O último metrô

Foto: Ricardo Takahashi

Dias atrás eu peguei o último metrô. Quantos personagens! Perto de mim, um grupo de sambistas conversava animado. Um amigo incentivava o outro a fazer aulas de samba rock "para fazer graça na balada". Para onde eles iam, ao certo, não consegui descobrir, mas a animação contagiava os demais amigos que teimavam em tentar descobrir como tocar o pandeiro de forma ritmada.

Já estava próximo a minha estação de destino (em que faria conexão com outro trem), quando três homens e uma mulher entraram no vagão. Um sujeito bonitão, que estava sentado, mediu a mulher de cima abaixo, desejando-a nitidamente. Foi quando um dos caras do trio disse a ela:

- Não costumo fazer isso, mas o bonitão ali está a fim de você!

Não consegui conter o riso ao ver a expressão no rosto da moça. Os três homens eram gays, e o que tinha puxado assunto completou:

- Gata, ele é bonito! Por que você não vai lá e não fica com ele?

O bonitão só ria e, claro, lançava o seu charme. A moça, educadamente, disse não. Então, o cara que com ela falava exclamou:

- Já que ela não quer, estou aqui! Topa?!

O bonitão negou rindo simpaticamente. A moça e eu descemos na estação seguinte. Eu gargalhando, decerto. 

Foi triste deixar aquela "bagunça" da qual eu era uma mera observadora. Em um mundo tão caótico e cruel, nada melhor do que viajar pela cidade em um vagão em festa!