sexta-feira, 9 de agosto de 2019

{Vou por aí} Como foi a Flipop 2019 — Parte 1 | BEDA Agosto/2019 #09

Foto: Editora Seguinte/Anne Karr.
Yay! Semana passada aconteceu a terceira edição da Flipop, o Festival de Literatura Pop, promovido pela Editora Seguinte, em parceria com outros grupos editoriais. Eu estive lá nos três dias e agora quero compartilhar um pouco do que vi e vivi.

Sexta-feira

O que a História não contou

Pétala Souza, Duda Porto, Lavínia Rocha e Jarid Arraes, na mesa O que a História não contou.

"Os escritores são responsáveis pelo o que eles escrevem, quer estejam conscientes, quer não". (Jarid Arraes)

Fui para a Flipop deste ano focada em ver as mesas. A primeira que fui conferir foi a O que a História não contou, com as escritoras Duda Porto de Souza, Jarid Arraes e Lavínia Rocha (sob mediação da Pétala Souza). Nela, as convidadas trouxeram dados históricos importantes, como o fato de o Brasil ter sido formado como um país negro, que tem menos de 2% de escritoras e escritores negros publicados; e o fato de a literatura para jovens-adultos (young adult ou ya) ser a que, atualmente, é mais preocupada e engajada em trazer a diversidade para os livros — seja nos personagens, seja no formato.

"É preciso estar aberto a novas formas de contar histórias". (Lavínia Rocha)
Lavínia Rocha compartilhou a saga que foi publicar um de seus livros em braile — há apenas um exemplar em Belo Horizonte — e a necessidade de fazer com que diferentes públicos tenham cada vez mais acesso à obras literárias. Ela, que escreve personagens negros e que tem uma personagem deficiente visual, vê como essa representatividade é importante e como a identificação dos leitores é significativa.

Jarid vê a literatura como um campo vasto a ser explorado. Sobre isso, ela disse que o Redemoinho em Dia Quente lhe provou que escrever sobre mulheres é uma possibilidade infinita.

"O leitor deve se perguntar quais livros chegam a ele". (Lavínia Rocha)

Como contar nossas histórias?

Lavínia Rocha, Vitor Martins, Thaís Rodriguez e Thati Machado (mediação), na mesa Como contar nossas histórias?

A segunda mesa que vi foi a Como contar nossas histórias?. A princípio ela estava planejada para ser com os escritores Lavínia Rocha, Thaís Rodriguez e Jonas Maria, mas o Jonas ficou doente e, por não ter podido ir, foi substituído pelo (brilhante!) Vitor Martins.

Os autores falaram muito do movimento own voice (em que os escritores colocam muito da própria vivência na narrativa de seus personagens) e de como eles escrevem sobre a representatividade que eles gostariam de ler. O fato de cada um (como negra, gay e autista, por exemplo) não terem se visto nas leituras que fizeram ao longo da vida os impulsionaram a criar protagonistas que se relacionavam com suas vivências.

"Eu sou especial, sou único. Mas eu não sou único. Sou especial, mas nem tanto. Tem muita gente que pensa igual a mim". (Vitor Martins)

A Thaís Rodriguez contou que o processo de escrita do livro também foi importante não apenas pelo resultado final  — de dar voz a uma personagem autista como ela  — mas também pelo processo: escreve a ajudou a se descobrir. No fundo, ela vê a representatividade como a descoberta de novas perspectivas, principalmente porque esses novos olhares ajudam a romper os esteriótipos. 

Nesse sentido, o Vitor Martins ressaltou que ter livros com personagens que incluem pessoas que não fazem parte da dita normatividade tira as pessoas da solidão. Apesar de cada um ser único, a literatura mostra que há muitos sentimentos que são comuns e que devem ser compartilhados.

"Ser mais clara é viver o racismo mais velado". (Lavínia Rocha)
A mesa terminou relembrando a importância de se ter em mente que um personagem, por mais que represente um grupo, ele não representa o grupo em TOTALIDADE. Ele nunca vai ser 100% de todos os negros, de todos os indígenas, de todos gays, de todos os gordos, de todos os autistas ou de qualquer grupo que ele represente. 

O que torna um livro juvenil em um clássico?

