domingo, 16 de março de 2025

{Resenha} Demerara, de Wagner G. Barreira



Misturando a realidade de seu antepassado, a história da chegada da gripe espanhola no Brasil e ficção, Wagner G. Barreira, tece uma trama envolvente para nos apresentar a vida de Bernardo, um espanhol nascido na Galícia, que passa boa parte da vida em Vigo, cidade onde vive de forma errática.

Órfão de pai e mãe, Bernardo foi deixado em um orfanato para ser padre. Ali, ele sofre todos os possíveis maus tratos e resolve seguir outro rumo que não o do sacerdócio. Nas ruas de Vigo, ele aprende o que é sexo, amor, bebidas, jogos, trapaças e contrabando, se tornando bem quisto por uns e odiado por outros. É em meio da desilusão com a vida que Bernardo recebe um chamado: embarcar no navio Demerara rumo a Buenos Aires. 

A princípio Bernardo resiste. Largar a vida para se apegar a uma promessa não parece algo que lhe faz sentido. Depois, com o desenrolar da trama, ele aceita o convite, cruza o Atlântico e acaba desembarcando no Brasil. Nada é como Vigo, nada é como a árvore que sempre lhe dera olivas. Ainda mais quando se traz na bagagem a doença estranha, que ninguém sabe bem como se trata. E isso é tudo para prender o leitor página a página, capítulo a capítulo.

O livro é estruturado em 18 capítulos ágeis em ações e com detalhes na medida certa. Wagner G. Barreira traz consigo o seu lado jornalista: os fatos são apresentados com clareza cristalina. Os diálogos são precisos. A prosa é arrojada. Meu eu leitora seguia página a página sem desgrudar do gancho literário que cada cena criou no meu imaginário: uma Santos sitiada, uma São Paulo em expansão. Conforme Laurentino Gomes nos aponta em seu prefácio, Wagner G. Barreira fez uma pesquisa intensa sobre o contexto histórico da obra, portanto as descrições são muito fiéis ao Brasil de 1918.

Assim como aconteceu com as nossas vidas durante a pandemia de COVID, a vida de Bernardo foi marcada pela gripe espanhola. Há uma identificação nossa com a desse sobrevivente que também teve medo, que também viu pessoas morrendo de perto. Essa carga da vivência emocional de Bernardo nos coloca em um lugar de refletirmos sobre a nossa própria vivência em tempos tão difíceis e em como recomeçar depois que as ondas das doenças se vão. Literatura e realidade em simbiose, mais uma vez.

capa


Livro: Demerara
Autor: Wagner G. Barreira
Prefácio: Laurentino Gomes
Gênero: Romance
Páginas: 152
Editora: Instante
Apresentação/Sinopse: O romance de estreia de Wagner G. Barreira conta a trajetória do jovem Bernardo, que embarca no navio que trouxe a gripe espanhola para o Brasil — e dá nome ao livro.
Bernardo nasceu na Galícia, no norte da Espanha. Ainda criança foi para um orfanato na cidade de Vigo, onde estudou e perdeu a chance de se tornar padre. Em 1918, dois anos após deixar a instituição, leva uma vida errante, vivendo de pequenos golpes ao redor do porto. Convencido por um amigo e precisando desaparecer por um tempo, embarca no vapor Demerara a caminho da América do Sul, na mesma viagem que trouxe a pandemia de gripe espanhola para o continente.
Mistura de ficção e eventos históricos, o livro de Wagner G. Barreira dá voz ao narrador personagem ao relatar a travessia do Atlântico, a acusação de ter assassinado o amigo, a prisão em Santos, a convivência com infectados pelo vírus, a fuga para São Paulo e as dificuldades de adaptação na cidade em construção pelas mãos de imigrantes de todo o mundo.
Demerara nasceu a partir de conjeturas sobre as origens do avô paterno de Barreira. De Bernardo, o protagonista e narrador, pouco se sabe de fato: era galego, chegou ao Brasil no navio Demerara e morreu no dia do batizado do único filho. Fora esses três fatos, tudo mais é ficção, tentativa de recriar a vida do antepassado a partir do ponto de vista do escritor, que fez uma abrangente pesquisa sobre os fatos históricos do período.

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Aperte o play para ver eu lendo o livro do Wagner e outras leituras mais:


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4 comentários:

  1. Parece ser uma leitura fabulosa.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  2. Oi, Fernanda! Como vai? Parece um livro interessante e instigante, né? Que bom que curtiu a leitura. Muito boa a resenha. Abraço!

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    Respostas
    1. Oi, Luciano!
      Eu acho que você iria gostar dessa leitura. Obrigada pelo elogio ao meu texto.
      um beijo

      Excluir

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