final.
Suassuna conseguiu tocar em pontos significativos em sua dramaturgia. Baseando-se na literatura de cordel, o autor convoca para dentro de seus textos a tradição literária nordestina. Sem negar as falas, as fábulas, as lendas, os temas, o motes e o contexto, Suassuna realiza literatura de uma complexidade sem tamanho, numa simplicidade infinita, se apropriando de suas raízes. E, embora escreva um texto leve e gostoso de ser lido, ele não se exime de ir ao cerne de algumas questões importantes como o racismo (que os mortos sentem ao ver um Jesus negro), o papel da mulher (como os comentários sarcásticos que o diabo faz em relação ao poder que a Nossa Senhora tem, em contraste com a autoridade que ela exerce durante o julgamento das almas), a corrupção e a super valorização do dinheiro (que aparecem nas posturas dos religiosos e do padeiro), a seca, a fome, a pobreza e a violência do sertão (representadas pela malandragem de Chicó e João Grilo e pelo cangaceiro).
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Detalhes da uma das ilustrações de Romero de Andrade Lima. |
Não é à toa os sucessos das montagens e dos filmes no Brasil e no mundo. Não é à toa que Ariano Suassuna conquista a todos com o seu jeito simples, porém profundo de se expressar. Não é à toa que o Auto da Compadecida se tornou um clássico do nosso teatro e faz com que tenhamos orgulho da nossa literatura e de sermos brasileiros (apesar da dificuldade relatada na própria peça). O texto é realmente fabuloso e merece ser lido por todos.
Livro: Auto da Compadecida
Autor: Ariano Suassuna
Gênero: dramático
Editora: Agir | Nova Fronteira
Ilustrações: Romero de Andrade Lima
Posfácio: Braulio Tavares
Páginas: 192
Sinopse: O Auto da Compadecida consegue o equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária ao recriar para o teatro episódios registrados na tradição popular do cordel. É uma peça teatral em forma de Auto em 3 atos, escrita em 1955 pelo autor paraibano Ariano Suassuna. Sendo um drama do Nordeste brasileiro, mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, a comédia, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas. Apresenta na escrita traços de linguagem oral (demonstrando, na fala do personagem, sua classe social) e apresenta também regionalismos relativos ao Nordeste. Esta peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro".
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Oi Fe! Que resenha!!
ResponderExcluirDe todas as adaptações que você citou eu só conheço o filme de 99 e é um dos meus filmes preferidos, mas eu não sabia que tinha um livro, porque nunca pesquisei sobre!
Me pareceu uma leitura gostosa e divertida e que como um bônus fala de assuntos importantes. :)
Um beijo!
Inventando Assunto
Aline, tenho certeza que você irá gostar se ler!
ExcluirAinda mais porque viu o filme.
É tudo muito fiel, mto fresco.
Gostei mto da minha experiência com este livro. Recomendo.
Beijos
Oi Fernanda.
ResponderExcluirSabe que desde que vi o filme fico pensando em como seria a leitura dessa peça. Todas as vezes eu imagino que deve ter mais reflexões sobre a vida do nordestino e o modo que ele tem que arrumar para se virar.
Um belo dia eu faço essa leitura.
Beijos.
Tem sim. É incrível como o Suassuna conseguiu tocar em temas extremamente delicados com leveza e simplicidade. O livro é muito lindo, muito bem-feito, de uma leitura muito fluida.
ExcluirCerteza que você irá gostar!
Beijos
Woow eu não sabia que tinha o livro!! Deve ser GENIAL!! A peça já é. Agora bateu uma vontade louca de ler!!
ResponderExcluirMe lembrou um pooouco Auto da Barca do Inferno. Tanto pela temática, quanto por ser "mascaradamente" critico. Sera?