segunda-feira, 7 de setembro de 2015

{Resenha} O irmão alemão, de Chico Buarque


O mais novo livro do Chico Buarque, O irmão alemão, é simplesmente genial. Astuto como é, o autor misturou fatos da sua vida real com a ficção para compor uma história que envolve e comove o seu leitor.

Narrado em primeira pessoa, Francisco de Hollander, o Ciccio, nos apresenta a sua vida – desde a adolescência até a fase adulta – e sua busca pelo (meio) irmão alemão, que ele descobre, por acaso, ser filho de um breve relacionamento que o pai teve enquanto morou na Germânia, antes da Segunda Guerra Mundial. No entanto, ao longo da narrativa, nota-se que esta busca não é apenas a de um reencontro com um desconhecido com o mesmo sangue, é uma busca pela própria identidade e pelos laços familiares.

Por ser testemunha ocular do período da ditadura militar, Chico Buarque consegue inserir seu personagem com maestria no período. Para quem conhece bem São Paulo (principalmente a região central, entre a República e as Avenidas Paulista e Teodoro Sampaio), fica impossível não se ver andando com Ciccio e não se transformar em testemunha ocular de todas as suas peripécias.  Com ele vamos em busca de Anne Ernest, ex-namorada de seu pai, e seu filho, Sergio Ernest, o tal irmão alemão. 

Sergio de Hollander, o pai dos irmãos em questão, é intelectual consagrado. Então, a história, de certa maneira, não deixa de ser uma ode de amor aos livros. Definitivamente, os amantes de bibliotecas desejarão viver na casa dos Hollander, já que ela tem suas paredes revestidas de livros raros – que Ciccio faz questão de exibir na universidade enquanto cursa Letras. Além disso, para dar cada vez mais um tom verossímil à narrativa, ao longo do livro há cópias escaneadas de documentos reais que comprovam a existência do irmão alemão.

Um dos documentos que faz parte do acervo da família Buarque de Holanda

Após muita pesquisa, Chico Buarque conseguiu traçar um roteiro belo e intenso, que culmina com um final poético a um fato histórico-literário de seu passado em que afeto e autoconhecimento se tornam um sentimento só.

