sexta-feira, 15 de abril de 2016

Fragmento

Imagem por Unsplash, sob licença creative commons.

O marasmo era tamanho, que os ponteiros não se moviam. Eram sempre as mesma horas e minutos, nos mesmo números, as mesmas carências. Ele não sabia mais o que era dia ou noite e não se importava. Havia alguma necessidade em sair da cama? Precisava mesmo cumprir com as responsabilidades?

Vivia na inanição não por escolha, mas por falta de forças para mudar. Querer, até queria; contudo, estava há tanto tempo na inércia que não sabia por onde começar a mudar. Os amigos casados há alguns anos, começavam a ter filhos; enquanto ele ali estava: tendo apenas a solidão por companhia.

A dúvida lhe corroía. Sair de casa tornava-se uma tarefa árdua, já que isso sempre implica em ter que falar com estranhos. Como lidar com sorrir, cumprimentar e ter que puxar assunto? Depois de tanto tempo sozinho, já não sabe mais o que é ser sociável. E o não-saber vem acompanhado de uma dor tão profunda, que o encolhe como um feto no leito de seu quarto escuro.

Querer e não ter capacidade. Desejar o mundo e se amedrontar. Sentir ganas de seguir e não ter forças. Vivia no limite da sua falta de esperança, ao passo que os ponteiros do relógio fingiam brincar de estátua. Ilusão. Doce ilusão. Enquanto todos invejavam a sua vida aparentemente pacata, ele se via à beira de um ataque de insanidade.

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8 comentários:

  1. Ah já me senti assim... Depressão ou apenas tédio? Que difícil x.x
    Ultimamente o individualismo anda matando o lado social da vida...
    http://passaro-de-inverno.blogspot.com.br/

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  2. Fê,

    Tem dias em que não sinto vontade de fazer nada produtivo. O que você falou no texto sobre as pessoas invejarem a vida pacata do personagem é aquele negócio da falta de empatia que faz com que as pessoas olhem pra experiência do outro com a perspectiva errada. Você julga o outro sem se aproximar dele pra tentar entender como ele sente.

    É difícil esse sentimento, mas quando lidamos com ele com amor e empatia é possível deixar tudo menos pesado pra quem o carrega! ❤
    Gostei bastante do texto, parabéns!

    Um beijo
    Inventando Assunto

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    1. Oi, Line!

      Pois é! Ter empatia é um exercício diário que todos deveriam tentar. Eu venho trabalhando isso em mim, porque acredito que a empatia e a gentileza são ferramentas poderosas para mudar o mundo. ♥

      Obrigada pela leitura e pelo comentário tão reflexivo.
      Beijos!

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  3. Qndo o simples fato de ir comprar pão de desanima por ter a possibilidade de encontrar alguém e dar bom dia.

    Está sou eu.

    www.carolvayda.com.br

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  4. Querer e não ter capacidade. Desejar o mundo e se amedrontar. Sentir ganas de seguir e não ter forças.

    É tão ruim nos sentir assim, ainda não sei se consegui sair dessa mas sei que não tenho chorado mais. Estou tentando e esperando aquele "um dia acontece" chegar na minha vida.

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    1. Oi, Ana!
      A gente tem que pensar que é um passo de cada vez.
      Uma hora a gente vence.

      Beijos!

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.