domingo, 3 de setembro de 2017

{Vamos falar sobre escrita?} Encontro com Pedro Bandeira e 5 ensinamentos sobre a escrita literária

Pedro Bandeira ♥

No dia 23 de agosto, eu tive a oportunidade de ir até a Universidade do Livro para o evento Encontro com Escritores, cuja edição teve a participação do Pedro Bandeira. Foi muito legal poder estar tão próximo de um autor tão consagrado como ele, ainda mais de um nicho que eu considero tão especial que é o da literatura infantil e juvenil.

O bate-papo foi longo e prazeroso. A noite teve a mediação feita pela editora do escritor, Maristela Petreli de Almeida Leite, que destacou a construção dos diálogos e o foco narrativo como pontos fortes de Bandeira. Como escritora, foi legal poder aprender tanto, com alguém que tem mais experiência. Como leitora, foi bacana demais ver a lenda ao vivo. Pedro Bandeira é um contador de histórias nato, que nos emociona e sobretudo nos faz rir a cada episódio que nos narra.

Abaixo deixo alguns dos ensinamentos desta noite tão especial:

1. Sobre a inspiração para escrever

Acho que este é um dos principais conselhos que eu poderia ouvir: não espere a inspiração para começar a escrever. Jornalista de formação, Pedro Bandeira começou sua vida profissional tendo tamanho, tema e prazos definidos. Ele diz que essa experiência o fez ter disciplina na carreira de escritor profissional e completou dizendo que trabalha com texto todos os dias. Quando está sem inspiração, traduz letra de música (para pensar no processo de escolha e uso da palavra), sendo que dias antes do encontro, estava trabalhando com a letra de My way, do Frank Sinatra.

2. Sobre prestar a atenção nas suas influências

No começo de carreira, Pedro Bandeira se inspirou em grandes autores para aprender como escrever. Um dos escolhidos foi o Monteiro Lobato. Ele diz que até escreveu um livro inspirado nas Reinações de Narizinho. Em outros momentos da conversa, ele também citou o Conan Doyle, com o Sherlock Holmes, o Cervantes, com Dom Quixote e Machado de Assis, com Dom Casmurro.

Como lidar quando Pedro Bandeira te chama de "Fernandinha"? É muito amor, viu? ♥

3. Sobre conhecer o seu público-alvo e respeitá-lo

Pedro Bandeira é um escritor de crianças que conhece bem o seu público e o universo em que elas estão inseridas. Quando ele definiu que escreveria literatura infanto-juvenil, foi estudar psicologia da educação e as fases do desenvolvimento da criança, além disso,  buscou compreender as necessidades das escolas e dos pais no processo educacional dos pequenos, bem como os dramas vividos por quem está descobrindo o mundo e se tornando adulto. Todo o embasamento teórico o ajuda não no didatismo — do qual é contra —, mas a manter um diálogo sincero e aberto com o leitor, por meio de seus livros.

Ele ainda ressalta a importância do respeito com o público, para ele não existe isso de escritor profissional escrevendo apenas para si próprio. Escritor que é escritor escreve para o outro. "Você está falando com alguém, respeite o seu leitor". Isso inclui tratar a literatura infantil como arte. No caso dos livros para crianças, já que muitas vezes essa arte vem como a resolução do medo e o escritor tem que ter domínio das sensações para lidar com a emoção, com as tentativas de fuga e de paranoia de seus leitores.

4. Sobre ter clareza do seu objetivo ao narrar

"Tudo o que é acontece é presenciado por todas as pessoas, por uma criança de dois anos e por um velhinho", logo ter clareza do seu objetivo ao narrar vai te ajudar a escolher o foco narrativo que você dará à história. O enredo em si, não importa. O que é primordial é tem um personagem e um ponto de vista que mova o leitor, que ajude no amadurecimento dos leitores ao fim da leitura. O como contar é o que importa, porque isso faz com que o leitor leia o livro que está escrito e o que nasce nas entrelinhas. "Histórias não são boas ideias, são cutucões nas emoções das pessoas".

Foto oficial da sessão de autógrafos. ♥


5. Sobre o gênero oposto como fuga da autobiografia e a construção da personagem

Perguntado sobre a razão de a maioria dos seus livros ter uma protagonista feminina, Bandeira foi enfático em dizer que ele busca o ponto de vista oposto para que as pessoas não pensem que seus livros são autobiografado. Esta foi a maneira que ele encontrou para que seus leitores distanciassem os personagens do autor. Segundo ele, "o artista tem que ver o outro" e escrever em outro gênero o ajuda nessa busca e completa dizendo que o problema de continuidade aparece quando a personagem não está bem desenvolvida.  Se a personagem está mal construída, a história não anda. Personagem que está bem estruturada ajuda o escritor a escrever quase que sem pensar.

Quer ter um gostinho de como foi esse encontro? Aperte o play! 



6 comentários:

  1. Eu adoro o Pedro Bandeira! Fez parte da minha infância!!

    As lições dele são para a vida inteira!!

    Beijinhos

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    Respostas
    1. Eu li pouco dele na infância, acredita? Fui começar a gostar mesmo depois de adulta. O encontro com ele foi mto divertido! ♥

      Beijos

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  2. Adorei o post e saber mais sobre o processo de escrita do Pedro Bandeira!!

    Beijoss,
    Próxima Primavera

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  3. Do Pedro, eu li A Droga da Obediência e lembro da minha felicidade nos olhos quando fechei o livro. Tudo lindo, bem construído e bem amarrado. Nunca mais consegui ler outro exemplar d'Os Karas. Ainda pretendo ler, mesmo com 20 anos nas costas.

    Dos conselhos, o primeiro sobre inspiração foi um que aprendi na raça e sozinha. Cursando o quinto semestre de jornalismo, me obrigo a escrever nem que seja só alguns versos por dia. Diferente do que pensam, escrever não é dom, é prática. Não adianta ter talento sem usá-lo, né?

    Ótimo post! Gostaria de ver mais com dicas de escrita, será que rola mais? ♥

    Com carinho,
    Conto Paulistano.

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    Respostas
    1. Oi, Selma!
      Ler literatura infanto-juvenil depois de adulta é um deleite. Acho que esse tipo de livro vem como um suspiro para tudo o que vivemos de ruim no mundo adulto. Ele é acalento que nos dá esperança.

      Não esperar a inspiração também é algo que tenho praticado mais na raça do que qualquer outra coisa. É difícil, mas a gente segue tentando, não é mesmo?

      Quanto às dicas de escrita, elas aparecem por aqui nessa coluna, "Vamos falar sobre escrita?". Às vezes elas não vêm com a frequência que eu gostaria, mas aos poucos tudo dá certo. Prometo trazer mais desse conteúdo porque também é algo que eu gosto de compartilhar aqui no blog.

      Beijos e obrigada pelo carinho!

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