segunda-feira, 7 de novembro de 2016

{Resenha} Vozes anoitecidas, de Mia Couto

Capa antiga.
Vozes Anoitecidas é o livro de estreia de Mia Couto na prosa. Até então – a obra data de 1987 – Couto era conhecido pelo seu trabalho como jornalista e intelectual que lutou na busca pela independência de seu país. E, embora este livro seja repleto de ficção, ele também é um reflexo desta realidade de seu autor.

As vozes que, aos poucos, vão anoitecendo nos apresentam um povo sofrido pelo pós-guerra, que sofre por medo da fome, dos campos minados e, em alguns casos, por medo da própria tradição. Estes relatos são feitos de maneira tão primorosa que muitas vezes não sabemos se estamos no campo do jornalismo, da prosa, da poesia, do sonho, da realidade... E, de certa forma, isso não faz muita diferença, uma vez que entender a alma de Moçambique acaba se tornando mais importante do que traçar os padrões estilísticos.

Um pedaço da África em que o menino sonha em ir à escola, em que o corvo ganha a voz humana – e seu dono tenta, de todas as formas, ter um pedaço de roupas novas para vestir –, em que o africano se apaixona por uma estrangeira sem história prévia. O boi explode? Ou seria a gente? No fim, cada ínfimo de fantástico tem sua face oposta da moeda na realidade dura de um país que estava tentando se formar como nação.

Este é um livro interessante não apenas pelo aspecto cultural apresentado, mas também porque ele nos leva a refletir sobre a condição humana. A princípio, da das personagens; depois, sobre a nossa própria condição e sobre os seres humanos que nos tornamos. Ao questionar uma cultura tão diferente da nossa, passamos a nos indagar sobre o que acreditamos, sobre o que vivemos e sobre as atitudes que tomamos.

É por todos estes motivos que Vozes Anoitecidas rendeu ao seu autor um Prêmio Camões neste ano. Sem dúvida, é uma obra que merece ser lida.

Capa nova.
Livro: Vozes Anoitecidas
Autor: Mia Couto
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 152
Sinopse: Publicado pela primeira vez em 1986, Vozes anoitecidas projetou o escritor moçambicano Mia Couto para o mundo. Conhecido até então por seu trabalho como jornalista e poeta, o autor - hoje tido como um dos mais influentes escritores da língua portuguesa - lançou aqui as bases daquela que viria a ser uma das principais características de sua obra ficcional: a reconstrução de laços entre registro oral e escrito. Em doze pequenos contos, um rol de personagens esfarrapados e alheios ao palco principal dos acontecimentos narra, de seu ponto de vista marginal, histórias que flertam com o mágico e com o absurdo sem, no entanto, desviarem-se completamente do plano factual. Em “As baleias de Quissico”, Jossias aguarda a chegada de um animal marinho de cuja boca, acredita, brotará “amendoim, carne, azeite de oliva e bacalhau”. Mas como saber se o animal existe, se ele jamais viu uma baleia? O enorme monstro que aporta sem ser visto pode ser tanto o misterioso “peixe grande” como um submarino carregado de armamentos ilegais. Jossias prefere acreditar no sonho e, como ele, outros personagens de Vozes anoitecidas encontram mais razão na fantasia que na lógica da guerra e da privação. Ao promover uma espécie de vertigem, sob efeito da qual não se pode afirmar se uma narrativa é absurda ou se absurda é a realidade de que ela trata, o autor apresenta a perplexidade como ponto de partida para o fazer literário. “Sem dúvida um dos escritores mais importantes da língua portuguesa.” - João Ubaldo Ribeiro


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2 comentários:

  1. Oi Fê,
    Quero muito ler Couto algum dia. Eu até tenho um ou dois livros no celular, mas vivo adiando a leitura. Espero que depois de ler sua resenha eu enfim crie coragem pra começar.

    Um abraço,
    http://julietincrisis.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Aaaaaaaaah, leia! Leia mesmo, leia muito! Ele é um querido! :D
      :*

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