domingo, 6 de março de 2011

Carnaval, chuva e reflexão

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
(A banda - Chico Buarque)

Dias chuvosos são propícios a me fazerem refletir sobre quem eu sou e sobre quem eu quero ser. Ver a chuva caindo em seu ritmo - ora acelerado, ora calmo -, me faz querer entender como as coisas acontecem – ou deveriam acontecer, não sei ao certo – em minha vida, tanto no meu trabalho, com as minhas amizades, em minha relação familiar e, é claro, no meu íntimo (aquela partezinha oculta, que somente eu conheço).

Durante estas duas últimas semanas, estive trabalhando a frente daquilo que chamamos de “Formação Inicial” com os novos educadores que chegaram à nossa rede. A ideia desta formação é dar os subsídios básicos para que eles comecem a desenvolver o trabalho de forma menos traumática (digo assim, porque sei que é difícil formar educadores em apenas duas semanas). Ao longo das atividades, pude fazer muitas coisas e aprender muito. Um educador deve ser reflexivo... Essa formação me deu – mais uma vez – a chance de refletir sobre a minha prática. Há cuidados que eu não tinha antes, que levarei para o restante da minha vida como educadora. A questão levantada sabiamente pelo Reginaldo sempre me vem a minha mente (e caminhará comigo por um bom tempo ainda): Você é educador, ou você está como educador? Você é professor, ou você está professor?

Educadores durante a Formação Inicial
Ser professor é ser um tanto egocêntrico. O que importa se o que digo é absorvido, entendido, incorporado e utilizado pelo outro? Ser professor é uma linha de mão única, o conhecimento é deslocado para frente com um objetivo sem o principal foco: o da aprendizagem... Por outro lado, ser educador é ser compartilhador. Educadores querem – e se esforçam para que isso aconteça – que o outro não só aprenda o que lhe é ensinado, mas que também possa multiplicar o conhecimento que construiu. Ser educador não é fácil, porém é muito mais gratificante! É por isso que eu luto e é isso que quero para mim. E, a cada formação que fazemos, fico feliz por ver que há outras pessoas que desejam isso, que acreditam na educação como um dos principais caminhos para um mundo melhor.

Essa reflexão também surge nas aulas que faço no curso de Formação de Professores (Licenciatura). Vejo que muitas pessoas na minha turma caíram de paraquedas: algumas, com uma super força de vontade em conhecer e se aprofundar nas teorias educacionais para melhorarem suas práticas (estes têm tudo para serem excelentes educadores); outras, que estão ali por estarem (pobres das pessoas que tiverem esses colegas como professores)... Neste ponto, volto a mais uma das provocações que surgiram na formação inicial: um educador nunca desiste de seus educandos... Pois é, vejo as professoras Dinéia e Zenaide com toda a paciência do mundo para responder às perguntas mais sem noção que já ouvi sobre educação e as tenho como exemplo de como ser educadoras.

E por falar sobre ter/ser exemplos. Não tenho sido um bom modelo do que se considera uma boa amiga. Minha sinceridade às vezes é feroz em demasia. Muitas vezes machuco as pessoas ao meu redor sem querer... Lidar com isso é difícil não só para quem ouve o que penso, mas também para mim. Uma das minhas maiores brigas internas consiste justamente em como dizer o que penso sem magoar quem eu amo. Quem sabe um dia eu aprenda... De qualquer forma, ainda prefiro uma verdade que machuque a uma mentira que afague. Mesmo que isso faça com que me sinta uma péssima pessoa, prefiro ser ruim dizendo uma verdade a uma mentira e quero que as pessoas façam o mesmo comigo.

(É difícil brigar consigo mesmo. É difícil encontrar o equilíbrio. É difícil ser um bom amigo. É mais difícil ainda ser melhor amigo. O que é ser melhor? Como ser melhor? É complicado ter que fazer algo, ser algo, quando não se sabe exatamente como... Eu não sei. Aliás, “só sei que nada sei”.)

Esse tempo cinza me faz pensar em várias coisas sobre tudo o que vejo: o menino com síndrome de down, que abraça a irmã mais velha e diz que a ama, enquanto todos ao seu redor se comovem no metrô; a importância do trabalho em equipe que reergueu as escolas de samba que tudo perderam com as enchentes; a reportagem de tv que mostra um menino haitiano que participou de uma prova em que correu 6 km apenas porque sabia ao longo da corrida poderia beber água limpa e potável e que, ao final dela, ganharia um lanche composto por duas bananas... 

Como os seres humanos podem ser tão grandiosos e ao mesmo tempo tão mesquinhos? Enquanto algumas pessoas perdem tempo ao reclamarem de uma vida que é satisfatória (pode não ser milionária financeiramente, mas é rica em saúde, em disposição, em amor da família e dos amigos), outras vivem lutando para conquistar um espaço, para reconstruir um sonho, por água e por comida...

Pergunto-me o que posso fazer por aqueles que estão ao meu redor. Ainda que o Brasil só comece a funcionar depois do carnaval, não posso ficar à toa na vida. Até porque, sei não terei um amor para me chamar para ver a banda passar... Tenho que ir a luta, tenho que ser melhor! 

(Mesmo que eu não saiba exatamente como...)

Um comentário:

  1. Muito legal seu blog e otimo, e muito criativo, se depois vocês quiser olhar o meu blog e dar a sua opnião eu ficarei muito grato: http://derlandreflexivo.blogspot.com/

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Algumas Observações | Ano 17 | Textos por Fernanda Rodrigues. Tecnologia do Blogger.