quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Flashback

Foto de sarandy westfall, via Unsplash.


Passei o dia escrevendo. Primeiro no blog, depois, uns rascunhos, nada que fosse sério ou bom de se ler. Estava longe da dita qualidade literária, mas senti que precisava jorrar palavras no papel. 

Acho curiosa essa capacidade humana de organizar o que sente em pensamentos que podem ser verbalizados por meio das palavras. Acho incrível, ainda que nem sempre elas deem conta de traduzir exatamente o que faz o coração pulsar ou parar de vez. 

É curioso pensar nisso agora, enquanto preencho essas linhas. As últimas semanas foram pesadas e, além de ter que lutar contra a existência de uma pandemia e dos problemas mais triviais, ainda me vejo aqui, me debatendo com letra após letra para encontrar o vocabulário exato que possa descrever essa angústia que me oprime. 

Na última quarta-feira — foi na quarta? — recebi de K. uma foto nossa. Do nada, deparei-me com a nossa versão de 18 anos atrás. Um eu magro e desengonçado, que tentava parecer feliz para a câmera. O sorriso era largo, mas morto por dentro. Não me reconheci ali. O que restou daquela menina em mim? Ainda há algo?

Eu, no Ensino Médio. Foto enviada por K.
Eu, na foto enviada por K.


O Ensino Médio foi duro. Implacável. Foi nessa época em que tive minha primeira grande crise depressiva, a primeira grande decepção amorosa, a primeira grande ruptura de uma amizade significativa. Olhar para aquela foto me trouxe mais sofrimento do que saudade.

Fiquei com aquele gosto amargo pelo resto da semana. Foi difícil me concentrar. A pedra no meu do caminho não me permitia abrir passagem para outras narrativas. Sei que K. queria despertar risos e lembranças de um tempo que não volta mais. Para ela tudo foi lindo. Para mim, o que foi então?

Hoje, entre um texto e outro, voltei a observar aquela foto. Se eu vivo dizendo que sempre há algo de bom até nas coisas ruins, resolvi que era preciso ter coragem. Encarei de frente o meu eu-adolescente, acolhi as suas dores e coloquei mais um pouco de remédio nessa ferida.

A verdade é que aquela Fernanda me ensinou a não abrir mão daquilo que ela acredita; que sempre há um refúgio em uma biblioteca; que pessoas vêm e vão das nossas vidas (e tudo bem); que às vezes aquele amor que parece ser tudo não é "o amor da nossa vida"; que quem quer ficar do nosso lado, fica sem esforço; que vale a pena não jogar tudo pro alto, por mais que a vontade seja essa. 

Redescobrir aquela Fernanda que habita em mim me fez querer sonhar de novo, voar de novo, ser mais feliz ainda! Aquela Fernanda me lembrou que sempre é possível recomeçar.

Este post foi escrito com base no tema "Uma foto, várias lembranças", do Desafio Criativo proposto pelo Projeto Escrita Criativa.

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8 comentários:

  1. Oi, Fernanda tudo bem? A vida é um eterno aprendizado não é mesmo! Que bom que você não é a mesma da foto, que bom que você conseguiu superar suas barreiras e se tornar uma pessoa melhor. Às vezes pode parecer pouco, mas se olhares para o lado sempre haverá pessoas que não conseguiram superar suas barreiras, e até hoje lutam querendo se encontrar sem conseguir. Vivendo e aprendendo, assim vamos a cada dia nos tornando pessoas melhores com o passar dos anos. Amei o seu escrito. Abraço!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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    1. Pois é, Luciano!
      A vida é ótima em nos dar situações para que possamos aprender. Acho isso fantástico!
      Fico feliz que você tenha gostado!
      Um beijo :*

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  2. wow!!!

    que texto mais incrível, forte, verdadeiro e profundo, Fê! <3


    coincidentemente ou não, a minha amiga que colabora lá no blog escreveu sobre a chegada dos 30 em meio a uma pandemia. assim como vc, ela voltou no passado pra acolher o eu-adolescente e levar um papo sério. eu acho que tá todo mundo desse jeito, sabe?! voltando atrás pra resolver alguns assuntos inacabados. e que bom, né? q bom poder seguir em frente, de cabeça pra cima e perto aberto pra resolver mais coisas.

    amei demais suas reflexões e como vc "brinca" com as palavras.

    bjs!
    Não me venha com desculpas - Adriel Christian

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    1. O lance é resolver essas pendências, não é mesmo!?
      Gosto muito de ver esses avanços. :)

      Fico feliz que você goste do meu modo de trabalhar com a linguagem.

      Um beijo!

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  3. Adorei o post, é tão bom voltar no tempo e relembrar bons momentos
    Blog Entrelinhas

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    1. No meu caso, como disse no post, as lembranças não são boas. Mas a gente supera, não é mesmo?

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  4. Sim! E isso que torna a vida bela. Um dia não é igual ao outro e o que temos certo é só o passado. Então, podemos modificar nossas vidas no presente e tornarmos pessoas melhores.

    Bom fim de semana!

    OBS.: O JOVEM JORNALISTA está em quarentena de 22 de julho à 31 de agosto, mas comentarei nos blogs amigos nesse período.

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

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    1. Oi, Emerson!
      É legal saber que o passado ajuda a gente a planejar o que queremos ou não para o futuro!

      Um beijo

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Olá!

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.