quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Do que se alimenta o seu medo?

Imagem por Anemone123.
Hoje me deu vontade de conversar, de olhar o mundo com aquele olhar de primeira vez, sabe? Talvez tenha sido porque tomei café com a Tauana e esse tenha sido um dos temas da nossa conversa, talvez porque esteja contaminada pelos últimos encontros que tive com a minha terapeuta. Talvez pelos últimos acontecimentos. Mais provável que seja uma mistura de tudo isso.

Os últimos 15 dias foram bem doidos. Aquela montanha-russa de otimismo e pessimismo que caminha comigo desde a campanha eleitoral, parece que resolveu ficar e me fazer companhia... 

Euforia 
1. Quem se inscreveu na newsletter sabe que mandei fazer o meu cartão de visitas. No lançamento do romance da Bia, Apneia, encontrei uma editora e entreguei um deles. Há tempos não me sentia tão segura do que estou fazendo da minha carreira. Ser profissional das Letras tem me deixado a cada dia mais satisfeita e certa das escolhas que eu venho fazendo. 

2. Quem me segue no Instagram viu que lá no feriado do dia 20 (aqui em São Paulo é dia da consciência negra), fui a um evento promovido pela Editor Seguinte na Livraria Martins Fontes e, de improviso, acabei tendo a chance de falar* sobre o Algumas Observações, o Projeto Escrita Criativa e o Clube da Escrita para Mulheres. Muita gente me ouviu, mas o que nem todo mundo soube é que estava dividida entre a felicidade da oportunidade e o medo de fazer besteira. Insegurança é uma merda mesmo, não?

Por fim, tive a chance de fazer uma oficina de escrita de poemas a partir do cotidiano na cidade de Santos. A troca foi tão maravilhosa que não me encontro palavras para tanto amor.

Frustração 
1. Antes de entrar no medo propriamente dito, vamos ao outro lado da moeda, a frustração. Peguei um trabalho grande que entreguei apenas um trecho, porque meu computador quebrou (aliás, estou fazendo este post do celular. Se ele tiver algo estranho, não se assuste). 

2. Briguei no trabalho, porque as pessoas não se organizam e, claro, na hora que tudo tem que acontecer, eu que enlouqueço.

3. Descobrimos que a Poesia tem um problema ortopédico bem chatinho (que detalhados melhor em outro post qualquer hora dessas).

Tudo isso também me levou a suar frio.

Medo
Comecei esse post falando da conversa com a Tuana, porque a gente refletia justamente o estágio de quando o medo e a vontade estão cara a cara, desafiando os nossos limites. O que fazer com eles?

Quando a Iris Figueiredo** perguntou se havia autores negros naquela sala abarrotada de gente em que acontecia o evento, levantei a mão. Dizer que sou escritora é algo natural. O que não esperava é que ela me chamasse lá na frente, que tanto ela quanto os outros autores da mesa dessem os seu lugares à mim, à Lorrane e ao Sérgio***, que pudéssemos falar sobre as nossas criações. Meu medo se transformou em esperança a partir do momento em que peguei aquele microfone e vi no mesmo evento homens e mulheres de várias raças e orientações sexuais representados e, sobretudo, acolhidos. 

Dias depois, contando o ocorrido à uma amiga, vi meu sorriso se transformar naquele medo frustrado de quem sente, mais uma vez, que a caminhada é longa. "Mas você não é negra, é?", minha amiga me perguntou entre o misto do curiosa e do sem jeito. Acabamos tendo uma conversa franca do quanto é complicado ser negro no Brasil, sobre as tentativas de branqueamento, sobre o preconceito tão arraigado nas nossas falas e atitudes. A caminhada é longa, mas ao encontrar alguém disposto a ouvir, o medo de não avançar se converte de novo em algo bom.

De tudo o que me amedrontou, no entanto, o que me deixou mais aterrorizada foi o problema de saúde da Poesia. A crise dos pensamentos acelerados veio forte, eu não consegui convertê-la em algo minimamente racional sem ajuda da minha psicóloga. Quando surge o risco de perder alguém que a gente ama, tudo entra numa seara mais complexa (é bem por isso que a objetividade é importante).