Livro: O irmão alemão
Autor: Chico Buarque
Páginas: 240
Sinopse: Sergio Buarque de Holanda morou em Berlim entre 1929 e 1930, como correspondente de O Jornal, órgão dos Diários Associados. Na cidade travou contato com nomes relevantes da intelligentsia local, como Thomas Mann - a quem entrevistou nos elegantes salões do Hotel Adlon, no bulevar Unter den Linden - e o historiador Friedrich Meinecke - a cujas aulas assistiu. Essa Berlim brechtiana foi também cenário de uma aventura amorosa entre o brasileiro e certa Anne Ernst, da qual resultou um filho, Sergio Ernst, que o pai jamais conheceu. De volta ao Brasil, Sergio Buarque daria largos passos rumo ao ensaísmo acadêmico, se tornaria professor universitário e diretor de museu, logo um dos maiores intelectuais do país. Casou-se, teve sete filhos, entre os quais Chico Buarque. Seu “mau passo juvenil” não era exatamente um tabu, porém estava longe de ser assunto na família. Chico só soube da história em 1967, aos 22 anos. Estava na casa de Manuel Bandeira em companhia de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e o poeta pernambucano deixou escapar algo sobre aquele “filho alemão do seu pai”.
Quando se preparava para escrever um novo romance, o autor pediu a Luiz Schwarcz - como costuma fazer ao fim dos períodos de entressafra literária - que lhe enviasse livros de que gostara nos últimos tempos. No pacote foram Austerlitz, de W. G. Sebald, cruciante investigação ficcional da memória e da história pessoal, e Paris, a festa continuou, de Alan Riding, uma história narrativa das manifestações culturais na Paris ocupada pelos nazistas (a bem da verdade um relato da acomodação de grande parte dos artistas e empresários da cultura franceses às forças de ocupação). A leitura de Austerlitz despertou em Chico Buarque a angústia pelo destino incerto desse irmão que jamais conhecera - e que bem poderia ter sucumbido aos anos de terror numa “cidade bombardeada e partida ao meio”, ou mesmo cerrado fileiras com a juventude hitlerista. Transcorridas quase cinco décadas, decidiu então tomar o assunto como matéria para um novo livro. Logo assomou a necessidade de saber o que se passara com Sergio Ernst, por motivos afetivos mas agora também literários. Afinal, como desatar os nós da narrativa sem conhecer o fim da história real? Por sua vez, um pianista salvo do nazismo pelo mítico benemérito americano Varian Fry, citado em Paris, a festa continuou, evocou lembranças da infância paulistana do autor -, e deu-lhe o mote para uma figura central do romance. Começava-se assim a desenrolar o novelo.
Chico Buarque já enfrentava as primeiras páginas quando tomou conhecimento de uma correspondência - preservada por sua mãe, Maria Amelia Buarque de Holanda - entre autoridades do governo alemão e seu pai, ali chamado de Sergio de Hollander. Já no poder, os nazistas queriam se certificar de que a criança, então sob a guarda do Estado, não tinha antepassados judeus, a fim de liberá-la para adoção. Ao tomar ciência do teor dos documentos, Chico deu início a uma pesquisa exaustiva sobre a vida e o paradeiro do garoto. Por intermédio do historiador brasileiro Sidney Chalhoub, acionado pela editora enquanto passava um período acadêmico em Berlim, os pesquisadores João Klug (historiador) e Dieter Lange (museólogo) embarcaram num trabalho verdadeiramente detetivesco, conseguindo afinal traçar o destino do “irmão alemão”, com descobertas surpreendentes. O irmão alemão reproduz ficcionalmente essa pesquisa real, mas não é um relato histórico. O autor usa a realidade como fonte da ficção.
A narrativa se estrutura numa constante tensão entre o que de fato aconteceu, o que poderia ter sido e a mais pura imaginação. Na São Paulo dos anos 1960, o adolescente Francisco de Hollander, ou Ciccio, encontra uma carta em alemão dentro de um volume na vasta biblioteca paterna, a segunda maior da cidade. Em meio a porres, roubos recreativos de carros e jornadas nem sempre lícitas a livros empoeirados, surgem pistas que detonam uma missão de vida inteira. Ao tentar traçar o destino de seu irmão alemão, parece também estar em jogo para o narrador ganhar o respeito do pai, que, apesar dos arroubos intelectuais de Ciccio, tem mais afinidade com Domingos, ou Mimmo, seu outro filho, galanteador contumaz, leitor da Playboy e da Luluzinha, e sempre a par das novas sobre Brigitte Bardot. A despeito das tentativas de mediação da mãe, Assunta - italiana doce e enérgica, justa e com todos compreensiva -, a relação dos irmãos é quase feita só de silêncio, competição e ressentimento.
Num decurso temporal que chega à Berlim dos dias presentes, e que tem no horror da ditadura militar brasileira e nos ecos do Holocausto seus centros de força, O irmão alemão conduz o leitor por caminhos vertiginosos através dessa busca pela verdade e pelos afetos.

Leia trecho disponibilizado pela editora. | Livro no Skoob.

Veja o autor lendo trechos da obra:










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6 comentários:

  1. Você já mora no meu coração, ainda mais gostando de Chico Buarque... por isso que eu te amo, viu hahaha
    Eu amei esse livro. Gostei demais da sua resenha, fez a minha ficar tão sem graça hahaha
    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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    Respostas
    1. uahahahahhahahaha
      Chico é incrível! Amo os livros dele. Gostei muito deste, mas o meu preferido ainda é Budapeste (que é o que eu sempre leio e releio!).

      Beijos e saiba que você também mora no meu core! <3

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  2. To louca pra ler esse livro, com a sua resenha mais ainda :)
    Chico sempre produzindo coisas esplendidas :)

    Bjos Fe!

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    Respostas
    1. Pois leia, Carol!
      Certeza que vc não irá se arrepender!

      Beijos!

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  3. Puxa, eu tenho esse livro na minha estante virtual e ainda não li, acredita!? #vergonha
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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