Dias ensolarados de uma mente sem lembranças

Dias chuvosos me dão preguiça. Ao acordar e ouvir o barulho dos pingos que caem lá fora, sinto uma única vontade: ficar na cama relembrando os nossos bons momentos, enquanto observo o urso de pelúcia que você me deu no meu aniversário.

Ah! Bons tempos! Deve ser por isso, talvez, que eu não gosto dos dias chuvosos: eles me forçam a me lembrar daquilo de mais precioso que eu tive e perdi – você! Quando chove, recordo-me do seu beijo, e sua gargalhada ecoa em minha alma.

Que você faz falta é fato. Dói-me não ter a sua companhia, o seu silêncio, os seus conselhos. Sinto-me como a gota de água que se desprende da nuvem em queda livre ao chão. A esta altura do campeonato, não há mais quem possa ou queira me salvar (além de você, ninguém mais tem este poder), a morte é iminente: as lembranças me matam aos poucos.

A cada dia de sol, esforço-me para brilhar e empurrar para mais fundo no baú quaisquer recordações suas. Parei de dizer em voz alta o quanto amo covinhas ou que vermelho é a sua cor preferida (ainda mais se ela estiver colorindo um carro antigo).

Sufocar a voz camufla a dor. Assim vou vivendo, até que um dia de chuva surge para inundar o meu coração e trazer tudo à tona novamente: veja! Ali boia o presente que eu não lhe dei. Do outro lado está o primeiro beijo e, mais ali na frente, todos os abraços. À direita, os e-mails trocados; à esquerda, todas as vezes que você me disse que não, eu não te perderia...

É manhã, e chove lá fora. Venço as torrenciais lembranças e me levanto para checar a previsão do tempo, torcendo para que uma massa de ar seco me garanta dias ensolarados e uma mente sem lembranças.