Às vezes o medo faz com que a gente veja o mundo com o olhar curioso da primeira vez (como foi a minha experiência no evento); outras vezes, nos faz alimentá-los com o pavor, com a insegurança, com aquela voz interna que diz que absolutamente tudo dará errado. O medo pode ser uma armadilha justamente porque gera um trilhão de sentimentos contraditórios (não preciso ir longe, basta analisar os parágrafos anteriores para perceber o quando o medo é, no mínimo, esquisito). É aí que ter uma rede de apoio é importante, que se conhecer bem ajuda a guiar o medo, a colocá-lo na trilha certa. 

Resolvi alimentar o meu medo com o trevo de quatro folhas que traz sorte. E você?
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Ah! Só mais uma coisa sobre o evento que fui: o Eric Novello leu um texto SENSACIONAL no dia, chamado "São 10 horas, obedeçam à lei". Depois, ele enviou por escrito na newsletter e você pode lê-lo clicando aqui. Por favor, façam este favor a vocês mesmos (aproveitem e se inscrevam nesta newsletter maravilhosa, clicando em subscribe).
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*Há um vídeo da minha fala lá no IGTV, do Instagram. Deixo o meu agradecimento à Tauana por ter gravado.
**Um beijo para os seis autores que estavam no evento e que abriram o espaço para a nossa fala: Larissa Siriani, Felipe Castilho, Eric Novello, Iris Figueiredo, Vitor Martins e Lucas Rocha.
*** Outro beijo para a Lorrane Fortunato e para o Sérgio Motta, que dividiram comigo esse momento tão especial da minha vida.

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16 comentários:

  1. Não podemos dar enfase ao medo pra ele não se tornar perigoso na nossa vida

    Beijos,
    www.thalitamaia.com

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  2. nossa, nunca havia pensado nisso.. parei pra refletir!

    abraços
    www.blogmodelando.com

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  3. Oi, td bem?
    Que texto incrível, me fez pensar sobre muitas coisas, motivos, etc...
    Se não pararmos pra pensar de onde vem tudo isso, como vamos tentar enfrentá-los né?
    Beijos
    www.somosvisiveiseinfinitos.com.br
    Vídeo novo: https://www.youtube.com/watch?v=ZLAgUvAXUrI

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    1. Sim, compreender o motivo é a chave para saber como lidar com tudo o que sentimos! :)

      Beijos

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  4. bah, sei bem como é isso do medo! eu deixo ele e a insegurança me parar muitas vezes. tenho lutando contra isso há anos, já melhorei muito, mas sei que ás vezes rola uma recaída forte :(. achei muito massa essa sua conversa com a sua amiga sobre ser negra. é tão bom, mas tão raro encontrar pessoas dispostas a nos ouvir e entender, né? amei a reflexão!

    um beijão,
    GABS | likegabs.blogspot.com ❥

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    1. Oi, Gabs!
      Acho importante aprender a lidar com o medo. Nem sempre a gente consegue isso sozinha, então terapia ajuda bastante nessas horas.
      Procurar quem nos apoie também.

      Fico feliz que a reflexão tenha sido boa!

      Um beijo

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  5. Sei como funciona!

    juliamodelodemodelo.blogspot.com

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  6. Fê, que delicia te ler novamente...
    Tenho sentido falta de blogar e acho que voltei rs
    Estarei por aqui novamente
    beijão

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    1. YaaaaaaaaaaaaaaY!
      Sempre fico feliz quando as pessoas voltam a blogar. Lerei o seu blog! :D
      Bem-vinda de volta!

      Beijos

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  7. Hey Fê! Tudo bem?
    A Poesia é a coisa mais fofa desse mundo, espero que o problema dela seja logo resolvido.
    Quanto aos medos, é uma coisa complicada...
    Desculpe a demora em passar por aqui.
    Obrigada por comentar lá no blog.
    Volte sempre!

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    1. Concordo com você sobre a Popô ser a coisa mais fofa desse mundo! Eu vou fazer um post depois sobre o que ela tem, mas é um problema crônico. :/ O lance é gerenciar isso.

      Entendo a demora. A correria anda mta, né?

      Um beijo!

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  8. Eu amei esse texto, parece meu terapeuta falando. Parabens

    http://www.dosedeestrela.com.br/

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    1. Uhahahaha Acho que isso deve ser reflexo da minha terapia!

      Beijos :)

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