domingo, 29 de dezembro de 2024

O limbo e uma dose de esperança

Foto de Ch Photography na Unsplash.


Escrevo este texto em 25 de dezembro, também conhecido como Natal. Desde pequena, me pergunto se a gente comemora o aniversário de Jesus — e, por consequência, todos os outros — do modo correto. Minha cabeça de virginiana que é analítica, mas que não sabe lidar com a exatidão matemática, se questiona se o certo não seria usar o fuso horário de Belém e fazer as contas. Afinal, 25 de dezembro em Belém pode ser 26 na Austrália e 24 no Chile, não pode? (Não sei, nunca fiz as contas.)

Estava vendo um reel que mostrava uma moça islandesa. Na Islândia, a comemoração começa às 6 da tarde do dia 24 de dezembro, mas os presentes começam a chegar 13 dias antes, trazidos por 13 papais Noel (ou Noéis?) diferentes. Segundo ela, alguns deles são assustadores. Todos são irmãos e filhos de uma bruxa. Assim como acontece com o Papai Noel universal, eles só presenteiam as crianças comportadas (as que não se comportam são devoradas pela bruxa).

Minha mãe conta que ela deixava o sapatinho na janela durante a época de Natal e que uma tia — irmã do meu avô — costumava deixar presentes para ela e para os meus tios em nome do bom velhinho. O medo da minha mãe era receber um pedaço de carvão, como “punição” por não ter sido uma boa menina. Li na Deutsche Welle que essa é uma das tradições italianas, que lá, “a bruxa Befana leva doces para as crianças boas. As que foram ‘malvadas’ recebem um pedaço de ‘carvão’ feito de açúcar.” — não sei como a história do carvão foi chegar na Zona da Mata pernambucana, mas aí está uma tradição que se repete.

Este ano ganhei um único presente de Natal. Biscoitos de gengibre numa caixa bonitona que veio da minha irmã do coração. Ela sabe o quanto amo o Natal, embora as pessoas ao meu redor não gostem muito da data. O presente, me emocionou. Já eu, comprei alguns que quero entregar pessoalmente, conforme for encontrando os queridos por aí.

for encontrando”. Acho que o gerúndio é o motivo de eu ter começado a escrever este texto. Gosto de desacelerar em dezembro e dessa espécie de limbo nostálgico para onde ele me transporta. É uma coisa entre dois mundos. Apesar de estar aqui, olho para trás, numa tentativa de saber se saí ou não do lugar; olho para frente, numa tentativa de viver uma vida ainda mais harmoniosa comigo mesma. É um limbo e uma dose de esperança, ainda que a palavra “limbo” me remeta a um espaço meio de areia movediça.

2024 foi um ano atípico. De um lado, vi muita gente que eu amo perdendo pessoas queridas ou vivendo um luto de anos anteriores, vi muita gente ficando doente — eu mesma, inclusive, passei meu aniversário bem ruim. Além de toda pobreza e fome e guerras no mundo, das tragédias climáticas, como a que assolou o Rio Grande do Sul no início do ano e do racismo, houve todos os problemas da vida pessoal e familiar pelos quais muita gente também passa. A sensação que me dá é que se a gente ficar olhando muito pra tudo o que vê nas notícias e ao redor, que a gente será engolido pelo limbo movediço.

Mas há esperança. Sempre há. Se de um lado houve tantas dores, do outro, ganhei novas alunas, trabalhei no meu terceiro livro, reativei meu canal no YouTube, voltei à newsletter, publiquei meu primeiro livro traduzido para o espanhol, consegui me colocar alguns pontos finais em relacionamentos que eram tóxicos, me curei de muita coisa, me diverti nos inúmeros shows que fui. Ter contato com a arte me alimenta: sempre há o lado meio cheio do copo.

2025 vem aí, “um ano novo que traz consigo 365 páginas de possibilidades”. Alguns clichês não são clichês à toa. Há algo na sabedoria popular que nos dá um alento, um fôlego. Que 2025 seja isso: um sopro de vida para o nosso espírito realizar os nossos desejos mais profundos sem medo, vergonha ou culpa. Que, planejando ou não, nós cheguemos naquele espaço em que nos sentimos verdadeiramente acolhidos. Que tenhamos a coragem de atravessar o que tivermos que atravessar e que todos os caminhos nos levem na direção de casa. 😊


Este texto foi enviado em primeira mão na minha newsletter de presente de Natal. Para receber este e outros textos, inscreva-se aqui.

Boas festas! 
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2 comentários:

  1. Gostei muito da forma que você escreve e me identifiquei na parte do limbo movediço. A verdade é que se olharmos apenas para as coisas ruins que tem acontecido ao nosso redor e do mundo, perderemos a esperança de que há coisas boas para se ver e viver!
    Beijo enorme pra ti! ❤ | https://quaseaurora.blogspot.com/

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  2. Que texto lindo, repleto de reflexões profundas e aquele toque de nostalgia que só o final do ano pode trazer. A forma como você mescla tradições natalinas, memórias pessoais e uma análise tão sensível do ano que passou cria uma narrativa acolhedora e inspiradora.
    A mensagem final é como um abraço. Que 2025, de fato, nos traga coragem, acolhimento e a possibilidade de realizar nossos desejos mais sinceros. Que seja um ano para preencher nossas páginas com histórias que nos conectem ao que há de mais humano em nós. Obrigada por compartilhar essas palavras tão cheias de vida e esperança.

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