domingo, 29 de abril de 2018

{Vamos falar sobre escrita?} Oficina de Autopublicação no Clube da Escrita para Mulheres

Imagem por Jarid Arraes.
Entrei naquela sala e me sentei na cadeira que estava próxima à parede. Depois de tanto tempo fazendo curso em um único lugar, estar em um ambiente completamente desconhecido era intrigante e estimulante.

Estava cercada de mulheres. Todas diferentes, carregando não apenas suas histórias de vida, mas também sua singular criatividade. Em comum, a escrita. Todas éramos escritoras. O encontro foi mediado pela Dani Costa Russo e pela Jarid Arraes — coordenadora e fundadora, respectivamente, do Clube da Escrita para Mulheres. As quatro horas que passamos juntas foi um montar de quebra-cabeças. Desconstruíamos os velhos paradigmas para remontar novas esperanças. Ao mesmo tempo em que passamos a entender como o mercado editorial é cruel com os autores desconhecidos, vimos como é possível ser melhor mesmo estando longe de uma grande editora. O sonho de ver o livro publicado não é impossível.

Nós, mulheres, sempre somos questionadas ao dizermos que somos escritoras. A nossa sociedade ainda aceita melhor um homem que escreve, do que uma mulher. Quando dizemos que escrevemos, recebemos um olhar de dúvida, de desaprovação e o questionamento da quantidade de livros que já publicamos — como se precisássemos comprovar que escrevemos. Em uma era pautada pela tecnologia, uma das reflexões que surgiu na oficina é justamente relacionada a isso: precisamos publicar um livro físico para dizer que escrevemos? Apesar de ter o desejo de finalmente ver o texto em um objeto-livro na prateleira, não é isso que determina quem é ou não escritor. Escritor(a) é aquele(a) que escreve. Portanto, ser mulher e se posicionar como escritora é, em si, um ato político que transpõe o paradigma machista que prega que escritor “de verdade” é apenas homem.

Repost do instagram da Jarid Arraes.

Talvez o parágrafo anterior lhe pareça um exagero. Então, volto com um dado estatístico que uma colega apresentou quando chegamos a essa discussão na oficina: 95% dos escritores que publicam nas principais editoras tradicionais do Brasil são homens. Sim, você leu certo. Noventa e cinco porcento. Ouço esse dado e penso na minha turma de pós-graduação e nos total de participantes do Projeto Escrita Criativa, ambos compostos por pelo menos 90% de mulheres. São contas que não fecham. E por que não fecham? Porque ainda vivemos em uma sociedade extremamente machista.

Enquanto compartilhavam a experiência de se autopublicar, Dani e Jarid davam mais e mais exemplos de pessoas que tentaram fazê-las desistir e de como elas enfrentaram o mundo nesse processo. Para mim, o que ficou de importante é que se faz necessário ter em mente que ser independente é, de alguma forma, ter mais trabalho (não que isso seja ruim, pelo o contrário, você se desenvolve mais em diferentes aspectos). Ser independente não é ser escritor apenas, mas sim editor, preparador de texto, revisor, social media, diagramador, capista, fotógrafo, produtor de eventos, gerente de vendas, mediador de uma pequena equipe (normalmente formada por parceiros e amigos que acreditam no livro tanto quanto nós). É preciso disponibilidade mental para dar conta de tudo isso. Por outro lado, é válido lembrar que ter o contrato com uma grande editora não garante que o escritor não tenha que assumir uma ou várias dessas funções.

Ainda não sei como vou publicar o meu livro — não mencionei, mas se você me segue no Instagram sabe que ele acabou de ficar pronto —, o que posso dizer é que participar desta oficina me deixou mais forte como mulher que apoia outras mulheres e como escritora que vai fazer minhas palavras se tornarem realidade. 

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Para conhecer o trabalho da Jarid Arraes clique aqui; já para saber mais sobre a Dani Costa Russo, acesse aqui.

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16 comentários:

  1. Que legal, adorei o assunto do clube. Um encontro que deve ter trazido a tona muitos questionamentos com certeza :)

    www.vivendosentimentos.com.br

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    1. Foi muito enriquecedor trocar com tantas escritoras de diferentes idades e de escritas distintas ♥

      Beijos

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  2. É triste ver tanto machismo na literatura. Toda discussão é boa para fazer a gente refletir, incentivar e até mesmo consumir mais livros escritos por mulheres.
    Bjus!

    galerafashion.com

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    1. Sim, ter consciência desses dados faz com que a gente queira ler mais mulheres e queira publicar mais histórias. A luta é grande, mas a nossa força também é!

      Beijos

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  3. Fernanda, adorei a existência de um clube da escrita para Mulheres. Eu não me considero escritora, mas sinto que há, ainda, certa resistência às escritoras. Tenho tentado ler mais livros escritos por mulheres e assim acabei percebendo que poucas mulheres estão na lista dos mais vendidos e não é por falta de qualidade dos livros e sim por não terem a visibilidade que merecem!

    :)
    Beijo
    Li

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    1. Essa lista dos mais vendos é algo beeeeem questionado. Fico feliz que você esteja lendo mais mulheres. Acredito na importância disso para que mais de nós sejamos publicadas.
      E, por fim mas não menos importante, você escreve. Você é escritora. :)
      Não pense menos que isso!

      Beijos

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  4. Ahhhh, que coisa mais linda essa sala cheia de mulheres com um sonho em comum! Eu fiquei chocada com essa porcentagem, mas se parar pra pensar na sociedade em que a gente vive, nem é tão surpresa assim, né? Uma pena. Mas fico feliz de ver tantas mulheres talentosas dispostas a mudar esse número, tô aqui torcendo por vocês!
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

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    1. Oi, Gabs!
      Eu tbm fiquei chocada, mas depois me dei conta que a nossa sociedade quer bem isso mesmo: que a gente não pense sobre esses números. No fundo, a gente ficou chocada porque nunca tinha parado para pensar neles.
      Obrigada pela torcida. :)

      Beijos

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  5. Também venho acalentando o sonho de escrever um livro e embora ainda não esteja totalmente por dentro de todos os meandros do mundo editorial, sei que não é um caminho dos mais fáceis. Talvez por isso a ideia de começar por um blog tenha me parecido tão interessante. Vim conhecer o teu por indicação da Regina (do Doses de Palpite) e ja digo que adorei tua escrita. Parabens!

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    1. Oi, Malu!
      Super incentivo você escrever esse livro e muitos outros! Espero que você decole na sua carreira literária. Se quiser conversar sobre ela, estou à disposição!
      Sempre fico feliz quando alguém indica o meu blog, então aproveito para registrar um beijo pra Rê! :D

      Obrigada pelos elogios à minha escrita.

      Beijos

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  6. Great post <3

    http://makeyourperfectstyle.blogspot.com/

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  7. Oi Fê!

    Muito interessante o assunto que abordou no post. Não tinha ideia do quanto as mulheres são menosprezadas neste mercado. Já é um mercado tão difícil para qualquer um entrar, para mulheres então, se mostra ainda mais fechado, é uma pena.
    Quem sabe a internet e os ebooks não ajudem a mudar um pouco isso com publicações independentes, não é?
    O importante é as pessoas lutarem para fazer a diferença e procurarem alternativas.

    Bjo

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    1. Acho que a internet ajuda a abrir espaço, mas o mercado tradicional ainda é bem fechado para os novos autores (ainda mais se forem mulheres). É uma luta contínua — assim como em todas as áreas.

      Beijos!

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.