Tatiany Leite (mediação), Pedro Bandeira, Luana Chnaiderman e Carla Bitelli
na mesa O que torna um livro juvenil em um clássico?

"O que torna um livro clássico são os personagens humanos". (Pedro Bandeira)

A mesa O que torna um livro juvenil em um clássico? foi divertidíssima. Com a participação de Carla Bitelli, Luana Chnaiderman e Pedro Bandeira (e com a mediação Tatiany Leite), tivemos um momento agradabilíssimo falando sobre os livros que se eternizaram ao longo da História. Pedro Bandeira é defensor das histórias clássicas e diz que é importante que as conheçamos. Para ele, essa visão de que o livro é chato, não é verdadeira.

"O clássico é aquele que fala da gente". (Pedro Bandeira)

Para escrever um livro clássico, é importante escrever sobre as emoções humanas. Nesse sentido, é necessário conhecer o que veio antes, o que faz parte da história literária, para poder escrever com qualidade. 

Questionados sobre essa sociedade que coloca crianças e jovens numa redoma de vidro, Carla Bitelli ressaltou que o papel do editor é pensar no que vai publicar, questionar e entender o que quer fazer. A educadora Luana Chnaiderman reforçou que colocar as crianças e os jovens numa torre deixa as pessoas sem instrumentos para lidar e elaborar os próprios sentimentos. Pedro Bandeira relembrou que, no processo da leitura, entre o escritor e a criança há um intermediário forte: a família. 

"Ou a literatura é portadora da verdade humana ou não é literatura". (Pedro Bandeira)

De qualquer forma, Luana Chnaiderman afirmou que "a literatura só serve se for ser resistência". Quanto mais adentramos a um período de crises, mais os livros ajudam na compreensão do mundo.

Crowdfunding

Felipe Castilho, Larissa Siriani, Luciana Fracchtta e Ian Fraser, na mesa sobre Crowdfunding.
A mesa que teve as participações dos escritores Ian Fraser, Larissa Siriani e da editora da Aleph, Luciana Fracchetta, trouxe vários insights sobre o processo de se publicar um livro por meio do financiamento coletivo. A mediação descontraída do também escritor Felipe Castilho, trouxe um tom leve para todos os perrengues passados por esses profissionais durante os seus financiamentos coletivos.

"Apoiem a arte nacional. A gente só sobrevive com arte e a arte só sobrevive com vocês." (Larissa Siriani)
De um modo geral, as três lições que ficaram para mim foram: 1. estude muito sobre o processo do financiamento coletivo; 2. planeje muito bem todas as ações (e seus respectivos prazos) e; 3. tome muito cuidado com os preços dos Correios (principalmente se você for trabalhar com box e kits). Uma dica extra dada pela Luciana: se você for trabalhar com caixas, escolha cor clara! A Aleph fez caixa escura e teve muitos problemas com a fabricação, justamente por causa da cor.


Por falar em caixa, a Aleph fez um sorteio de uma caixa com o kit do livro 2001: Uma Odisseia no Espaço e eu, que nunca ganho nada, surpreendentemente ganhei! :) Obrigada de novo, Editora Aleph!

Os jovens salvam o dia

Bruna Miranda, Luly Trigo, Eric Novello e Samir Machado, na mesa Os jovens salvam o dia.

A última mesa que vi no dia foi com os escritores Eric Novello, Luly Trigo e Samir Machado de Machado, com mediação da Bruna Miranda, que buscou falar como na ficção e na vida real a juventude se coloca à frente dos movimentos de mudança.

Na conversa, os escritores falaram como ainda há na literatura o apagamento histórico de pessoas/personagens e como é importante dar voz a essas minorias. Eles também enfatizaram como esses personagens têm direito de serem heróis e protagonistas da trama e devem fazer isso sem ter que carregar a sua opressão o tempo todo. Não faz sentido escrever uma história dentro da normatividade. 

No próximo post detalho como foram os outros dias. ;)
Até lá!
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2 comentários:

  1. Oi, Fernanda! Que evento bacana hein? As fotos ficaram maravilhosas, o seu post ficou muito bem explicafivo, contando os detalhes do que rolou na FLIPOP 2019, adorei. Abraços!

    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com

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